Bolsonaro não aceita discutir futuro político e adia discussão sobre oposição a Lula, dizem aliados

A derrota do presidente Jair Bolsonaro (PL), primeiro a não se reeleger na história recente do País, deve fazer com ele que se recolha por um tempo da política, em vez de assumir a liderança da oposição ao futuro governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A aposta no ostracismo decorre de declarações do próprio Bolsonaro, apesar do desempenho nas eleições. Passadas mais de 15 horas após o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) declarar oficialmente a vitória do petista, o presidente permanece em silêncio.

“Eu acho que ele vai se recolher. Ele sempre reclamou muito: ‘O que eu estou fazendo aqui? Poderia estar na minha chácara, pescando’”, lembra o deputado eleito Alberto Fraga (PL-DF), amigo de Bolsonaro há 40 anos, sobre os hábitos de pescar na região de Angra dos Reis (RJ), onde o presidente tem uma casa na Vila de Mambucaba. “Do jeito que ele não tem ligação com a mídia, quando deixar de ser presidente ninguém vai procurar Bolsonaro. Político sem mandato é abelha sem ferrão.”

Bolsonaro sempre se queixou da tarefa de presidir o País. Reclamava de falta de privacidade, de cansaço, de tempo para se distrair e chegou a dizer que não levava jeito para ser presidente. “Não tinha nada para estar aqui, nem levo jeito”, disse ele ao discursar em fórum de investimentos, em junho. “Nasci para ser militar, entrei na política por acaso.”

Às vésperas do primeiro turno, o presidente deu uma indicação de falta de expectativa para o futuro, ao falar a um podcast de influenciadores evangélicos. “Se for a vontade de Deus, eu continuo. Se não for, a gente passa aí a faixa e vou me recolher. Porque, com a minha idade, eu não tenho mais nada a fazer aqui na Terra. Se acabar essa minha passagem pela política, aqui. Obrigado a todos”, afirmou o presidente.

A expectativa de aliados e amigos de Bolsonaro é que ele não terá força para comandar o PL, seu partido atual. O acordo com Valdemar Costa Neto, presidente e mandachuva do partido, não prevê cargos para ele no comando da legenda. Além disso, apostam que parte substancial dos congressistas do Centrão vai compor com o governo Lula.

Como não terá um partido para si, Bolsonaro poderia retomar a tentativa de criar uma sigla de direita, como a fracassada Aliança pelo Brasil, mas aliados dizem que não há sinais de mobilização para isso. Tampouco veem o presidente à frente de um instituto que leve seu nome, como fizeram ex-presidentes.

Fora do poder, além de aposentadoria de militar e de deputado federal, o presidente tem direito a uma estrutura de 8 funcionários, incluída segurança pessoal para si e família, e mais dois veículos para deslocamento no País. Os custos dos servidores ligados ao Planalto são cobertos pela União.

Depois de condicionar o reconhecimento do resultado a “eleições limpas”, o presidente disse após o debate na TV Globo, na sexta-feira, dai 28, que “quem tiver mais votos leva”. Mesmo assim, ainda paira sobre o Palácio do Planalto o possível questionamento da derrota, a partir de parecer sobre a fiscalização realizada pelas Forças Armadas.

O entorno do presidente, de políticos a militares, aposta que haveria “convulsão social” com a derrota dele. Um dos mais íntimos auxiliares do presidente disse que o futuro político de Bolsonaro era tema vetado no comitê de campanha. Segundo ele, “não se falava sobre isso”, nem mesmo sobre quais seriam os potenciais herdeiros do bolsonarismo, porque evitavam pensar na hipótese de derrota.

Nas últimas semanas de campanha, a campanha do presidente tentou levantar suspeitas sobre pesquisas eleitorais e inserções de propaganda nas rádios, que segundo eles prejudicariam o presidente e favoreceriam Lula.

Para se reerguer politicamente, a estratégia do presidente seria apostar na presença consolidada nas redes, a maior do Brasil, nos 58,2 milhões de votos e o País rachado, além do crescimento da bancada ligada a si no Congresso.

Amigos do presidente consideram que Bolsonaro deverá enfrentar uma leva de processos judiciais sobre a gestão, que poderá condicionar sua capacidade de voltar a disputar eleições. Se sobrevier juridicamente a eles, pode retornar em 2026, desde que não haja outros nomes proeminentes na direita, como os governadores de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), e de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil).

“O que pode acontecer é que aconteceu com (o ex-presidente dos Estados Unidos Donald) Trump. Na próxima é ele quem vai disputar, a depender, evidentemente, se não tiver outros nomes, como Zema e Caiado”, aponta Fraga.

A aposta de políticos de direita que o ex-ministro Tarcísio Freiras, eleito governador em São Paulo pelo Republicanos, herde o parte do bolsonarismo, em vez dos filhos parlamentares, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP). Tarcísio, porém, procurou marcar diferenças de pensamento com o presidente ao longo da campanha e se afastar de extremismos.

 

Fonte: O Estado de São Paulo

Maurílio Fontes

Proprietário, jornalista, diretor e responsável pelo Portal Alagoinhas Hoje

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