Dívida faz mal à saúde e pode causar até depressão

No dia em que o microempresário notou um zumbido insistente no ouvido a caminho do banco para tentar negociar parte de uma dívida de R$ 40 mil, decidiu procurar um médico.

“Achei que fosse o motor do ônibus em que estava. Desde então, o barulho não sai da minha cabeça.”

O empresário, que não quis ser identificado, ficou surpreso com o diagnóstico: estresse causado pelos débitos aparentemente sem solução.

Casos assim são mais comuns do que se imagina e tendem a aumentar em cenário de preocupação com inflação e desemprego.

No ambulatório do Hospital das Clínicas, em São Paulo, a psicóloga Tatiana Filomensky, coordenadora do grupo de compradores compulsivos, afirma que, hoje, três novas pessoas procuram o consultório por semana com queixas de ansiedade, angústia e depressão relacionadas a problemas financeiros.

Nos últimos cinco anos, afirma, o número de atendimentos mais que dobrou.

“Quase todos os meus pacientes estão com dívidas que não conseguem pagar, e a consequência é o impacto na vida pessoal.”

Entre os efeitos comuns, estão brigas em casa, separações, descontrole emocional e problemas no trabalho.

“Com o estímulo ao consumo e a oferta de crédito dos últimos anos, o cenário se tornou propício ao endividamento, sem que houvesse uma educação financeira da população”, diz Hermano Tavares, professor do Departamento de Psiquiatria da USP.

O consultor financeiro Mauro Calil diz que os mecanismos de cobrança também estão mais pesados: ligações no trabalho e em casa diariamente, e-mails e mensagens no celular, além do antigo hábito dos cobradores na porta. “E parcelas de dívidas que até poderiam ser pequenas ficaram mais pesadas pela inflação e pelo desemprego.”

Para Hermano, da USP, as pessoas que desenvolvem problemas de saúde estão “em uma situação-limite”.

Fonte: Folha de São Paulo

 

Maurílio Fontes

Proprietário, jornalista, diretor e responsável pelo Portal Alagoinhas Hoje

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