Efeitos atuais do golpe de 1º abril – Bruno Lima Rocha

No artigo anterior abordei o tema das identidades políticas e o tímido ressurgimento de uma nova direita formada por viúvas do Golpe de 1º de abril, retroalimentadas pelo pensamento reacionário que está de moda na internet brasileira.

Neste texto, observamos a mudança de papel e perfil das Forças Armadas (FFAA) brasileiras em duas dimensões. Uma, trata do fim do Poder Moderador, ou seja, o cessar da capacidade das casernas em intervir em assuntos da política brasileira, moderando o avanço de mobilizações sociais e a consequente redistribuição da sociedade de classes.

A segunda dimensão aborda a mudança do perfil castrense, onde a uniformidade e o espírito de corpo derivados da “herança maldita” da ditadura não seguem mais acompanhados de pretensões de poder nacional ou Brasil potência.

Na primeira dimensão, observa-se que o último momento histórico onde as FFAA tiveram peso político foi no pífio governo do arenista José Sarney. O oligarca maranhense tomou posse como vice sem que o presidente eleito no colégio eleitoral tivesse antes assumido.

A fragilidade política e o pacto transacional (apelidado de “transição”) fizeram deste mandato um período onde os altos mandos militares ainda tinham peso na contenção social.

A situação limite foi em novembro de 1988, quando da invasão da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), seguida do assassinato de três metalúrgicos pelas tropas do Exército auxiliadas pela PM fluminense. Desde então não se nota movimentação significativa por parte dos militares, embora ainda circulem fantasiosos discursos alarmistas.

Já a mudança de perfil implica na cumplicidade com os porões e a incapacidade de realizar sua atividade-fim. As FFAA brasileiras eram um caldeirão político desde o final do Estado Novo, sendo que após a vitória dos golpistas, mais de 4 mil militares foram punidos e afastados de suas carreiras. O expurgo levou à uniformidade de pensamento, mas o retorno aos quartéis ao final dos anos ’80 implicou no abandono da doutrina de segurança nacional e suas variáveis.

Nenhuma força reacionária é antiimperialista e é justamente esta a possível tensão internacional. Tanto a defesa da integridade da Amazônia Legal como das 200 milhas náuticas confrontam a projeção de poder da superpotência.

Ao bloquear a revisão da Lei de Anistia e a abertura dos arquivos, os militares reforçam o espírito de corpo, permanecendo mais atrelados à preservação da ordem social do que sua pretensão de defesa dos interesses do Estado brasileiro.

Bruno Lima Rocha é professor de ciência política e de relações internacionais.
(www.estrategiaeanalise.com.br blimarocha@gmail.com)

Fonte: Blog do Noblat

 

Maurílio Fontes

Proprietário, jornalista, diretor e responsável pelo Portal Alagoinhas Hoje

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