Sintomas de resfriado – Vinicius Torres Freire

VINICIUS

As convulsões dos mercados financeiros e aquela lista de riscos de que estamos cansados de saber podem afetar o crescimento da economia americana, embora o pessoal da finança esteja exagerando e vendo coisas demais.

Foi o que disse ontem a parlamentares americanos Janet Yellen, presidente do Fed, banco central dos EUA. E o Brasil com isso? Antes, convém prestar um pouco de atenção ao resto do mundo.

Yellen não poderia dizer que o mundo está caindo pelas tabelas, claro. Mas sugeriu que uma alta de juros nos EUA em breve é improvável. Juros em suave alta seriam um sinal razoável de que a economia americana estaria de volta ao “normal” (ou seria um erro de avaliação catastrófico do Fed).

A presidente do BC dos EUA sugeriu com cautela, enfim, que vai dar um tempo porque, pelo menos por ora, parece haver mais ameaças ao crescimento americano. Isto é, aqueles problemas de que estamos cansados de saber, embora não saibamos no que vão dar:

1) A valorização do dólar prejudica as exportações americanas;

2) Os mercados estão tumultuados, o preço das ações cai;

3) Os juros para empresas mais problemáticas (de risco maior) estão subindo demais;

4) Não se sabe ainda qual será o tamanho da desaceleração chinesa, mas tal dúvida e o que será do valor da moeda chinesa causam convulsões nos mercados mundiais;

5) Tais bagunças derrubam ainda mais o preço de petróleo e commodities, prejudicando países que dependem de exportar tais produtos e alguns setores de economias ricas.

Além do pé atrás de Yellen, bancos centrais da Europa e do Japão adotam taxas de juros negativas. Trata-se de uma tentativa quase terminal da política monetária de reavivar o crédito ou desvalorizar moedas e, assim, estimular economias ainda beirando a estagnação. De resto, as taxas de juros de longo prazo nos EUA vão caindo a um nível que, em tempos menos anormais, costumavam ser um indício de recessão.

Em janeiro, o FMI rebaixou seu prognóstico de crescimento médio para o mundo em 2016. Mas, ainda assim, trata-se de um crescimento maior que o do ano passado, mesmo com a lerdeza dos emergentes –desastre, no caso do Brasil. Isto é, o mundo rico deveria crescer mais.

Nota-se, pois, que a desorientação a grande. Mais difícil ainda é descobrir o efeito sobre o Brasil dessas convulsões volúveis da finança.

Porém, o comércio mundial anda devagar, quase parando. As economistas relevantes do mundo estão com inflações muito baixas ou à beira de deflações (produtos industriais, aliás, estão em baixa; commodities, em colapso). O Brasil está relativamente inflacionado desde 2008, quando os preços no mundo começaram a cambalear –não é boa coisa para as exportações. Por ora, a perspectiva de atenuação da crise no Brasil depende de comércio exterior.

Difícil dizer algo mais. Note-se, por exemplo, que, mesmo nesse mundo confuso, dado o nosso desastre econômico, nossas finanças externas continuam razoavelmente em ordem.

De longe, nossa ruína deve-se ao desgoverno e, agora, à ausência de governo. Mas causa grande angústia a possibilidade de conjunção dos nossos problemas graves com uma virada súbita para o pior na economia mundial. Os ventos sopram na direção ruim e não cheiram bem.

 

Maurílio Fontes

Proprietário, jornalista, diretor e responsável pelo Portal Alagoinhas Hoje

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