Gigante de cosmético garimpa a Amazônia e oferece inclusão digital a ribeirinhos

Quinze comunidades ribeirinhas dos Estados de Mato Grosso, Acre, Pará e Amazonas receberão 200 computadores nos próximos dias para que se insiram no ambiente digital. Muitas delas têm uma rede wi-fi ou os moradores utilizam modem portátil para acessar a internet. A primeira a receber nove computadores foi a de Cotijuba, comunidade que tem cerca de 3 mil moradores e pertence ao distrito de Outeiro, na região das ilhas de Belém, a cerca de uma hora e meia de barco da capital paraense.

Ilha de Cotijuba é rica em ativo com propriedade hidratante
Maíra Teixeira/iG

Ilha de Cotijuba é rica em ativo com propriedade hidratante

“Tínhamos uma sala com aulas de informática regulares, mas um raio queimou todos no começo do ano e ficamos sem aulas”, conta Delson de Jesus da Conceição, monitor voluntário das aulas, que ocorrem na comunidade envolvida pelo Movimento das Mulheres das Ilhas de Belém (MMIB) – entidade que atua em Cotijuba há 18 anos, desde 2002 em parceria com a Natura, empresa que articulou na sua cadeia o engajamento da TAM Cargo, que está transportando os computadores para as localidades.

As comunidades receberão a doação dos equipamentos até o fim de junho e serão utilizadas em salas e escolas de informática, escolas técnicas rurais e laboratórios de uso coletivo. Os computadores foram utilizados por funcionários da Natura por dois anos e passaram por uma revisão geral para, então, serem doados.

Neliane Duarte, outra monitora do Centro de Inclusão Digital do MMIB, diz que as novas turmas para aulas de informática começam em agosto. “Teremos aulas três vezes por semana, quatro vezes ao dia. As turmas já estão cheias. Sabemos como é importante saber usar o computador. Ninguém recebe currículo mais, só por e-mail.” Cerca de 300 alunos já passaram pelo curso da entidade.

Neliane conta que na ilha há wi-fi, mas que o sinal de internet depende dos modens que ela e Delson levam às aulas. “Mas não focamos apenas na internet, apesar de ser importante. Nossos cursos capacitam as pessoas para conhecerem o pacote office e conseguirem apresentar ideias em vídeos, em formato de apresentação.”

Cotijuva abrigou primeiro presídio

Cotijuba, na língua indígena local, significa cotia do pelo amarelo, animal comum na localidade. Ao chegar à ilha, o visitante vê uma ilha harmonizada em sua estrutura simples, encravada na exuberante Amazônia paraense e moldada pelas ruínas do primeiro presídio paraense (1955).

O interesse da Natura no local é a fonte de espécies incontáveis da biodiversidade do bioma. Ao lado de ativos como a priprioca e o muru muru, a novidade descoberta pela gigante de cosméticos brasileira é a semente de ucúuba, rica em uma espécie de manteiga de alta hidratação, mas toque leve, o que evita a sensação de melado.

Há três anos, a Natura desenvolve um processo de articulação local, com capacitação sob ótica biológica, feita em parceria com a Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).

“A busca pelo manejo sustentável na região é o nosso objetivo. Queremos a floresta de pé, isso dá longevidade a nossa relação com as comunidades, com o nosso modo de produção, com nosso consumidor. Trabalhamos em simbiose para articular os recursos, as pessoas e nosso negócio”, define Renata Puchala, gerente de Sustentabilidade do Programa Amazônia (Natura).

A colheita da ucúuba é feita no inverno paraense (de dezembro a fevereiro). “Apenas 50% dos frutos são colhidos porque a árvore precisa dos nutrientes que não são colhidos e caem no solo. Aprendemos esse manejo com a UFSCar e a Natura”, conta Delson.

A espécie está em iminência de extinção, pois a maior parte da ucúuba era cortada por madeireiros, que vendem uma árvore de 10, 15 anos para fazer cabo de vassoura e cabide.

“Agora, a comunidade tenta convencer os madeireiros, que comercializam uma árvore de 20 metros por R$ 15, a não desmatar em porque são nossa fonte de renda e porque preservados a espécie. Vendemos um saco da semente [de 20 quilos] por R$ 34. Sem desmatar e com possibilidade de colheitas anuais”, explica Delson, que ajuda na administração da colheita e venda da matéria-prima para Natura. O nome ucúuba significa árvore de manteiga na língua indígena.

Fonte: iG

Maurílio Fontes

Proprietário, jornalista, diretor e responsável pelo Portal Alagoinhas Hoje

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