PSDB promete fazer oposição mais dura ao novo governo Dilma

Antes mesmo da primeira reunião da Executiva Nacional do PSDB pós-eleição os tucanos já haviam assimilado a mudança. Um partido que sempre adotou como mantra a ideia de que é contra a oposição do quanto pior melhor, resolveu elevar um pouco o tom. Os mais de 50 milhões de votos conquistados por Aécio Neves na disputa presidencial, mais do que respaldar servem como argumento para uma mudança do perfil de atuação. A oposição light que o PSDB já fez no passado, deve dar lugar para uma atuação mais enérgica.

Ao chegar ontem ao Congresso Nacional ovacionado por aliados, Aécio deu o tom, como um toque da corneta que convoca correligionários para o combate. O recado foi rapidamente compreendido. “Quando o governo olhar para a oposição, sugiro que não contabilize mais o número de cadeiras, de assentos, no Senado ou na Câmara. Olhe bem porque encontrará mais de 50 milhões de brasileiros que estarão vigilantes, cobrando atitudes desse governo, cobrando investigações em relação a denúncias de corrupção, cobrando a melhoria de nossos indicadores econômicos, nossos indicadores sociais. Somos hoje um grande exército a favor do Brasil e prontos para fazer a oposição que a opinião pública determinou que fizéssemos”, disse o senador mineiro.

Poucas horas depois, correligionários e aliados já adotavam o mesmo tom e deixavam claro que o segundo mandato de Dilma Rousseff terá de ser encarado de outra forma. Ruim para a presidente, que já tem de lidar com problemas em sua base, capitaneados por ninguém menos do que o principal aliado, o PMDB. O maior partido da aliança, que na Câmara sempre foi rebelde, deve cerrar fileiras com a oposição em algumas pautas e dar ainda mais força para o esforço tucano em espezinhar a gestão petista.

E os tucanos congressistas já sabem exatamente as duas linhas de atuação que deverão adotar daqui para frente. A primeira delas é um empenho especial na aprovação da nova CPI da Petrobrás. O PSDB vê muito potencial para expor o governo a constrangimentos cada vez que algum aliado for envolvido no escândalo. E nesse aspecto vale sagrar na própria carne. O PSDB acredita tanto poder minar a credibilidade do PT por meio da CPI da Petrobrás que promete, pelo menos em princípio, sangrar na própria carne, se necessário.

O partido deverá investir no discurso de que o suposto esquema de desvios da verbas da Petrobrás seria uma continuação do mensalão atribuído ao PT. O argumento já aparece nas falas dos tucanos. “Temos de ir fundo na questão da Petrobrás, que é o mensalão 2. No momento em que era julgado o mensalão, eles já organizaram outro. Se o que tem sido dito (nas delações dos acusados) for mesmo verdade, será o maior roubo praticado num país democrático”, afirma o deputado Jutahy Júnior (PSDB-BA).

Jutahy atribui a fala de Aécio ao resultado eleitoral apertado e ao sentimento anti-PT que floresceu durante a corrida presidencial. “A sociedade está indignada com o que acontece no Brasil. Há um sentimento anti-PT muito forte porque as pessoas veem no PT um governo que parece despreocupado com a questão ética, com o baixo crescimento econômico e com o controle inflacionário. E essa sociedade quer ser representada”, arrisca o deputado tucano.

Outra linha de ação que o PSDB promete fiscalizar com afinco diz respeito às promessas feitas por Dilma durante a campanha. Existe um certo ressentimento dos tucanos pela forma como Dilma abordou a questão do crescimento econômico, combate a inflação e taxa de desemprego. É como se Dilma tivesse vendido algo que ela própria não poderá entregar e acusado Aécio de fazer algo que ela terá de fazer. “Acho que temos de cumprir nosso papel de fiscalizar tudo aquilo que foi dito na campanha. A campanha é um contrato que se faz com a população, com o eleitor, portanto, temos de fazer isso”, declara o deputado Vaz de Lima (PSDB-SP).

Aliados
Não é somente entre os tucanos que existe um desejo de proatividade na tarefa de se opor a Dilma no segundo mandato. Sendo assim, o PSDB poderá contar com seus principais aliados nessa nova postura com relação ao governo. “Aqui na Câmara o DEM sempre teve essa postura mais contundente. Tendo em vista as circunstâncias políticas, uma eleição que dividiu o país, Aécio não foi eleito por muito pouco. Há nessa metade que votou nele um desejo de que tenhamos uma posição mais contundente”, diz o líder do DEM na Câmara dos Deputados, Mendonça Filho (PE). Ele inclusive voltou a criticar a presidente, a quem responsabiliza por um “estelionato eleitoral”, em função do mais recente aumento na taxa de juros. “Os discursos de Dilma durante os debates era um, mas tão logo venceu, abriu a caixinha de maldades”, discursou o líder do DEM.

O líder do PPS, deputado Rubens Bueno (PR), também vê nas urnas um recado para a oposição. Ao comentar a respeito da fala de Aécio, que propôs uma “oposição que a opinião pública determinou”, Bueno enxerga a necessidade de uma mudança de abordagem. “É a indignação nacional com o resultado das eleições. É uma cobrança para a oposição fazer oposição. Seja no campo econômico (promessas de campanha), seja das denúncias. Agora é enfrentar com a firmeza necessária para dar uma resposta ao povo”, declara o o líder do PPS.

 
Fonte: iG

 

Maurílio Fontes

Proprietário, jornalista, diretor e responsável pelo Portal Alagoinhas Hoje

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