Direcionamentos para o futuro das áreas urbanas – Claudio Bernardes

Os gestores de cidades em todo o mundo estão preocupados em lidar com os efeitos econômicos e ambientais oriundos da expansão urbana, com os impactos criados por déficits fiscais, mobilidade deficiente, insegurança, desigualdades sociais e segregação racial.

As cidades precisam enfrentar esses e outros problemas de forma eficiente e organizada, efetuando os direcionamentos apropriados, e adotando as políticas de desenvolvimento urbano, focadas num futuro melhor para seus habitantes.

Talvez, o início desse processo deva se dar a partir da adoção do conceito de cidade de 15 minutos de forma definitiva.

Desenvolvido inicialmente para reduzir as emissões de carbono, diminuindo o uso de carros e o tempo de deslocamento motorizado, incentivando as caminhadas e o transporte ciclo ativo, tornou-se um modelo de planejamento urbano descentralizado, no qual em cada bairro existem todos os elementos sociais básicos e funções para viver e trabalhar, transformando-os em “células urbanas”, cujo objetivo é melhorar a qualidade de vida das pessoas.

As cidades devem direcionar seu desenvolvimento para modelos que combatam desigualdades por meio do acesso a habitação digna, infraestrutura, isonomia de direitos, empregos e oportunidades. De nada adianta uma cidade ser sustentável, resiliente e competitiva, se ela não for inclusiva. O espaço público é utilizado pelos moradores de forma diferente, e as diferenças devem ser levadas em consideração no planejamento de uma cidade. A inclusão deve ser um pilar fundamental do crescimento urbano, operada em suas três dimensões: espacial, social e econômica.

As cidades devem ser planejadas e projetadas para gerar resultados sociais e econômicos para todos. O planejamento inclusivo pode significar construir centros urbanos que ofereçam segurança por meio de espaços seguros para todos, em especial pessoas com dificuldades de mobilidade. Tanto a tecnologia quanto a participação democrática são fatores necessários para acelerar os mecanismos de inclusão social.

A digitalização permite que os governos facilitem o acesso a uma série de serviços públicos, e melhorem o ambiente de negócios, o que gera oportunidades. Possibilita a análise mais acurada de lacunas sociais, a educação em massa, e a coleta de dados em tempo real, facilitando as ações preditivas e proativas em benefício dos cidadãos.

Além da tecnologia, a participação democrática é um segundo catalisador para a inclusão social. Trazendo diversidade como subsídio fundamental para o processo de planejamento, é possível evitar modelos que gerem desigualdades, e criar cidades inclusivas, centradas na equidade por princípio.

As cidades que adotarem padrões de desenvolvimento baseados em economia circular, estruturada em princípios de partilha, reutilização e restauração, com ênfase na limitação dos volumes de resíduos municipais e na produção local, por exemplo, a agricultura urbana, estarão à frente na construção de um futuro melhor.

Uma cidade que vive em uma economia circular promove um melhor aproveitamento recursos, consome menos, reutiliza e recicla água, energia, produtos e materiais; estimula uma economia de reparos, e alimenta uma mentalidade de partilha (viagens de carro, espaços e materiais). Estimula, portanto, uma abordagem inovadora de como a cidade e seus cidadãos consomem, armazenam e usam recursos.

Na busca por um futuro sustentável, as cidades devem regenerar seus edifícios. Muitos deles são energeticamente ineficientes e contribuem fortemente para as emissões de carbono. A infraestrutura inteligente e eficiente deve evoluir com foco primordial nas pessoas. Isso vai ajudar os gestores das cidades a implementar um conceito de bem-estar mais holístico, e dessa forma contribuir para melhorar a qualidade de vida.

A direção para um futuro melhor nas áreas urbanas está delineada. Os instrumentos e as ferramentas para implementá-la estão disponíveis, assim como as informações. Resta aos dirigentes públicos tomarem firmes decisões político-estratégicas, que possibilitem às cidades trilharem esse caminho com eficiência e êxito.

 

Claudio Bernardes é engenheiro civil e vice-presidente do Secovi-SP

 

Fonte: Folha de São Paulo

Maurílio Fontes

Proprietário, jornalista, diretor e responsável pelo Portal Alagoinhas Hoje

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