Indignado, radialista critica práticas de colegas de profissão

Olá, Haroldo.
Incentivado pela discussão no Primeira Mão de ontem (14), gostaria de tecer algumas considerações como radialista, profissão que abracei em 1961 e da qual não pretendo me afastar até os fins da minha vida, apesar das portas fechadas atualmente.
Primeiro, me permito discordar de Maurilio Fontes, grande profissional da imprensa baiana e amigo indispensável, que declarou que os profissionais de rádio  nada podem fazer porque o comando pertence aos “donos do microfone”.
Na  realidade, Haroldo, microfone não tem dono.
Maurilio deve ter confundido o rádio, meio de comunicação de massa, com a imprensa escrita, restrita às pessoas mais beneficiadas pela educação tímida que o país oferece à sua população.
Emissora de rádio não tem dono, nem emissora de televisão.
Nem todo mundo tem acesso aos jornais, mas o rádio é ouvido nos mais longínquos lares, pela penetração das suas ondas hertzianas e pela facilidade da sua propagação em modestos aparelhos alimentados por pequenas baterias.
Rádio e televisão são concessões do Governo Federal.
São instrumentos de manifestação de um país democrático, de  uma população,  da verdade dos fatos porque noticia é notícia,  não tem lado, nem coloração, nem religião,  e  da manutenção dos poderes constituídos que também, não tem donos.
Infelizmente em Alagoinhas, empresários da comunicação e comunicadores não conhecem a força e a magnitude do rádio e da  publicidade.
Para se ter uma ideia, a Rede Globo faturou no ano passado a modesta bagatela de 14,4 milhões de reais e mantém profissionais da estirpe de Faustão (5 milhões mensais), Jô Soares (3 milhões mensais, na madrugada). dezenas de  comunicadores que beiram salários de 1 milhão mensais, além de um jornalismo que envolve mais de 1.000 profissionais e artistas que mantém o alto nível das novelas e miniséries
Publicidade tem poder, menos em Alagoinhas.
Alguns dos nossos comunicadores estão vinculados aos políticos da região, seja por uma gorjeta ultrajante, seja por modestos cargos públicos, ou qualquer “benefício” que “mata de vergonha ou vicia o cidadão”, como dizia o saudoso Luís Gonzaga.
Com relação à nossa AM, cuja história tem em José da Silva Azi, grande político local, prefeito, deputado e vereador,  um dos seus principais personagens, me permita lamentar a sua situação atual, em pleno processo de desenvolvimento de Alagoinhas.
– Não tem programação. Quando menos se espera, entra a Jovem Pan, no meio de um programa, de um anúncio ou de uma notícia e às vezes, é cortada da mesma forma.
– Não tem horário. Você chega ao cúmulo de dizer no Primeira Mão que não é “navio inglês”. sem levar em conta que todo programa de rádio no país, até mesmo de Alto Falantes, tem hora de começar e terminar, até por compromissos comerciais. Até mesmo as transmissões esportivas tem horário de começar e encerrar, salvo algum fato extraordinário no seu final.
– Não tem o  locutor “voz padrão”. Os comerciais são gravados por qualquer um.
Como exemplo.  cito o  `Primeiro Mão,  cujos comerciais são gravados por você mesmo. Nenhum dos comunicadores gravam comerciais, é só observar.
Como exemplo, nos meus 50 anos de rádio, até 2011, nunca gravei um comercial para os meus programas, a exemplo de  Varela, Bocão, Mariane, Adelson Carvalho,   Ailton Borges.e todos que conhecemos.
– Não tem comentaristas técnicos e abalizados. Um reduzido grupo de ouvintes assume o poder de comentar sobre qualquer assunto, até dos mais científicos, alguns contaminados pelo vírus da posição política ou dos interesses particulares
– Veicula  programas evangélicos no período considerado “horário nobre” do rádio, entre 6 às 19 horas, situação que afeta a audiência da emissora.
Para que se tenha uma ideia, a Rádio Sociedade da Bahia não apresenta programas da Igreja Universal antes das 23 horas e até a Oração do Trabalhador, apresentada por Edir Macedo às 18 horas foi extinta.
– Os programas não são produzidos ou pautados, pelo menos, ensejando muitos erros de linguagem e de análise por os assuntos são comentados sem qualquer preparação e, na maioria das vezes, por ouvintes contumazes, sempre os mesmos, que norteiam seus “comentários” em oposições político-partidárias ou   interesses classistas, corporativos  e até eleitorais, no momento,   em desacordo com  as leis específicas.
– O linguajar utilizado foge aos mais elementares princípios do rádio, principalmente o uso do “doutor” que, em Alagoinhas, está virando nome, superando João, José ou Manoel.
Doutor é tratamento, reverência, citação. Só em Alagoinhas, doutor é nome.
Até radialista é doutor em Alagoinhas.
Se o ministro Joaquim Barbosa, viesse morar em Alagoinhas, receberia logo um apelido: Doutor Joaquim.
Enfim Haroldo, há muita coisa no rádio de Alagoinhas que vai ter que mudar um dia até por força do tempo.
Esperava que você fosse a pessoa que iria contribuir para essa transformação, mas infelizmente isso não aconteceu..
Feira de Santana passou por isso, mas dos anos 70 para cá mudou,
Hoje temos um rádio feirense forte, profissional e com comunicadores que faturam R$ 60 mil mensais como o Dilton Coutinho das 6 às 9 da manhã.
A Rádio Sociedade de Feira vem cobrindo as Copas do Mundo quando  a gente não consegue cobrir o campeonato baiano da segunda divisão..
Um dia a gente chega lá  e espero fazer parte desse momento, como profissional.
Estou à sua disposição para debater a situação do nosso meio radiofônico, fora do microfone,  claro, afinal só o resultado das nossas discussões interessa aos ouvintes.
Estou enviando cópia  deste e-mail para Barretinho Goes e Maurilio Fontes.
Grande abraço,
Belmiro Deusdete

Maurílio Fontes

Proprietário, jornalista, diretor e responsável pelo Portal Alagoinhas Hoje

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