Epidemia de desgoverno Bolsonaro já infecta 2023 – Vinicius Torres Freire

Qualquer presidente que venha a tomar posse em janeiro de 2023 herdará um país destroçado por Jair Bolsonaro. No que diz respeito a governo, política e economia, o estrago vai aumentar.

Bolsonaro e seus cúmplices no Congresso criam o hábito de mudar a Constituição como se mexe em portarias. Assim o fazem para estourar a dívida pública com medidas economicamente irracionais, que de resto beneficiam ricos. O apodrecimento institucional, mais que miséria imediata, vai causar danos duradouros, de difícil conserto.

Essa gente já provocou aumento de inflação que foi além da carestia importada do resto do mundo ou da derivada de azares (seca, por exemplo). Os planos recentes vão provocar mais inflação, com a decorrente alta de juros.

Por causa de ignorância, falta de rumo administrativo, incompetência política e do risco de impeachment, Bolsonaro se compraz em ser dominado por um Congresso dos mais negocistas. Juntos, estão dispostos a aprovar qualquer demagogia atroz ou encaminhar o que resta de dinheiro não carimbado do Orçamento para currais eleitorais.

Bolsonaro e turma querem diminuir impostos sobre combustíveis, eletricidade, produtos da indústria e parte do setor de serviços, pelo que se soube em poucos dias de fevereiro. Querem também um Bolsa Caminhoneiro, subsidiar transporte urbano e pagar o botijão de gás dos mais pobres.

O governo federal já gasta mais do que arrecada, tem déficit primário (que não considera a despesa com juros). Baixando impostos, terá de tomar mais dinheiro emprestado. Em vez de pagar contas com tributos, vai pagar com dívida, que rende juros para os mais ricos, entre outros danos.

Uma vez que se baixem impostos, é difícil voltar a cobrá-los. Os favores de agora, se aprovados, vão tirar dinheiro do próximo governo também. Por falar nisso, note-se que não há verba prevista para pagar o Auxílio Brasil a partir de 2023.

A Constituição se torna um papelucho descartável. Emendas picaretas derrubaram o sacrossanto teto de gastos. Agora, podem servir para a farra tributária. As “regras fiscais” (proibição de gastar além do teto, de fazer dívida assim e assado, de ter tal déficit) já não valiam grande coisa, pois rígidas ou moles demais. A ideia de que possam ser varridas com canetadas mensais na Constituição as desmoraliza de vez.

Sem regras, com histórico fiscal ruim e dívida alta, pagaremos mais juros para financiar déficits. Além do mais, o real continuará a valer quase nada ou menos ainda, o que dá em inflação e pobreza.

Os truques para reduzir preços podem não dar em nada. O desconto de impostos pode ser apropriado por empresas antes que cheguem em lojas e postos de combustíveis, entre outros problemas.

A maior parte dos descontos é “horizontal”, vale para todo mundo. Logo, vai se fazer dívida, pagar mais juros etc. para, talvez, reduzir preços também para ricos.

 

Fonte: Folha de São Paulo

Maurílio Fontes

Proprietário, jornalista, diretor e responsável pelo Portal Alagoinhas Hoje

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