Narrativa, coincidência e o imponderável em 2014 – Murillo de Aragão

Caminhamos para o Ano-Novo. Um ano gordo com a especialíssima combinação de eleições presidenciais e Copa do Mundo no Brasil. Em 1950, quando perdemos a Copa para o Uruguai, no Maracanã, Getúlio Vargas foi eleito presidente. Estranha coincidência.

Será um bom ou um mau sinal? Perderemos a Copa e reelegeremos Dilma Rousseff? Ou a história se repetirá como farsa, isto é, ganharemos a Copa e elegeremos outro presidente?

Ou ainda: ganharemos a Copa e reelegeremos Dilma? Para completar o rol de opções: podemos perder a Copa e Dilma perder a campanha. Ou, quem sabe, não concorrer. Em qualquer circunstância, as opções e os eventos de 2014 são instigantes.

Todos os anos são dominados por algumas narrativas. 2013 foi o ano das manifestações nas ruas e da eclosão do vandalismo articulado. Para muitos, foi um ano de autoengano.

O governo pensava que era competente e a oposição achava que fazia oposição. Enquanto isso, o noticiário virtual rasteiro tentava combater a sensação térmica de que as coisas andavam melhores do que já foram.

São choques de narrativas que visam um projeto de poder. Porém, como vivemos na era do autoengano, na qual a realidade instantânea perde fidelidade no seu processo de virtualização, o eleitorado deve ficar à mercê dos ventos quentes das palavras vazias. Em 2014, a coincidência da Copa do Mundo com as eleições gerais será propícia a narrativas carregadas de emoção.

Conforme o ano eleitoral se aproxima, as narrativas tendem a ser mais intensas e pretensamente reais. Como as que indicavam que as manifestações de junho eram o despertar da cidadania. Mas, no fundo, as narrativas que surgem na cena serão ainda mais virtuais. Tão virtuais quanto o campeonato mundial que Felipe Massa teve nas mãos, por alguns segundos, em 2008, até que uma derrapada de Timo Glock deu o campeonato a Lewis Hamilton.

Tudo pelo simples fato de que nas disputas de poder pela via eleitoral as narrativas tendem a ser mais intensas. Sobretudo em um país que se move pelas sensações. O mesmo vale para o outro megaevento, a Copa. Terá de ser um grande sucesso comercial, antes mesmo de ser um sucesso futebolístico. Para tanto, as narrativas serão fortes. Dramáticas. Perturbadoras. Aquilo que Jean Baudrillard entendeu como o maior escândalo de nossos tempos: atentar contra o princípio da realidade.

Outra questão estimulante é o papel do imponderável nos grandes eventos. Em 2010, o inesperado se fez presente com o escândalo Erenice Guerra, que pouco afetou o desempenho de Dilma nas eleições.

Prevaleceu o que se sabia: uma oposição sem discurso, um governo muito popular e um ambiente econômico favorável. Será que a situação se repetirá em 2014? O inesperado afetaria as narrativas existentes e criaria outras, que podem impactar as tendências predominantes?

O desempenho do Brasil na Copa do Mundo não tem influenciado a eleição presidencial. Para citar alguns exemplos, em 1998, perdemos a Copa do Mundo e FHC foi reeleito. Em 2002, ganhamos e FHC não elegeu seu sucessor. Em 2006, perdemos e Lula foi reeleito. Voltamos a perder em 2010 e Dilma foi eleita com apoio de Lula.

Será que 2014 será diferente?

As pessoas que foram às ruas em junho e julho questionou deforma sistemática os gastos com a Copa. Se o Brasil perder, poderá haver um sentimento de frustração ainda maior que nos anos anteriores.

Nos dias de hoje, as tendências são as seguintes: o Brasil ganharia a Copa e Dilma seria reeleita. No entanto, parece que não é tão simples. Talvez seja mais difícil o Brasil ganhar a Copa do que Dilma ser reeleita.

Os adversários do Brasil no campo são mais fortes do que os adversários de Dilma nas eleições. Dilma e o “lulismo” dominam as narrativas. Nosso futebol, apesar de tradicionalmente vencedor, atualmente não domina a narrativa dos gramados.

Torcemos para que o imponderável trabalhe a favor do Brasil e nas eleições que vença o melhor para o país.

Murillo de Aragão é cientista político.

Fonte: Blog do Noblat

 

Maurílio Fontes

Proprietário, jornalista, diretor e responsável pelo Portal Alagoinhas Hoje

Menu de Topo