Largada de corrida eleitoral em São Paulo reflete crise nacional

DATAFOLHA 1

A disputa pela Prefeitura de São Paulo começa atípica, assumindo aspectos de uma corrida maluca. Não só pela troca de escuderia de alguns concorrentes e pela incerteza da largada do pole position, mas principalmente pelo comportamento da “torcida”. O descrédito provocado pelas crises política e econômica do país projeta-se sobre o cenário local e potencializa o voto de protesto.

Desde a redemocratização, nunca se viu nas eleições municipais da capital taxas tão elevadas de paulistanos declarando intenção de voto branco e nulo no período correspondente, a cerca de três meses da eleição. Fosse um candidato, a categoria alcançaria as primeiras colocações –sintoma clássico nas crises de representação.

E quando se observa a preferência do eleitorado por estratos sociais, outras curiosidades despontam –candidatos teoricamente de esquerda como Fernando Haddad (PT) e Luiza Erundina (PSOL) ameaçam o tucano João Doria entre os mais ricos, Celso Russomanno (PRB) apresenta bom desempenho entre os que gostam do PSDB e a neo-peemedebista Marta Suplicy abocanha grande parte dos simpatizantes de seu ex-partido, o PT.

Em um primeiro momento, os dados causam estranheza pelo aparente rompimento com a tradição eleitoral da cidade.

Com grande heterogeneidade de demandas, alto grau de clivagem socioeconômica e forte influência de valores locais, há anos os eleitores desenham sobre o mapa da capital um mosaico de limites bem definidos pela polarização entre petismo e antipetismo –resultados pró-PT nos extremos periféricos mais pobres e antipetistas à medida que se aproximam do centro expandido, mais rico.

Haddad não conseguiu até aqui reproduzir o desempenho histórico de seu partido entre os eleitores de menor renda. As ações de maior repercussão de sua administração, como ciclovias e regulamentação do Uber, são aprovadas de um modo geral, mas alcançam especialmente nichos como os jovens e a classe média alta, o que se mostra insuficiente para anular o recall positivo de Russomanno e Marta no universo dos mais pobres.

REJEIÇÃO

Numa análise combinatória de variáveis como intenção de voto, grau de conhecimento do candidato e rejeição, o atual prefeito é hoje o nome com reprovação mais cristalizada: 68% afirmam conhecê-lo e dizem que nunca votariam nele.

As ex-ocupantes do cargo e mais bem colocadas nas intenções de voto, Marta Suplicy e Luiza Erundina, também têm taxas elevadas de repúdio com percentuais próximos a 50% do eleitorado.

João Doria e Andrea Matarazzo possuem espaço para crescimento porque combinam baixos índices de conhecimento e rejeição. O início da campanha na TV em agosto e estratégias de comunicação com o envolvimento de seus padrinhos serão decisivos para que ambos tentem concretizar esse potencial.

Já Russomanno é bastante conhecido e tem baixa rejeição, com possibilidades reais de aumentar seu escore em curto espaço de tempo.

Somando-se a esse conjunto de resultados a constatação de que a cidade foi o epicentro das manifestações de junho de 2013 e as de agora, pró-impeachment de Dilma Rousseff, o cenário fica ainda mais desalentador para Haddad. Mas, como em toda corrida maluca, louco é aquele que aposta com antecedência em um vencedor. Basta lembrar que, em 2012, nessa mesma época, o prefeito tinha 7% das intenções de voto.

ALESSANDRO JANONI
DIRETOR DE PESQUISAS DO DATAFOLHA

 

Maurílio Fontes

Proprietário, jornalista, diretor e responsável pelo Portal Alagoinhas Hoje

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