Hábitos simples ajudam a construir o mito dos Arraes em Pernambuco

A idolatria de boa parte dos pernambucanos pela família Arraes vai muito além das realizações políticas de Eduardo Campos e do seu avô, o também ex-governador Miguel Arraes, para uns, o Doutor Arraes. Para a maioria, o “Véio Arráia”, pronunciado carinhosamente com o sotaque recifense. Para todos, o homem que levou energia elétrica e água para o sertão.

A marca da família Arraes é a simplicidade. Este é o fator que mais os aproxima do povão. Neste domingo, a simplicidade da sepultura onde Eduardo Campos será enterrado chamará a atenção de todo o país, mas para os pernambucanos, não há novidade alguma. Esta é a marca da família.

A casa da família de Eduardo Campos é confortável, mas sem grandes luxos e longe da área nobre da cidade. Fica na Zona Norte, no bairro Dois Irmãos, a pelo menos meia hora, com sorte, da turística Boa Viagem, bairro à beira-mar mais conhecido da capital. Na vizinhança, casas com o mesmo padrão dividem a rua com outras bem simples, com tijolos aparentes. Até o asfaltamento é precário.

Algumas ruas ainda são de terra batida. E nem segurança há por perto. Sejam policiais ou mesmo particulares do governador. Tanto que uma equipe de jornalistas acabou assaltada na última sexta-feira, o que só então fez a polícia reforçar o efetivo no local.

“Seu Eduardo passeava com o cachorro por aqui, falava com os vizinhos. Me lembro da vez que foi eleito governador. Passou por mim, cerrou o punho com os olhos arregalados e um sorriso largo e disse: ‘ganhamos’. Os filhos e Dona Renata também são pessoas simples, sem luxo”, contou o vizinho Manoel Francisco, que vive numa casinha sem muito conforto, há poucos metros da residência dos Arraes.

Pai de cinco filhos, Campos costumava dizer que gostava de criar gente. E se preocupava tanto com os seus filhos quanto com o dos outros. Dizia sonhar com um país onde filhos de ricos e pobres, trabalhadores e patrões, negros e brancos, estudassem na mesma escola.

“Ele tinha a vida atribulada, mas vivia ‘arrodiado’ dos filhos. Sempre que podia, carregava os meninos junto dele. Era apaixonado por criança, que simbolizavam para ele um futuro melhor”, conta o fotógrafo Genival Fernandes, que desde 2005 fazia imagens do ex-governador, que o chamava pelo apelido, Papparazi, e no caso de Genival deixou de ser adjetivo para virar substantivo na voz de Eduardo Campos.

Nos passos do avô que virou mito

Morto no mesmo dia que o avô e ídolo Miguel Arraes, Eduardo Campos caminha para virar mito em Pernambuco. Os números em torno do funeral são incertos, mas já se fala em 150 mil pessoas, o dobro do avô, político mais popular da história do Estado.

“O respeito que o pernambucano tinha pelo Arraes é maior do que qualquer outro político. Muito mais do que o Lula, que foi presidente e era pernambucano, coisa que o Arraes não era. Era cearense. Mas ninguém fez mais por este povo. Virou mito mesmo. Ele tinha a voz embolada e era difícil entender o que ele dizia, mas ele falava com a nossa alma”, conta o gari Rosalvo da Conceição, que está no funeral.

O escritor Marcelo Meira, que trabalhou com Miguel Arraes nos anos 80, não faz parte da turma de fãs do avô de Eduardo Campos, mas tem um depoimento impressionante, que dá a dimensão da idolatria do político no estado, sobretudo no sertão.

“Via doentes colocarem a foto do Arraes num copo d´água, misturar bem e beber em busca de um milagre. Um troço incrível”, conta Meira.

 
 

Maurílio Fontes

Proprietário, jornalista, diretor e responsável pelo Portal Alagoinhas Hoje

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