Militares, empresários e entreguistas – Carlos Tautz

A historiografia e a imprensa hegemônicas costumam reduzir o golpe de 64 a uma quartelada de democratas contra uma suposta ameaça comunista. Essa também é a versão da elite militar. Mas, a tese do “perigo vermelho” esconde sob o véu verde oliva e imaculado a verdade que teima em escapar de arquivos secretos: a mais alta camada das forças armadas se fundiu com a nata do empresariado internacional para derrubar o presidente João Goulart e banquetear-se da ditadura. Foi um golpe de classe, empresarial-militar, muito mais orgânico e forte do que Jango pudesse supor ou desmontar com seu tão esperado quanto inexistente “dispositivo militar”.

Generais, almirantes e brigadeiros faziam parte de conselhos e diretorias de grupos econômicos sediados no Brasil, e também de multinacionais, assumindo seus interesses mais estratégicos, muito antes da derrubada de Goulart – como em 1981 denunciava o cientista político René Dreifuss no seminal “1964: a conquista do Estado”.

“(…) já em meados da década de 50 (…), a participação militar na empresa privada era uma realidade”, escreveu Dreifuss. “Alguns oficiais militares eram diretores importantes e acionistas de corporações privadas”: “general Riograndino Kruel e o general James Mason (Eletrônica Kruel SA), general Paulo Tasso de Resende (Moinhos Rio-grandenses Samrig SA – grupo Bunge&Born), Brigadeiro Eduardo Gomes (Kosmos Engenharia SA), general Joaquim Ribeiro Monteiro (Cia Carbonos Coloidais, CCC – grupo Wolney Attalla), general Edmundo Macedo Soares e Silva (Volkswagen, Mesbla SA, Banco Mercantil de São Paulo, Light SA, Mercedes Benz), general Euclides de Oliveira Figueiredo (Ind. Quím. e Farmacêuticas Schering SA – Schering Corporation e grupo Assis Chateubriand), general Moziul Moreira Lima (Máquinas Moreira SA) e almirante Álvaro Alberto da Motta e Silva (Rupturita SA Explosivos – Sociedade Financeira Portuguesa)”.

A lista de militares-empresários-entreguistas, porém, é mais longa. Em 1954, quando foi secretário geral do Conselho de Segurança nacional do presidente Café Filho, o general Juarez Távora militara por “tratamento preferencial aos EUA” em acordos envolvendo urânio e tório brasileiros e permitindo a americanos mapearem as reservas nacionais desse minérios e barrarem o desenvolvimento do País.

Quinze meses após ter passado a faixa ao também general-ditador João Figueiredo, o general-ditador Ernesto Geisel virou presidente da Norquisa e do conselho de administração da Copene, substituindo o marechal Ademar de Queiroz.

Golbery do Couto e Silva, notório conspirador no Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais, o Ipes, que recebia milhões da CIA para derrubar Jango, quando vestiu o pijama presidiu as seções brasileira e sulamericana da Dow Chemical (EUA), em espaçoso escritório de Brasília, onde continuava a fazer aquilo que sabia: conspiração, associado ao capital multinacional, como é da natureza da elite militar brasileira.

Carlos Tautz, jornalista e coordenador do Instituto Mais Democracia – Transparência e controle cidadão de governos e empresas

Fonte: Blog do Noblat

Maurílio Fontes

Proprietário, jornalista, diretor e responsável pelo Portal Alagoinhas Hoje

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