Crescimento do populismo deve causar redução da riqueza global, diz CEO da Roland Berger

O CEO da consultoria alemã Roland Berger, Marcus Barret, vê um cenário mais difícil para a economia global. Com a eleição da direita radical na Itália, o executivo avalia que um ambiente de populismo político crescente em diversos países tem potencial para provocar uma queda na riqueza global. Se confirmado, esse cenário marcará uma mudança importante. A globalização, diz Barret, foi benéfica aos mais pobres e à classe média.

“Os países estão procurando saídas sozinhos, e isso vai resultar na redução da riqueza global. Nós vimos, nas últimas três décadas, uma globalização que beneficiou os mais pobres e a classe média – muitas pessoas conseguiram escapar da pobreza”, afirma o executivo.

Barret prevê também que o aumento das tensões geopolíticas, com possíveis impactos nas cadeias de produção, afetará a forma de atuação das companhias globais. “Nos próximos cinco, dez anos, as empresas terão de se acostumar a ser mais resilientes, estáveis e flexíveis.”

Com a alta de juros, a economia global parece caminhar para um cenário de recessão. Como o sr. avalia esse cenário?

Nós podemos esperar que a demanda global continue a cair nos próximos meses, principalmente guiada pelas ações dos bancos centrais. Os BCs não têm outra escolha, e não há uma saída suave dado que a inflação está em toda a Europa, que está caminhando para uma recessão. Na terça-feira, o Banco Mundial também já publicou que a China, pela primeira vez desde 1990, vai ter uma taxa de crescimento menor quando comparado com outros países da Ásia.

São várias crises globais se sobrepondo nos últimos anos…

Nós tivemos o aquecimento global, a pandemia, e, como resultado da pandemia, a interrupção da cadeia de suprimentos. Em paralelo, a pressão social está aumentando, e estamos lidando com muito mais questões geopolíticas. É difícil imaginar politicamente o que vai acontecer no mundo, não apenas na Itália, por exemplo. Há alguns meses, a França conseguiu lidar de forma correta com o populismo (em abril Marine Le Pen, de extrema direita, foi derrotada na disputa presidencial).

Esse populismo tem muito a ver com as pessoas desapontadas, em como a situação foi endereçada pelos políticos nos últimos anos. A linha desse populismo é o discurso de pessoas e dos partidos de que as coisas vão melhorar com os países isolados. E nós sabemos que não, mas, no fim, temos de aceitar, porque são as pessoas que fazem essa escolha.

O que os governos ou os políticos podem fazer para mudar essa situação de populismo?

Essa é uma pergunta de US$ 1 milhão. Os países estão procurando saídas sozinhos, e isso vai resultar na redução da riqueza global. Nós vimos, nas últimas três décadas, uma globalização que beneficiou os mais pobres e a classe média – muitas pessoas conseguiram escapar da pobreza. A direção que muitos governos estão tomando não é necessariamente a correta, mas temos de encarar em como transformar essa situação em oportunidades para as companhias.

Para uma geração mais antiga, a depender do país, houve relativa estabilidade nas últimas duas, três décadas, mas eu acho que, nos próximos cinco, dez anos, as empresas terão de se acostumar a ser mais resilientes, estáveis e flexíveis. A estratégia corporativa para os nossos clientes é pensar dois, três passos adiante, para evitar que eles caiam numa armadilha. O jogo está ficando mais em traçar um cenário e, então, encontrar um maneira flexível de organizar a sua cadeia de valor.

O cenário para as empresas será difícil, então, para os próximos anos?

Isso depende do tipo de negócio. Empresas intensivas em energia na Alemanha e na Europa vão enfrentar grandes problemas, já estão enfrentando. Há casos de insolvência. Na Alemanha, temos hoje 22%, 23% menos consumo de energia do que há um ano, em parte porque as pessoas estão economizando e já substituíram o uso do gás, mas também porque todos os setores tiveram significativo corte na produção por causa do custo da energia.

E as companhias já sofreram muito desde a pandemia…

Se você olhar em detalhes, a depender do modelo de negócios, claro que houve desafios durante a pandemia para indústrias, restaurantes. Mas com o auxílio estatal, muitas empresas conseguiram superar esse momento. Quando você olha para todas as cadeias de valor, um exemplo interessante é o da automotiva. Muitas empresas estão com recordes de lucratividade, porque houve uma escassez de carros com a crise dos chips. Não houve carros suficientes, e os preços subiram. Como resultado da pandemia, as empresas de chips multiplicaram seu lucro por três, quatro; as fornecedoras de matérias-primas multiplicaram seu lucro por três, quatro, cinco.

Quais são os países que a Roland Berger olha com mais otimismo?

Os países das Américas, como Estados Unidos, Canadá e Brasil. O Oriente Médio está se beneficiando do aumento de preços (da energia). Há também o Sudeste asiático, países como Vietnã, Filipinas. Eu ainda citaria a Índia. Todos estão acompanhando o que está acontecendo com a Apple, basicamente partes da sua produção deixaram a China e foram para a Índia, para ter menos influência de tensões geopolíticas. Essa é a parte positiva do mundo.

E a parte negativa?

Estamos falando da Europa, com muitos problemas estruturais. O fato de termos esses governos populistas em algumas partes da Europa torna difícil para o Banco Central Europeu encontrar uma política monetária para toda a região. A China, em muitas categorias, é o principal mercado do mundo, mas tem o desafio da estratégia de covid zero. O crescimento vai desacelerar. Vai haver uma grande mudança tectônica nos próximos dois, três anos.

O sr. poderia detalhar a situação do Brasil? Há uma eleição presidencial importante pela frente.

O Brasil deve estar numa boa posição, porque os preços das commodities estão em alta, e muitos países vão olhar para o Brasil para o fornecimento de produtos básicos. Isso deve ser positivo para os próximos anos.

Maurílio Fontes

Proprietário, jornalista, diretor e responsável pelo Portal Alagoinhas Hoje

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