Transnacionais e governos: relações perigosas – Bruno Lima Rocha

O caso da suposta prática de cartel em licitações no Metrô e Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), envolvendo transnacionais de reconhecida expertise na área de engenharia complexa e os governos tucanos do estado de São Paulo, se comprovado, vem a materializar conceitos que venho empregando há mais de uma década. São três e obedecem a uma ordem lógica.

O primeiro aborda as relações institucionais do grande agente econômico (de capital brasileiro ou transnacional) como uma visão de empreendimento. A economia política de linha crítica acerta ao afirmar que as relações são assimétricas, tal como o acesso e o usufruto aos recursos coletivos organizados pelo poder de Estado.

Desta maneira, a garantia dos negócios com o ente governamental pode ser no formato de um “bismarckismo tropical”, como é o modelo do governo atual, ou alimentando cadeias transnacionais, como fora o período áureo das privatizações no Brasil.

O segundo conceito entende que as relações assimétricas – desiguais – tendem a uma fusão entre elite dirigente – como o secretariado de um governo estadual – e classe dominante. Quando as empresas em ação são transnacionais, não se trata de uma oligarquia local – como é a representação da FIESP ou da CNA – mas sim de uma alta gerência operando em escala mundial.

O Brasil, ou São Paulo especificamente, seria – se o cartel for comprovado – mais um entre vários teatros de operações. As narrativas abordando o acionar corporativo já narraram diversas situações semelhantes. Livros como Confissões de um assassino econômico, de John Perkins (Cultrix, 2005) e filmes como O Informante (The Informant!, de Steven Soderbergh, EUA/2009) expõem estas relações de forma muito didática.

O terceiro conceito observa o mimetismo das elites transitórias, no caso brasileiro, ex-opositores da ditadura ou intelectuais arrependidos de ideias à esquerda. Não se trata apenas de política de portas giratórias, onde os operadores ocupam postos no governo, na mídia, universidades e empresas, mas algo mais profundo. Ocorre uma simbiose entre o modo de vida (life style para os estadunidenses) e as vias para obtenção de recursos. Por dentro ou por fora, com ou sem rubrica, corruptor e corrompido se juntam em momentos descontraídos, aumentando laços informais e identidades comuns.

Analisado o modelo, cabe rever o formato da crítica. Urge aumentar a organização social, para a maioria não ser eterna refém das perigosas relações entre transnacionais e governos de turno.

Bruno Lima Rocha é cientista político.
(www.estrategiaeanalise.com.br / blimarocha@gmail.com)

Fonte: Folha de São Paulo

 

Maurílio Fontes

Proprietário, jornalista, diretor e responsável pelo Portal Alagoinhas Hoje

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