Lula amplia movimento para fechar alianças com centro-direita e tentar vencer no primeiro turno

A campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ampliou a busca por partidos tradicionalmente distantes do PT. Ao mesmo tempo que insiste na campanha pelo voto útil, na tentativa de encerrar a disputa no primeiro turno, Lula tem procurado adversários com o objetivo de selar acordos para uma possível segunda rodada da disputa. A equipe petista também tem conversado com parlamentares de partidos do Centrão, que hoje apoiam o presidente Jair Bolsonaro (PL).

A nota divulgada nesta quinta-feira, 22, pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) animou o comitê de Lula. Embora FHC não cite o nome do petista, ele condenou os ataques às instituições, dando um claro recado, nas entrelinhas, contra um segundo mandato para Bolsonaro. Em mais de uma ocasião, o chefe do Executivo chegou a dizer, sem apresentar provas, que se não ganhar no primeiro turno, com mais de 60% dos votos, a eleição estaria fraudada. Hoje, segundo as pesquisas de intenção de voto, Lula é o favorito.

O PSDB integra a coligação de apoio à senadora Simone Tebet, candidata do MDB. Os dois partidos, porém, estão divididos: abrigam alas que respaldam tanto Lula quanto Bolsonaro. Em nota, FHC recomendou que os eleitores “votem no dia 2 de outubro em quem tem compromisso com o combate à pobreza e à desigualdade, defende direitos iguais para todos independentemente da raça, gênero e orientação sexual, se orgulha da diversidade cultural da nação brasileira, valoriza a educação e a ciência e está empenhado na preservação do nosso patrimônio ambiental, no fortalecimento das nossas instituições que asseguram nossas liberdades e no restabelecimento do papel histórico do Brasil no cenário internacional”.

O texto foi interpretado no meio político como uma declaração velada de apoio a Lula, embora sem mencionar o nome dele em respeito à candidatura de Simone. No ano passado, FHC já havia se reunido com o petista em almoço promovido pelo ex-ministro Nelson Jobim, em São Paulo.

“A expectativa maior, sobretudo do PT, é de que algumas lideranças se manifestem eventualmente a favor do Lula já no primeiro turno. Eu não vejo nenhum sinal expressivo e forte de que isso vá acontecer no momento”, disse ao Estadão o ex-presidente do PSDB José Aníbal. O tucano, que foi procurado no ano passado pelo petista José Dirceu para que apoiasse Lula, disse estar com a candidatura de Simone, que tem a senadora Mara Gabrilli (PSDB) como vice. Questionado sobre um eventual segundo turno entre Lula e Bolsonaro (PL), Aníbal respondeu que considera o atual presidente pior.

“O ambiente para eles (PT) não está ruim, mas, se não tomarem juízo, vão acabar se dando mal”. O tucano criticou o discurso de “herança maldita” adotado pelos governos do PT em relação a FHC, mas avaliou como positiva a busca por uma aproximação entre os dois ex-presidentes. “Esses petistas todos sabem que a herança que ele (Fernando Henrique) deixou para Lula foi muito bendita”, argumentou.

Apesar das articulações para ganhar a eleição no dia 2 de outubro, aliados de Lula admitem que o confronto com o Bolsonaro pode se arrastar para uma nova fase, considerada preocupante pelo comando da campanha petista. A avaliação é de que, caso isso ocorra, será necessário reunir o maior número possível de forças políticas para evitar que o acirramento da disputa termine em violência nas ruas e novas ameaças ao sistema eleitoral.

“Trabalhamos para vencer no primeiro turno. Caso tenha segundo turno, vamos atrás de todos do campo democrático. Todos os anti-Bolsonaro”, disse o ex-governador e candidato ao Senado pelo Piauí Wellington Dias (PT), um dos coordenadores da campanha de Lula. O movimento inclui expoentes do Centrão.

Hoje, o ex-presidente tem apoio declarado de uma parte do PP, principal sigla do Centrão. Embora o bloco seja aliado de Bolsonaro, os deputados Eduardo da Fonte (PE) e Neri Geller (MT), do PP, além de Silvio Costa Filho (PE), do Republicanos, já se posicionaram a favor de Lula.

De qualquer forma, mesmo tendo o ex-tucano Geraldo Alckmin, hoje no PSB, como candidato a vice-presidente, a coligação de Lula reúne apenas legendas de esquerda e uma parcela de siglas sem identidade ideológica definida, como Solidariedade, Avante e PROS.

O cenário de divisão em partidos como PSDB e MDB, que reúnem alas pró-Lula e pró-Bolsonaro, pesam contra uma aliança formal com o petista, mesmo em um segundo turno. Lula, porém, tenta obter o maior número possível de apoio de políticos influentes nos dois partidos e também em outras siglas. Recentemente, ele obteve o aval do ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles, hoje filiado ao União Brasil, e da ex-titular do Meio Ambiente Marina Silva, que até agora resistia a declarar voto a Lula por divergências com o PT e com a ex-presidente Dilma Rousseff.

Dilma e uma ala do PT, por sua vez, não querem acordo com o ex-presidente Michel Temer. Ele tem uma relação desgastada com o comando do partido desde quando assumiu a Presidência, em 2016, com o impeachment de Dilma. Publicamente, ele apoia Simone para o Palácio do Planalto.

Lula ignora esses “senões” contra Temer, tanto que mais de uma vez chegou a enviar Alckmin e outros emissários para marcar um encontro com Temer. O emedebista disse a aliados, porém, que as críticas de Dilma – para quem ele é “golpista”– e de setores do PT atrapalham o diálogo. Interlocutores de Temer disseram ao Estadão, sob reserva, que Bolsonaro faz mais gestos de reconhecimento do que Lula.

O ex-chanceler Aloysio Nunes (PSDB-SP) vê como injustas as críticas a Temer. “O PT patrocinou várias tentativas de impeachment contra Fernando Henrique. Golpistas frustrados? Lula apoiou a destituição do Collor. Golpista? Esse tipo de acerto de contas não ajuda na construção da frente democrática, sob liderança de Lula e Alckmin, necessária para derrotar a extrema direita, se possível já no primeiro turno”, afirmou ele ao Estadão.

Aloysio foi líder do governo Temer no Senado, ministro das Relações Exteriores em sua gestão e o primeiro tucano a declarar apoio a Lula. Nos últimos dias, o petista também ganhou o aval do ex-ministro da Justiça José Gregori (PSDB) e dos juristas Miguel Reale Jr. – autor do pedido de impeachment que resultou na cassação de Dilma – e José Carlos Dias.

O senador José Serra (PSDB-SP) afirmou, porém, que não apoia Lula na primeira fase da disputa e disse estar com Simone. “Olha o PT sendo PT, pensa que democracia vale só se for para ser deles”, reclamou Serra em recente entrevista à CNN. Na avaliação de Aloysio, porém, uma disputa entre Lula e Bolsonaro fará com que tucanos hoje em silêncio passem a ter uma postura de apoio ao ex-presidente. “Você vai ter no centro da disputa a questão democrática. É um tema muito caro ao PSDB e aos eleitores do PSDB”, disse.

O candidato do PT tem apelado para o “voto útil”. A campanha conta com o apoio de artistas e pede para que eleitores de Simone e de Ciro Gomes (PDT) mudem o voto e embarquem na candidatura de Lula, para que ele possa vencer no primeiro turno. O argumento usado é o de que Ciro e Simone não têm mais chances de ganhar e só assim a democracia pode superar o “fascismo”. Os dois candidatos reagiram com veemência contra essas articulações.

Em outra frente, a campanha de Lula também faz novas investidas para atrair o ex-prefeito Gilberto Kassab, presidente do PSD. Em conversas reservadas, Kassab disse que apoiará Lula contra Bolsonaro em eventual segundo turno. Nesse momento, no entanto, o partido adotou posição de neutralidade porque tem alas que aderiram tanto ao ex-presidente quanto a Bolsonaro. Em São Paulo, por exemplo, o PSD de Kassab tem o vice na chapa de Tarcísio de Freitas (Republicanos), candidato de Bolsonaro ao governo paulista e hoje o principal adversário de Fernando Haddad (PT).

Maurílio Fontes

Proprietário, jornalista, diretor e responsável pelo Portal Alagoinhas Hoje

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