Titulares da Medicina da USP apontam cenário ‘assustador’ e listam dez medidas urgentes para combater a Covid-19

O colegiado de professores titulares da Faculdade de Medicina da USP divulgou um manifesto para expressar sua preocupação “com o grave momento” que o Brasil atravessa. O grupo é composto por 72 professores.

​​No documento, os titulares listam 10 medidas que devem ser tomadas no enfrentamento à epidemia da Covid-19 no país.

Entre eles, a coordenação dos diversos níveis da administração (municipais, estaduais e federal) para otimizar a capacidade do SUS, adoção de “medidas radicais de lockdown” (confinamento) nas regiões mais acometidas, com “estratégias socialmente pactuadas para garantir adesão e eficácia”, aceleração significativa do programa de vacinação e a implementação de estratégias de testagem, rastreamento e isolamento de casos.

“Enfrentamos uma das maiores crises sanitárias e humanitárias de nossa história. Vivemos um recrudescimento assustador do número de casos notificados de adoecimento pela Covid-19 e já alcançamos o patamar trágico de mais de 2.000 mortes diárias pela doença”, diz o texto.

O colegiado diz ainda que é necessário desenvolver medidas de combate às notícias falsas, desinformação e más práticas de prevenção e tratamento sobre o novo coronavírus.

“Como se vê, há a necessidade de um firme compromisso ético e político para que essas medidas sejam postas em operação e para que consigamos construir o futuro de progresso e bem-estar, com justiça social e liberdade, que buscamos para nossa população”, segue o manifesto.

O Brasil vive o pior momento da pandemia, sem sinais de luz no horizonte. As políticas nacionais de coordenação para enfrentamento são frágeis e a vacinação avança muito lentamente. O país, inclusive, já ultrapassou a média móvel de mortes dos EUA, país que tem o maior número de óbitos e casos de Covid no mundo e uma população maior que a brasileira.

Na terça (16), foram registradas 2.798 mortes por Covid no Brasil, o maior número de vidas perdidas em 24 horas de toda a pandemia. O valor significa quase 1 morte a cada 30 segundos. O país se aproxima de um colapso.

Uma projeção concluiu que leitos de UTI podem lotar até quinta-feira (18) em São Paulo.

Leia o manifesto na íntegra abaixo:

“PANDEMIA DE COVID-19: É URGENTE AGIRMOS JUNTOS E JÁ

O colegiado dos Professores Titulares da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo vem manifestar publicamente sua preocupação com o grave momento que atravessamos no Brasil.

Enfrentamos uma das maiores crises sanitárias e humanitárias de nossa história. Vivemos um recrudescimento assustador do número de casos notificados de adoecimento pela COVID-19 e já alcançamos o patamar trágico de mais de 2.000 mortes diárias pela doença.

Danos igualmente graves, são os devastadores efeitos afetivos e materiais dessas mortes para as famílias e comunidades dos que se foram; as sequelas persistentes em muitos dos que conseguiram ultrapassar a fase aguda da doença; o colapso dos serviços de saúde e esgotamento dos profissionais, não prejudicando apenas o provimento da assistência aos pacientes com COVID-19, mas também obstruindo o acesso de pacientes com outros tipos de demandas urgentes e relevantes.

Um desafiador agravante da situação é o surgimento de variantes do SARS-CoV-2, que tem tornado ainda mais urgente nossa corrida pela imunização e, mais importante, pela implementação de medidas estruturais e comportamentais de controle da pandemia.

Para isso juntamos nossas vozes às daqueles que conclamam autoridades, profissionais, formadores de opinião e cada cidadão e cidadã de nosso país a assumir radicalmente o compromisso com a construção de uma resposta efetiva e solidária para superarmos esse triste cenário.

Sabemos que a tarefa é complexa e exigirá esforço, mas já temos clareza de caminhos a seguir:
1) coordenação dos diversos níveis da administração – federal, estaduais e municipais – para otimizar a capacidade do SUS na resposta à pandemia no país, das Unidades Básicas às UTIs;
2) implementação de estratégias de testagem, rastreamento e isolamento de casos e contatos;
3) vigilância genética para identificação precoce das variantes virais;
4) adoção de medidas radicais de lockdown nas regiões mais acometidas, com estratégias socialmente pactuadas para garantir adesão e eficácia;
5) desenvolvimento de políticas emergenciais intersetoriais para prover as condições materiais e logísticas necessárias para a adequada adesão das pessoas às políticas de isolamento físico, especialmente para as regiões e populações em situações de maior vulnerabilidade;
6) realização de uma estratégia de comunicação social capaz de promover uma cultura de prevenção que oriente e estimule as pessoas ao uso de máscara, higiene das mãos e a evitar aglomerações;
7) envolvimento das lideranças de grupos atingidos e comunidades em situação de vulnerabilidade para identificar necessidades e estratégias adequadas às diversas situações locais;
8) emissão de normas técnicas para os diversos espaços de interação (escolas, indústrias, comércio, entre outros) para diminuir o risco ambiental de transmissão, cuidando especialmente do transporte público para garantir a não aglomeração atual;
9) aceleração significativa do programa de vacinação, com critérios estratégicos para priorização de populações-alvo;
10) medidas de combate às notícias falsas, desinformação e más práticas de prevenção e tratamento.

Como se vê, há a necessidade de um firme compromisso ético e político para que essas medidas sejam postas em operação e para que consigamos construir o futuro de progresso e bem-estar, com justiça social e liberdade, que buscamos para nossa população. Os Professores Titulares da FMUSP reiteram esse seu compromisso e, mais uma vez, somam-se aos que trabalham para que um futuro de saúde e prosperidade seja o mais rapidamente possível o nosso presente.”

Maurílio Fontes

Proprietário, jornalista, diretor e responsável pelo Portal Alagoinhas Hoje

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