Secretário da CGU é suspeito de repassar informações sigilosas de investigação policial
Alvo de mandado de busca e apreensão numa operação da Polícia Federal, o secretário de prevenção à corrupção da CGU (Controladoria-Geral da União), Sérgio Seabra, é suspeito de ter falado ao telefone com uma funcionária do órgão sobre a apuração de desvios de recursos da educação no Paraná e, minutos depois, ter repassado informações sigilosas sobre a investigação.
Segundo a polícia, a voz de Seabra, à época assessor de controle do MEC (Ministério da Educação), foi apontada por uma funcionária da CGU como parecida com a do interlocutor que alertou um dos investigados. A conversa, gravada pela PF, foi “em códigos”.
A Operação Sinapse foi deflagrada na semana passada para desarticular quadrilha suspeita de ter desviado R$ 6,6 milhões de recursos do MEC repassados ao IFPR (Instituto Federal do Paraná), com contratos superfaturados e serviços não prestados. O reitor da instituição foi afastado do cargo e é o principal suspeito de ter recebido informações privilegiadas da investigação.
As suspeitas da PF se fundamentam em depoimentos da então chefe da CGU no Paraná, Alzira Angeli. Segundo a polícia, ela afirmou que “tratou do teor dos trabalhos em curso e da existência de uma operação policial conjunta” com Sérgio Seabra, pouco antes de a PF ouvir o reitor sendo avisado que a apuração tinha “extrapolado” o trabalho da auditoria e seguido para uma “esfera superior”.
“A depoente ficou extremamente surpresa com o conteúdo desta ligação telefônica, pois revelou indício de que Sérgio Seabra tenha fornecido informação reservada acerca da investigação sigilosa”, diz trecho do depoimento de Alzira, que ao ouvir o conteúdo da conversa do reitor, disse à PF que a voz da pessoa “pareceu ser” de Seabra.
Atualmente lotada no Governo do DF, a então funcionária da CGU relatou à PF detalhes de pelo menos três conversas telefônicas com Seabra, na qual ela afirma que ele teria questionado por que a investigação não se limitou à inspeção física de um convênio firmado entre o IFPR e uma entidade local.
À Folha, Alzira disse que, apesar de não ter detalhado as investigações nas conversas dela com Seabra, ela falou da operação em curso da PF e sobre apurações antigas da própria polícia. “Ele é meu colega de carreira. Entre nós, esse tipo de conversa não pode ser considerada vazamento”.
Alzira reiterou que, à época, a voz que ouviu lhe pareceu com a de Seabra. Questionada se lhe chamou a atenção o fato de o reitor ter sido avisado logo depois que ela tratou da investigação com o secretário da CGU, ela respondeu: “Essa foi a linha de investigação da PF”.
OUTRO LADO
O secretário da CGU nega com veemência ter vazado qualquer informação e afirmou que “desconhecia que a PF estava no caso”. “Só fui saber quando bateram na porta da minha casa”, disse. Seabra se diz convencido de que as suspeitas da PF se fundamentam num grande mal entendido provocado pela servidora da CGU.
“Ela não foi categórica em dizer que a voz naquela gravação é minha. Não é, nem podia ser. A ligação [para o investigado] foi feita de um orelhão em São Paulo e minutos antes falei com ela de Brasília”, diz Seabra, afirmando que não é preciso nem fazer perícia para comprovar que ele não falou com o investigado.
Seabra confirma que recebeu o reitor do IRPR em Brasília, como recebeu outros reitores. Disse ainda que não conhece nenhum dos outros suspeitos de participar do esquema e que também nunca esteve no Paraná.
PARCERIA
“Espero que se esclareça logo essa história porque acho muito importante a parceria entre CGU, PF e Ministério Público”, afirmou Seabra, que permanece no cargo e conta com o apoio do comando da Controladoria.
O caso, contudo, pode estremecer, por ora, as relações entre PF e CGU, parceiras nessa operação que apurou os desvios de recursos do MEC. Em nota oficial, os dois órgãos se posicionaram de forma dura em defesa de seus funcionários.
A CGU disse que Seabra nada mais fazia que o próprio trabalho de ligação entre o órgão de controle e entidades ligadas ao MEC.
A PF informou que, enquanto os delegados pediram a condução coercitiva de Seabra no dia da operação, o MPF pediu a prisão do servidor. Ambos os pedidos foram negados pela Justiça, que autorizou apenas a busca e apreensão.
Fonte: Folha de São Paulo