SUS passa a oferecer profilaxia de exposição antes do contato com HIV

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Durante a divulgação dos resultados do último boletim Epidemiológico de HIV e Aids de 2016, por ocasião da passagem do Dia Mundial de Luta Contra a Aids, o ministro da Saúde, Ricardo Barros, anunciou que, em 2017, o Sistema Único de Saúde passará a oferecer a Profilaxia Pré-Exposição (PrEP), administrada antes da exposição ao HIV. A notícia interessa sobretudo para homens que fazem sexo com homens (HSH), travestis, mulheres transexuais com risco de adquirir a infecção, mulheres heterossexuais que não usam preservativos regularmente nas relações sexuais com parceiros que desconhecem se têm HIV e estão em alto risco de contrair HIV.

A oferta dessa forma de prevenção se soma às outras ações de chamada “prevenção combinada”, que oferece um cardápio de alternativas para conter os avanços da Aids na população brasileira. Hoje, quem chegar em qualquer posto de saúde vai encontrar a oferta de preservativos femininos e masculinos, além da Profilaxia Pós-Exposição (PEP), uma terapia antirretroviral de 28 dias para evitar a multiplicação do HIV no organismo de uma pessoa após a exposição ao vírus. A PrEP é uma estratégia de prevenção que envolve a utilização diária de um medicamento antirretroviral (ARV), por pessoas não infectadas, para reduzir o risco de aquisição do HIV atra vés de relações sexuais.

A chefe do setor de DSTs/Aids da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), Helena Lima, reconhece que quando o assunto é controle da Aids, muito ainda precisa ser feito numa capital como Salvador, mas reconhece que os avanços são consistentes. “Temos hoje 11 unidades de atendimento básico que realizam os testes rápidos de identificação do vírus e três serviços especializados: Semae, no bairro da Liberdade; São Francisco, no bairro Tororó; Marymar Novaes, na Av. Dendezeiro”, esclarece, destacando que o ambulatório do Hospital Edgar Santos (Hupes) é contratualizado pelo município. O estado da Bahia mantém em Salvador mais três serviços especializados: o Cedap, no bairro Garcia; ambulatório no Hospital Couto Maia e no Hospital Roberto Santos.

A representante da SMS lembra ainda que em Salvador, a Profilaxia Pós-Exposição(PEP) é feita no 12º Centro Alfredo Bureal, no Imbuí/ Marback; na UPA Hélio Machado, de Itapuã; na UPA Aldroaldo Albergaria, em Periperi;  UPA Valéria e  UPA Barris. “Como geralmente essas pessoas que precisam fazer a PEP passam por situações constrangedoras, elas têm atendimento prioritário e todos nesses postos são capacitados para possibilitar que o atendimento seja rápido”, completa.

Alento 
A notícia que a oferta da PrEP estará disponível na rede pública é um alento para famílias como a da empresária LB (nome preservado a pedido da entrevistada). Ela e o marido (que é portador da hemofilia) são sorodiscordantes, quando apenas um tem o HIV. Eles tiveram um filho e precisaram recorrer à lavagem de sêmen para evitar a contaminação da criança.

A especialista em reprodução humana e diretora médica do Instituto Valenciano de Infertilidade (IVI), Genevieve Coelho, esclarece que a lavagem de sêmen é a técnica de reprodução humana indicada para impedir a transmissão do HIV. “Como o vírus se encontra no plasma seminal e outras células, mas não nos próprios espermatozoides, é possível a partir da lavagem do sêmen e preparação adequada, fecundar o óvulo com um espermatozoide livre do HIV”, diz. Ela reforça que para possibilitar a gravidez sem vírus, é isolado o espermatozoide do plasma seminal e as outras células que poderiam ser portadoras do HIV. Após a separação e comprovação do sucesso do procedimento, a amostra passa por um período de quarentena para garantir que a lavagem de sêmen foi efetiva, através de uma nova avaliação da amostra antes de considerá-la apta para a fecundação.

O ginecologista e diretor do Centro de Medicina Reprodutiva (Cenafert), Joaquim Lopes, ressalta que para se submeter à técnica, o paciente precisa estar em tratamento e ter zero de carga viral. Outro critério importante é não ser vasectomizado em virtude da redução na quantidade de espermatozoides.  “A técnica ainda não é feita pelo Sistema Único de Saúde, mas muitos pacientes têm conseguido realizar o procedimento por meio de ações judiciais”, completa, ressaltando que o método é seguro.

Uma vez que o sêmen esteja livre da contaminação do vírus, o passo seguinte é a preparação para a fertilização in vitro (FIV). “A forma mais segura e eficaz de gravidez após a lavagem de sêmen é a FIV através da técnica conhecida como injeção intracitoplasmática de espermatozoide, onde um espermatozoide selecionado é introduzido diretamente no óvulo com a ajuda de uma pipeta, que é uma espécie de agulha minúscula”, explica Genevieve.

O infectologista Claudilson Bastos ressalta que ao longo da gestação, a mãe (se for soropositiva) permanece fazendo o tratamento e a criança – independente do estado clínico materno – recebe no momento do nascimento mais uma dose de medicação para garantir uma segurança maior. “É importante salientar que a lavagem do sêmen é mais segura para o paciente que é apenas portador do HIV e que não desenvolveu a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida”, esclarece o médico, destacando que para os casos de mães soropositivas, a amamentação não é recomendada pelo risco que representa. “É claro que, hoje, a situação é muito mais tranquila, no entanto, ainda exigirá dessas famílias investimento e cuidados especiais”, finaliza o infectologista.

Fonte: Correio 24h

Maurílio Fontes

Proprietário, jornalista, diretor e responsável pelo Portal Alagoinhas Hoje

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