“Planalto tem ignorado bancada baiana”

O deputado federal José Carlos Araújo, do PSD, assumiu na última semana a coordenação da bancada baiana no Congresso Nacional, com um problemão para administrar: a insatisfação dos 39 deputados federais e três senadores, com o não pagamento dos R$ 630 milhões previstos nas emendas da bancada, referentes ao orçamento de 2013.

Em entrevista exclusiva à Tribuna, Araújo disse que o Planalto tem ignorado a bancada baiana e que no “governo Dilma é muita promessa e pouco cumprimento efetivo”. Ao analisar a sucessão estadual, o parlamentar defendeu o nome de Otto Alencar para o Senado e que ele levará a melhor na disputa contra os adversários.

Araújo disse ainda que o pré-candidato Rui Costa é um homem preparado para ser governador” e que as ações do governo Wagner ajudarão a projetá-lo. O deputado evitou analisar ainda se a candidatura da senadora Lídice da Mata poderá tirar votos do PT.

Tribuna da Bahia – O senhor acabou de assumir a coordenação da bancada baiana, quais os maiores desafios à frente do posto, a partir de agora?
José Carlos Araújo – O maior desafio que sempre temos é a execução das emendas de bancada, porque o Executivo sempre corta, não quer pagar e prejudica o Estado. Eu não estou falando de emendas de deputados, estou falando de emendas de bancada, que são cerca de 20 e são sempre destinadas a temas importantes. A bancada, com o coordenador e os deputados, escolhe algumas coisas importantes para destinar o dinheiro das despesas de bancada.

Tribuna – Em 2013, não foram liberados os recursos prometidos. O não pagamento dessas emendas, pelo governo Dilma, pode gerar alguma rebelião na base?
Araújo – Acredito que não. Gera insatisfação porque frustra expectativas nossas, mas não quer dizer que vai haver rebelião em função disso. Coisas importantes que deixaram de ser feitas, mas nós entendemos que o coordenador vai levar a quem de direito a reprovação dos deputados e pedir a liberação dessas emendas para a Bahia.

Tribuna – Onde está o gargalo, deputado? Está na articulação política do Planalto, na falta de organização do governo, está na falta de recursos, qual a visão do senhor?
Araújo – Eu acho que falta um pouco de cada coisa. Faltam recursos, falta prioridade do governo e falta mais articulação política. A grande bancada que Dilma tem facilita para o governo e deixa o governo muito à vontade. Por isso nós pagamos um preço muito alto.

Tribuna – Quais as emendas que o senhor destaca como prioridade?
Araújo – Nós temos emendas para universidades, para estradas, para saúde, para educação e o governo disse que não ia pagar e ponto final. Nesse quesito, o nosso Estado ficou prejudicado.

Tribuna – Como o senhor pretende lidar com esse assunto de agora por diante? De que forma o senhor pretende convencer o Planalto da necessidade da execução dessas emendas?
Araújo – Nós temos que ficar unidos em função disso, independentemente do partido. Tanto situação quanto oposição tem que se unir em torno desse assunto e pedir, também, o apoio do governo do Estado. É importante o governador nos ajudar nessa causa, pois as emendas vão beneficiar o próprio Estado. O deputado Daniel Almeida fez um bom trabalho, mas não conseguiu tudo que queria, mas tentou e fez um grande trabalho.

Tribuna – Ele não conseguiu a liberação dos R$630 milhões. O senhor acredita que faltou mais pressão por parte do coordenador da bancada?
Araújo – Não acredito, o esforço foi muito grande do coordenador da bancada. Infelizmente não teve êxito, mas nós vamos aproveitar a experiência que ganhamos com o deputado Daniel Almeida, vamos aproveitar também este ano eleitoral, que é difícil, mas é um ano que facilita as coisas para que nós possamos pedir ao Executivo que libere as emendas para a Bahia. Até porque, temos só até junho, devido o período eleitoral, depois disso acabou o ano. É convenção, é política, é eleição, e depois de eleição é difícil você conseguir executar alguma coisa.

Tribuna – O senhor acredita em uma solução em curto prazo?
Araújo – Tem que ser em curto prazo, tem que ser este ano. Vamos correr atrás, neste semestre, para conseguir alguma coisa, entrando no governo federal. Houve mudanças na Casa Civil, vamos tentar chegar também lá no ministro Aloizio Mercadante. Vamos mostrar a nossa dificuldade e interesse em ver essas coisas acontecerem este ano. É bom para todo mundo, é bom para nós e para o governo.

Tribuna – O senhor falou também da necessidade de aumentar a interlocução com o governo do Estado. Pretende fazer o que para estreitar essa interlocução?
Araújo – Nós, deputados federais, ficamos em Brasília e, geralmente, segunda à noite ou terça pela manhã viajamos e voltamos quinta à tardinha ou à noite. Fica para os deputados federais apenas a segunda e a sexta. O governo tem viajado muito em função das inaugurações das obras anteriores e praticamente só fica a segunda para os deputados federais, que são 39, situação e oposição. Mas lógico que todos, quando se trata de defender a Bahia, independente de partido, posição ou situação. Todos só têm a segunda-feira para tratar desses assuntos, inclusive marcar audiências com secretários. É muito fácil para o coordenador se, durante a semana, os deputados colocarem as demandas e o próprio coordenador junto com secretários pedirem audiências. Em alguns casos o secretário vai atender o deputado A, o deputado B para juntar quatro ou cinco audiências e fazer um atendimento só. Quando o deputado marca individualmente, tem que ir sozinho, mas quando o atendimento é com vários deputados, fica bom também para o secretário que vai recebê-los.

Tribuna – O senhor acredita que a presidente Dilma vai para a reeleição com força ou o as candidaturas colocadas até agora vão dificultar a vida dela?
Araújo – Três candidaturas são um problema, o próprio PT já admite. Você tem algumas lideranças do PT que já admitem um segundo turno. Indo para o segundo o turno, o PT terá dificuldades, mas eu acho que Dilma vá vencer as eleições. Mas ela precisa, realmente, trabalhar as bases, fazer com que isso aconteça. Ela tem que ser um pouco mais política, trabalhar mais com os deputados, com os ministros e ouvir mais.

Tribuna – Falando ainda sobre a presidente Dilma, falta a ela ser mais política e ter mais diálogo com os deputados, com os parlamentares?
Araújo – Eu acho que sim. Tanto ela quanto os ministros. Quando tem alguma votação, alguma coisa de interesse, os ministros telefonam, mas depois as coisas não acontecem. O que acontece no governo Dilma é muita promessa e pouco cumprimento efetivo (risos).

Tribuna – Quanto ao cenário baiano, o senhor sempre foi a favor da eleição do vice-governador Otto Alencar, como nome para encabeçar a chapa. Como viu a confirmação de Rui Costa para o governo?
Araújo – O próprio Otto Alencar disse que preferia ser candidato ao Senado e todos nós, amigos dele, que gostaríamos de vê-lo candidato ao governo. Não nego, gostaria, mas quando ele disse que prefere ser candidato a senador, nós temos que seguir a vontade do amigo. Não somos nós que vamos ponderar contra. Nós vamos apoiar Rui Costa e vamos seguir Otto. Somos amigos, fizemos um pacto de marchar unidos, e quando Otto mostra o caminho que devemos seguir, temos que acompanhá-lo.

Tribuna – O senhor acredita que Rui Costa vai ter dificuldade para pegar fôlego?
Araújo – Rui é um homem preparado para ser governador, quem viaja com ele vê isso. Só precisa ser mais conhecido, mas o governo tem trabalho muito, fez muitas obras, tornando a vida de Rui mais fácil. Ele está no interior inaugurando obras, sem contar que ele faz um grande trabalho na Casa Civil. Tem o metrô daqui de Salvador, essas obras estruturantes todas passaram por ele. Isso o credencia para ser candidato ao governo da Bahia.

Tribuna – O ingresso da ex-ministra Eliana Calmon pode dificultar a candidatura de Otto para o senado?
Araújo – Qualquer candidatura é um complicador em uma eleição majoritária, como é na Bahia. Mas nós vamos levar a eleição de Otto com tranquilidade e temos convicção da eleição dele. A ex-ministra Eliana Calmon, não tenho dúvidas que é um excelente quadro pelas posições que tomou, mas todo mundo conhece, a Bahia inteira conhece o trabalho de Otto Alencar. Talvez outro candidato fosse mais fácil, mas sendo Otto eu acho que essa eleição está mais tranquila para ele.

Tribuna – Como o senhor vê o lançamento da candidatura da senadora Lídice da Mata? Ela pode tirar votos do PT?
Araújo – Eu não costumo discutir candidaturas de partido que não é o nosso. A Lídice é uma grande companheira, nos ajudou muito, ajudou o governo Wagner, sabemos disso, foi minha colega como deputada estadual, minha colega agora em Brasília. Infelizmente tomou outro caminho e eu gostaria que estivéssemos juntos no mesmo palanque, mas não está. Paciência!

Tribuna – A oposição ainda não definiu o candidato ao governo. De que forma o senhor avalia esse impasse entre o Democratas e o PMDB?
Araújo – Qualquer candidatura prematura está sujeita a essas coisas. Começaram a lançar a candidatura antes do tempo e isso é um complicador porque a exposição às críticas é maior. Mas isso é natural dentro da política, principalmente na Bahia, onde isso sempre aconteceu e sempre vai acontecer.

Tribuna – Com relação à disputa entre Geddel e Paulo Souto, quem o senhor acredita que vai levar a melhor e deverá ser o candidato da oposição?
Araújo – É o tipo de coisa que não dá para a gente discutir porque é uma candidatura que não aconteceu ainda. Vem o Dr. Paulo Souto, que é um homem testado nas urnas, testado na administração, bom governador, sem dúvida nenhuma. O Geddel também vem com bagagem, mas é uma discussão deles. Não cabe a nós, que somos adversários, ficar discutindo a candidatura de um ou de outro. Nós não escolhemos adversários, eles são quem escolhem os nossos adversários.

Tribuna – Como o senhor avalia o governo Wagner? Qual o maior erro e qual o maior acerto do governo ao longo desses sete anos?
Araújo – Foi um governo bom, fez muitas obras. Talvez não tenha feito uma grande obra que “encha os olhos”, mas a quantidade de obras que Wagner fez, 7.500 km de estradas, por exemplo, merece ser destacado. Talvez seja o governador que mais realizou em termos de estradas e estradas boas. O Otto, agora, com a compra dos dois ferryboats que estão chegando da Grécia, acredito que vai resolver o problema do longo tempo de travessia Salvador – Mar Grande. Na educação, Wagner também fez muita coisa, trouxe cinco universidades, na saúde também, cinco hospitais. Eu acho que tudo isso o credencia. Se você me perguntar qual é o entrave maior, eu acho que é a segurança pública. Não adianta nós taparmos o céu com a peneira. E não é só na Bahia, a segurança é um problema no Brasil inteiro.

Tribuna – Como o senhor avalia o governo ACM Neto? Como vê o começo de governo e como as ações têm acontecido em Salvador?
Araújo – Não podemos tapar o sol com a peneira nesse caso também. O governo ACM Neto começou bem, está fazendo um bom trabalho, conseguiu recursos para asfaltar as ruas de Salvador, mas é um começo. Começo é começo, estamos aguardando o desenrolar do seu governo. O problema do IPTU é um problema que ele vai ter que descascar. O IPTU subiu, em alguns casos, 280%. É um absurdo! Nós estamos estarrecidos com esse aumento, mas não vamos negar que Salvador está tomando, realmente, outra cara.

Tribuna – Por que os deputados federais baianos se colocam tão distante da população baiana no dia a dia? E de que forma o senhor pretende lidar com esse assunto e tornar os federais mais próximos dos baianos?
Araújo – A distância é realmente um limitador. A maioria dos deputados federais não faz política por causa desse distanciamento. Eu, por exemplo, viajo muito, mantenho presença constante no interior. Semana passada estava em Ruy Barbosa e vou voltar para lá em poucos dias e estou sempre na Chapada. A nossa presença é constante no interior, mais pontual nos municípios em que somos lotados. Mas isso não quer dizer que há distanciamento. O que acontece é que, em função das distâncias, não fica perto da imprensa, fica longe dos jornais de maior circulação. Eu circulo muito na Chapada, por exemplo, e sou conhecido por lá, assim como no extremo sul.

Tribuna – Deputado, o senhor é o relator do caso Donadon. Como integrante do Conselho de Ética da Câmara dos Deputados, como o senhor está vendo tudo isso?
Araújo – Eu fui, durante quatro anos, presidente do Conselho de Ética. Nesses quatro anos nunca teve um caso parecido. Um deputado que está preso, continua deputado. A Câmara teve uma grande oportunidade em fazer o que deveria ter feito, mas errou em não fazer. E tinha elementos suficientes para isso. Acredito que agora, independente de voto aberto ou fechado, a Câmara entende que precisa dar a resposta à sociedade. Não é admissível, no caso Donadon, que um deputado preso, condenado no Conselho de Ética por unanimidade, continue sendo deputado. Tenho certeza absoluta que a Câmara, com voto aberto ou fechado, votaria pela cassação. Eu serei o relator e vou pedir novamente a cassação dele.

Tribuna – O senhor acredita que a prisão dos condenados do mensalão pode repercutir negativamente na próxima eleição?
Araújo – Eu acredito que sim, claro! Pode repercutir na classe política como um todo. Nós temos que fazer um trabalho muito forte para mudar esse conceito do povo com os políticos.

Colaboraram: Fernanda Chagas e João Arthur Alves

Fontes: Tribuna da Bahia/iG

Maurílio Fontes

Proprietário, jornalista, diretor e responsável pelo Portal Alagoinhas Hoje

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