Zuckerberg não resolveu preocupações com privacidade dos usuários

O depoimento de Mark Zuckerberg ao Congresso dos Estados Unidos não restaurou a confiança dos usuários quanto às normas de privacidade da empresa, que despencou depois que o vazamento de dados para a Cambridge Analytica foi revelado.

Em um levantamento do Ponemon Institute, uma organização de pesquisa que vem acompanhando as atitudes dos usuários americanos do Facebook pela maior parte da década, pouco mais de um quarto dos respondentes afirmou concordar com a afirmação de que “o Facebook tem o compromisso de proteger a privacidade de minhas informações pessoais”.

O resultado do levantamento mais recente, realizado depois do depoimento em que Zuckerberg respondeu perguntas dos legisladores americanos durante dois dias sobre a maneira pela qual o Facebook trata os dados dos usuários, oferece forte contraste com a situação até o ano passado.

A confiança nas normas de privacidade do Facebook era alta e estava crescendo, de acordo com pesquisas anuais do Ponemon que incluem essa mesma questão desde 2011.

Mas a confiança em que o Facebook esteja dedicado a proteger a privacidade de seus usuários despencou de 79% em 2017 para 27% no mês passado, uma semana depois que surgiram as primeiras informações de que um app havia recolhido e transmitido dados de dezenas de milhões de usuários americanos do Facebook à Cambridge Analytica, uma empresa de pesquisa que trabalhou na campanha presidencial de Donald Trump.

O Facebook parecia ter reconquistado alguma confiança, duas semanas depois que as informações surgiram, mas voltou a perder terreno depois que Zuckerberg foi questionado no Congresso.

Larry Ponemon, presidente do Instituto Ponemon, disse que as pessoas antes encaravam o Facebook com respeito porque passavam grande parte de seu tempo lá. “Elas colocavam o Facebook em um pedestal tão alto que a queda se tornou mais dolorosa”, ele disse.

O instituto, que se especializa em questões de privacidade e segurança cibernética, entrevista cerca de três mil usuários americanos do Facebook, de diferentes regiões e com renda domiciliar e idade variáveis. O número de levantamentos foi expandido depois da controvérsia gerada pela questão da Cambridge Analytica.

Os entrevistados pareciam especialmente irritados por o Facebook não os ter informado sobre o vazamento de dados quando o descobriu, em 2015, o que sugere que eles se interessarão mais sobre a maneira pela qual a empresa usa seus dados, no futuro.

O número de entrevistados que disseram concordar fortemente em que o Facebook tinha a obrigação de informá-los caso suas informações pessoais fossem perdidas ou roubadas dobrou, para 44%, ante 2017, e o número de entrevistados que afirma que o Facebook tem o dever de revelar como usa suas informações pessoais quase dobrou.

Mas a maioria deles respondeu que não deixaria de usar a rede ou reduziria seu uso, ou que a chance de que isso aconteça é remota.

O Facebook tentou reconquistar a confiança do público com o anúncio de diversas medidas para restringir o volume de dados que chegam às mãos dos desenvolvedores. A empresa até agora não adotou grandes mudanças quanto ao seu acesso a dados, que ela usa para vender publicidade direcionada.

Na segunda-feira, a empresa sofreu um revés em um caso separado quanto à sua abordagem de proteção à privacidade, quanto um juiz federal de primeira instância na Califórnia aprovou uma ação coletiva sobre o software de reconhecimento facial da empresa, que identifica amigos e parentes em fotos de usuários.

O juiz James Donato afirmou que o Facebook havia argumentado contra a classificação como ação coletiva dos processos de todos os usuários do estado do Illinois “porque as indenizações envolvidas poderiam ter valor de bilhões de dólares”.

Na segunda-feira, a companhia escreveu sobre a maneira pela qual recolhe dados sobre usuários quando eles não estão usando o site ou app do Facebook. David Baser, diretor de gestão de produtos, disse que os dados são recolhidos para fins publicitários, para definir classificações no news feed, e por motivos de segurança.

Um porta-voz do Facebook afirmou em comunicado que “estamos revisando a decisão. Continuamos a acreditar que o caso não tenha mérito e nos defenderemos vigorosamente”.Zuckerman disse ao Congresso que o Facebook rastreava pessoas na web por “diversas razões”, entre as quais segurança e publicidade, e depois pediu tempo para averiguar os detalhes.

Baser apontou que outras empresas que vendem publicidade digital adotam práticas de rastreamento semelhantes, entre as quais Google, Amazon, Twitter, Pinterest e LinkedIn. 

 

Fonte: Folha de São Paulo

Maurílio Fontes

Proprietário, jornalista, diretor e responsável pelo Portal Alagoinhas Hoje

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