Luta contra fome puxada por Betinho completa 30 anos e ganha livro

Se a luta contra a fome será apenas uma história a ser contada às próximas gerações, “Cidadania: A Fome das Fomes” (240 págs, Mórula Editorial) é narrador fiel desse registro histórico. O livro é inspirado na história de Betinho e relato vivo dos 30 anos da ONG Ação da Cidadania, fundada por ele em 1993.

A obra traz exemplos deixados pelo sociólogo, que naquele ano iniciou uma campanha civilizatória contra a fome no Brasil, que atingia 32 milhões de pessoas. E segue até 2023, quando o país chega a 15% de sua população sem ter o que comer.

“Estamos aqui para honrar o legado do Betinho e não precisar de mais 30 anos tendo como meta acabar com a fome no país”, disse Rodrigo “Kiko” Afonso, diretor-executivo da Ação da Cidadania, no lançamento do livro.

A noite de autógrafos, nesta terça-feira (26), reuniu centenas de pessoas no Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo. Apoiadores da causa, como Drauzio Varella e Geyze Diniz, empreendedoras sociais do campo, como Tatiana Monteiro de Barros (UniãoBR) e Simone Silotti (#FaçaUmBemIncrível), e integrantes de comitês de distribuição de alimentos.

Foi um momento de celebrar a memória do sociólogo e cobrar políticas públicas contra a insegurança alimentar.

“Lembro quando Betinho começou a campanha, fui seu contemporâneo”, contou Drauzio Varella ao público. “O Brasil foi ficando rico, as cidades aumentaram, mas a fome persiste, houve retrocesso. É uma vergonha nacional.”

Para Geyze Diniz, líder do Pacto contra a Fome, não faz sentido “um país com tanta abundância ter tantos passando fome”.

“Estamos juntos nesse pacto para chegar a 2030 com ninguém com fome e a 2040 com todos bem alimentados.”

O livro destaca a militância de Betinho em um saboroso relato. Passa pela luta contra a ditadura, a fuga para o Chile e a relação afetuosa com o irmão Henfil e vai até seus últimos dias, lutando contra a hemofilia, o HIV e a hepatite crônica, que o deixaram com 39 quilos.

Escrito por Ana Redig e Plínio Fraga, “Cidadania: A Fome das Fomes” tem depoimentos inéditos e memórias de seus dirigentes, funcionários e voluntários.

Enquanto Fraga retrata os últimos cinco anos —período em que o Brasil regressou ao Mapa da Fome da ONU e a ONG se mobilizou em torno da pandemia— Redig exalta grandes mobilizações dos outros 25 anos, entre elas o Natal sem Fome, considerada a maior campanha solidária de arrecadação de alimentos da América Latina.

“No primeiro Natal sem Fome, os empresários estavam céticos, só uma empresa doou. Meu pai ficou frustrado”, lembrou Daniel Souza, presidente do Conselho da Ação da Cidadania e filho de Betinho.

“Vendo hoje a quantidade de parceiros, estamos no caminho certo. Está aí, pai, o que você queria.”

A capa é assinada pelo artista plástico Vik Muniz e destaca o rosto de Betinho em um prato com arroz e feijão.

Nádia Rebouças, responsável pelas primeiras campanhas da ONG na década de 1990, assina a orelha do livro, que tem versões online em inglês e espanhol e conteúdos adicionais na internet.

Desde sua fundação, a Ação da Cidadania atendeu mais de 26 milhões de pessoas e distribuiu 55 milhões de quilos de alimentos por todo o Brasil. Na compra de cada exemplar, uma cesta básica será doada a quem precisa.

“Se o livro servir como guia de incidência política para o cidadão enfrentar os abismos sociais, já cumpriu sua missão”, resume Daniel Souza.

Maurílio Fontes

Proprietário, jornalista, diretor e responsável pelo Portal Alagoinhas Hoje

Menu de Topo