"PCdoB tem nomes para disputar a Prefeitura de Alagoinhas", afirma Pedro Marcelino

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Pedro Marcelino, ex-vereador e ex-vice prefeito de Alagoinhas, por intermédio de e-mail, concedeu entrevista ao Alagoinhas Hoje na qual apresenta sua visão sobre o segundo mandato da presidente Dilma Rousseff, dos três meses da administração Rui Costa e dos dois governos do prefeito Paulo Cezar. Marcelino registrou o papel desempenhado pelo PCdoB nos níveis nacional, estadual e local. Ele afirmou que o partido tem nomes para disputar a Prefeitura de Alagoinhas em 2016.

AH: Parceiro histórico do PT, como o PCdoB avalia o atual momento político nacional?

PM: O momento é de muita turbulência. Temos uma situação inusitada. Uma presidente eleita com mais de 53 milhões de votos e uma oposição inconformada depois de quatro derrotas seguidas. Nosso partido defende três pontos básicos para o enfrentamento. Defesa do mandato constitucional da Dilma. Não pode haver ruptura. Não há base legal para o impedimento. É golpe. Em segundo lugar defendemos a Petrobras. Punam-se os corruptos, mas não se aproveitem disso para enfraquecer nossa maior empresa e justificar a sua privatização, como é a pretensão. Por último, defendemos uma Reforma Política avançada que proíba o financiamento de campanha por Sociedades Anônimas, base de toda essa corrupção que observamos.

AH: A presidente queimou as pontes que a ligavam aos movimentos sociais?

PM: Dilma , em certa medida, radicalizou mais que Lula na implementação de um Novo Projeto Nacional de Desenvolvimento, e isso a elite, mancomunada com a grande mídia, o imperialismo e o setor financeiro, não aceita. Agora, vejo problemas na articulação política do governo. Não é boa a interlocução com o Congresso, com o PT e com o PMDB, como não é boa a relação com aliados históricos. Há problemas ,sim, no diálogo com os Movimentos Sociais. Mas creio que isso pode e já está sendo corrigido. Há ministros experientes como Wagner e Aldo que estão jogando todo peso de suas influências em favor de um diálogo mais efetivo.

AH: O partido está satisfeito com a condução do governo federal?

PM: Sim! Pensamos o Brasil com visão estratégica. A criação do banco com os BRIC’s, os investimentos em infraestrutura, o marco legal do pré-sal, os investimentos em ciência e tecnologia, o Plano Nacional de Educação são questões que tiveram encaminhamento adequado e isso repercutirá positivamente em futuro próximo. Em meio a uma crise aguda do capital, mantivemos o emprego e a economia imune a receituários ortodoxos. Não é pouco.

AH: Como o partido avalia o governo Rui Costa?

PM:O momento é de ajuste. O governo fez uma Reforma Administrativa e o governador cuida para manter a saúde financeira do estado. Persegue a intersetorialidade como filosofia de governo. Ele passou 8 anos como o grande gerente dos projetos estratégicos do governo. Está preparado, conhece a máquina e o estado. Será um grande governador.

AH: Qual o cenário eleitoral que partido “desenha” para 2016 em Alagoinhas?

PM: Em primeiro lugar, é preciso lembrar que temos um Reforma Política em curso, que pode alterar as regras do jogo para 2016. Depois, o que defendemos é que, passemos por um processo de aprofundamento de análise da experiência vivida, nos últimos vinte anos. Alagoinhas mudou o perfil sócio econômico e a política não acompanhou. Não temos estado à altura do novo momento. Não há debate, pesquisas, ou a construção de um projeto coletivo para a cidade. O que tinha esgotou-se. Não se pode construir um novo momento em torno de nomes, mas de ideias e ideais. O momento é novo e os desafios, igualmente novos. Tem prevalecido a vaidade, infelizmente.

AH: O PCdoB pretende lançar candidatura própria à Prefeitura de Alagoinhas?

PM: O PCdoB tem nomes, entre seus quadros, capazes de cumprir essa missão. Mas quer examinar isso, junto com os possíveis aliados. É preciso critérios. Não basta apresentar nomes. É preciso verificar se esses têm experiência, já passaram por funções que o credenciem a uma tarefa tão complexa, se têm capacidade de articulação política, se agregam. É preciso saber se eles têm capacidade pra conduzir a cidade, se conhecem a história, captam sua essência, o modo de vida de nosso povo, seus códigos. Espero que sejamos ouvidos. Podemos apoiar um nome de qualquer legenda que tenha um nome melhor que os nossos. O problema será nos convencer.

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AH: As disputas internas do partido atrapalham ou não a estruturação de um projeto de poder?

PM: Todos os partidos e qualquer Organização tem seus problemas internos. Os nossos não são diferentes. Qualquer projeto de poder precisa de um núcleo articulador com unidade política e ideológica para ser vitorioso. Apesar dos problemas, não tem outra legenda com mais unidade do que a nossa. O problema é que nossas divergências foram muito exploradas na imprensa.

AH: Como o partido avalia o primeiro governo Paulo Cezar e os 27 meses de seu segundo mandato?

PM: Paulo foi muito sagaz, quando, tendo sido eleito por um partido de oposição, aliou-se ao governador Wagner, logo no primeiro mandato. Isso foi bom para os dois. Alagoinhas ganhou obras e o governo apoio político importante, num momento difícil. Paulo deu sorte. Pegou um bom momento da economia e a cidade recebeu importantes empreendimentos que geraram empregos. Ele acertou também em ter confiado a Renato Almeida a Secretaria da Fazenda. Aliás eu dei essa grande contribuição a cidade. Renato deu uma grande contribuição a minha plataforma quando fui candidato a prefeito e Paulo sacou isso. Seria o meu secretário de Fazenda se eu fosse eleito. É um dos melhores quadros, na Bahia, nessa área. Foi a sorte de Alagoinhas. Apesar disso o governo de Paulo deixou muitas lacunas.

AH: Quais os acertos de Paulo Cezar?

Acho que o maior acerto dele é reconhecer as próprias limitações. Isso é um grande mérito. Depois ele dialogou e governa sem mágoas, driblando as dificuldades que enfrentou. Acho que ele estabeleceu boas relações, ao seu estilo e tendo em conta seus objetivos, com a Câmara, com a imprensa, com os partidos, com as instituições e com as pessoas. Podemos ser seus adversários, mas temos que reconhecer essa capacidade.

AH: Quais os erros da administração municipal?

Acho que faltou um Plano de Governo consistente. Faltaram as marcas e a marca de governo. O Orçamento Participativo perdeu o caráter de quando foi concebido e não é mais um centro elaborador e deliberador das Políticas Públicas em Alagoinhas. Na transparência também deixou a desejar. Além do mais, deixou áreas importantes como Saneamento de fora das prioridades de governo.

AH: A “esquerda” tradicional terá capacidade de articulação para apresentar um projeto para Alagoinhas?

PM: Um Projeto para Alagoinhas é o centro da proposta que defendemos. Meu primeiro ato como vereador, no primeiro mandato, foi a realização do Seminário: “OS Rumos do Desenvolvimento de Alagoinhas”. Vamos realizar agora o seminário: “ Os Rumos do Desenvolvimento de Alagoinhas 2”

AH: Como enfrentar a suposta força eleitoral do prefeito na periferia da cidade?

PM: Nenhuma cidade é mais dividida, ou nunca foi, dividida entre Centro e Periferia. Ou pelo menos não deve ser. Esses dois mundos se relacionam, interagem, entrecruzam-se. A periferia trabalha no Centro, informa-se, influencia e é influenciada. A cidade é uma só. No momento em que a população identifica um projeto consistente, exequível, todos aderem. O povo é sábio. A inteligência coletiva é mais real do que parece.

AH: Todos vocês – PCdoB, PT e o grupo do prefeito – estão navegando no barco do governo estadual. Isso ajuda ou atrapalha em termos da disputa local?

PM: Isso é bom para o projeto como um todo. Nosso adversário preferencial será aquele patrocinado pelo campo conservador. Os aliados de ACM Neto. Em 2018 teremos um grande embate, portanto vencer 2016, posicionar as forças aliadas é fundamental para continuarmos impulsionando as mudanças no estado e na cidade.

AH: Qual o papel que as redes sociais terão na eleição para a Prefeitura de Alagoinhas?

PM: Elas terão um papel importante. O Alagoinhas Hoje é uma prova da força dos meios de comunicação eletrônicos. Já foram importantes nas últimas eleições e nas próximas ganharão importância ainda maior. Em que pese uma certa resistência do Internauta, a política apaixona as pessoas, todo mundo está conectado, não tem como fugir.

AH: O PCdoB se conformará em ser, mais uma vez, parceiro secundário do PT na disputa pela Prefeitura de Alagoinhas?

Se você analisar bem, nosso papel não foi tão secundário assim. Em 1992 fomos dos principais articuladores da candidatura de Iraci Gama, em 96, fui eleito vereador e o PT não elegeu ninguém. Em 2000, fui o mais votado da esquerda. Em 2004 compus a chapa com Joseildo e fomos vitoriosos. Fui candidato em 2008 e em 2012 tivemos Hugo Leonardo com vice na chapa.

Claro que a cidade toda acha que eu deveria ter sido o candidato apoiado por Joseildo em 2008. Quem sabe esse erro será corrigido em 2016?

AH: Como agregar segmentos sociais que não acreditam na política e menos ainda nos políticos?

PM: Com Educação Política, estimulando a participação, dando exemplos, fortalecendo os partidos, a legislação, legitimando a representatividade. Eu fui presidente de Grêmio com 16 anos, meu gosto pela política vem daí. Eles fazem muita falta como espaços de formação política da juventude.

AH: Qual o papel dos jovens no debate e na próxima disputa eleitoral?

PM: Será importante. Desde que garantimos o voto aos 16, a juventude tem protagonizado destacado papel na política. Nas eleições, ela participa, trazendo alegria, irreverência. Tem peso político e eleitoral.

AH: O partido está preocupado em renovar seus quadros políticos locais?

PM: Sim! Isso no PCdoB é um processo permanente em todo o Território Nacional. E não é só renovar no sentido da filiação. É formar, estimular a participação, torna-los quadros.

AH: Dizem que o PCdoB de Alagoinhas é um partido cartorial. Qual a avaliação sobre esta afirmativa?

PM: Um partido que nos últimos 25 anos saiu da clandestinidade, ajudou a fundar a União Municipal dos Estudantes Secundaristas, UMESA, apoiou as lutas do professorado por educação pública, gratuita e de qualidade, organizou, aqui a campanha das Diretas Já, apoiou as lutas sindicais de todas as categorias, denunciou o desmonte da ferrovia, a venda do BANEB, ajudou a fundar o FADES, estimulou a cultura, forjou jovens quadros que hoje são destaque nacional, ajudou a governar a cidade, dispondo seus quadros, teve dois importantes mandatos de vereador, a vice prefeitura, apoiou a UAMA, a UARA, a UNEB, a Pestalozzi, a luta dos Agentes Comunitários de Saúde é cartorial? O problema é que somos imediatistas e temos memória curta.

AH: Qual será o futuro do PCdoB em Alagoinhas?

PM: O PCdoB em toda parte tem um papel de vanguarda. Pelo seu caráter nacional, pela base ideológica baseada no marxismo, pela sua capacidade de atualizar a teoria e aplicá-la à realidade concreta dos nossos dias. Pelo seu compromisso com a luta dos trabalhadores, pelo domínio das questões urbanas, maior desafio de nosso tempo, centro da luta de classes. Em qualquer lugar, sempre haverá um lugar de destaque para o nosso partido

Maurílio Fontes

Proprietário, jornalista, diretor e responsável pelo Portal Alagoinhas Hoje

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