O começo de um passo – Janio de Freitas
A dificuldade dos partidos de adotar as medidas adequadas quando denúncias atingem um dos seus –como se dá com o PT do deputado André Vargas e com o PSDB da corrupção no metrô e nos trens paulistas– é uma confissão de que, mesmo para os não corruptos, a decência é um valor menor do que a conveniência na política brasileira.
Nesse sentido, a providência do novo líder petista na Câmara, deputado Vicentinho, de convocar a bancada para discutir uma posição relativa a André Vargas, e eventualmente cobrá-la, é um passo com significação ética. Mas só ganhará sentido pleno se levar a um segundo movimento: dispensar o falso pretexto, que ainda se impôs, e criar um princípio. Quem sabe até capaz de inspirar um ou outro partido.
Embora parte da bancada já chegasse a desejar, mais do que a renúncia de André Vargas à vice-presidência da Câmara, sua licença ou mesmo renúncia ao mandato, a reunião foi convocada com o subterfúgio de sugerir-lhe uma “licença da Câmara para cuidar melhor da sua defesa”. Para tal sugestão, uma conversinha bastaria, tanto ao deputado como aos seus colegas.
A bancada não incorreria em julgamento precipitado se tivesse a mesma atitude, porém com outra motivação: o princípio de que denúncias a seu ver graves, contra qualquer integrante do partido, devem implicar seu afastamento até a desejada comprovação da inocência. Se comprovada, prestem-se as homenagens reparadoras ao vitimado por acusação injusta e, sendo o caso, que os acusadores respondam na Justiça.
Pois é, uma regra mínima e simples de decência pessoal e partidária, mas tão difícil para os partidos brasileiros e seus governadores e parlamentares. Mas não sem motivo.
Fonte: Folha de São Paulo