João Henrique será candidato a governador por ‘vontade de Deus’

Ex-prefeito de Salvador por dois mandatos consecutivos (eleito em 2004 e 2008), João Henrique de Barradas Carneiro (PRTB) se reapresenta ao eleitor baiano como “o novo”. Aos 59 anos, João disse em entrevista exclusiva ao bahia.ba que “não é possível que Deus queira” que ele se aposente da vida pública. Ele atribui a “perseguição midiática” sua baixa popularidade quando deixou o governo da capital baiana e também seu alto índice de reprovação para o pleito de outubro próximo. Neste sentido, João se compara a Lula. “Uma semelhança entre eu e o Lula é a opção pelos mais pobres. Lula é uma inspiração para mim. Tudo que fizeram comigo estão fazendo com o Lula.” O ex-prefeito traz como “diferencial” seu nome estar de fora da extensa lista de investigados pela Operação Lava Jato. Confira a íntegra da entrevista:

Candidatura “pra valer”

É pra valer! Na idade que eu cheguei, 59 anos, você tem um acúmulo de experiência. E na minha visão espiritual, você tem como obrigação transmitir isso para quem está chegando, para as novas gerações. Fui vereador uma vez e meia, deputado estadual uma vez e meia e prefeito durante oito anos, não é possível que Deus, aos meus 59 anos, queira que eu me aposente. A política vive hoje um momento de muito descrédito, eu sou um dos poucos da minha geração que passaram imune a essa operação Lava Jato. Nunca me envolvi naqueles esquemas pesados de Brasília. Hoje eu agradeço a Deus. Eu tinha certa frustração de não ter sido deputado federal. Hoje eu agradeço a Deus. O povo não vai querer candidatos envolvidos com a Lava Jato. Há algumas coisas que deixaram de ser feitas pelo governo do Estado e pelo município. Eu destacaria o respeito e a valorização ao funcionário público. Eu e meu pai (o ex-governador João Durval Carneiro) valorizamos demais o servidor público. Quem atende na ponta é o funcionário público. Os professores na minha gestão chegaram a ter até 150% de aumento real em oito anos, quando o governo que me antecedeu foi aumento zero, oito anos de reajuste zero. Os servidores municipais e estaduais também vêm me dizendo que têm reajuste zero nesses oito anos. Eles me pedem para voltar, para eu voltar!

Como driblar a alta rejeição?

Quero comparar minha rejeição com a de Lula e a de Bolsonaro. São os dois mais rejeitados nas pesquisas presidenciais, mas são também os dois que lideram as pesquisas. A rejeição maior significa dizer um conhecimento maior. Levy Fidelix (pré-candidato do PRTB à Presidência) tem uma rejeição pequena e uma aceitação pequena também. Eu também atribuo minha rejeição a esse massacre midiático que fizeram comigo. Esse massacre de minha reputação. Quiseram acabar minha carreira política e me sepultar em vida. Mas eu nasci para servir, aquela coisa que vem de alma mesmo.

Sem chance de coligar com João Santana (MDB)

De jeito nenhum. Não posso recuar agora. Gosto muito de João como figura humana, foi meu secretário, eu adoro ele. Mas vão ter as duas candidaturas, a dele e a minha.

Caso seja eleito, qual será seu primeiro ato como governador?

Eu nem pensei nisso ainda. Talvez seja essa questão do funcionalismo público, as coisas aumentando de preço, a falta de remédios. Meu filho tem uma doença grave, mora em Portugal e tem o remédio contínuo de graça. Aqui no Brasil não tem isso, na Bahia muito menos. Uma das minhas prioridades vai ser revalorizar o funcionalismo público.

Foto: Luiz Felipe Fernandez/bahia.ba
Foto: Luiz Felipe Fernandez/bahia.ba

 

Como conquistar o voto da população diante da divisão política em ‘coxinhas’ e ‘mortadelas’?

Por mais que nós nos esforcemos para levar nossas ideias, vamos perder para os votos brancos, nulos e as abstenções. Não adianta! Eu preciso e quero entrar nesses votos dos eleitores desacreditados. Eu estou fora da Lava Jato, passo a quilômetros disso, isso é um bom motivo, é um diferencial. Tem gente que tem medo, só porque foi delatado. Volto a dizer que vou investir no funcionalismo público. O Brasil hoje está todo desempregado, a onda negativa de depressão é muito grande. A gente precisa conquistar o voto nulo falando a verdade. Está faltando o povo se sentir mais gente. Na era Lula o povo se sentia mais gente, sobretudo o mais humilde, ele se sentia gente. Se sentia cidadão e não sub-cidadão. A questão da saúde pública também é uma prioridade, tenho uma mulher médica dentro de casa que pode me ajudar. É preciso falar  também da questão da água no interior. 50% da população baiana vive no semi-árido. Sete milhões e meio de baianos moram no mapa da seca.

Por que não conseguiu se eleger vereador nas eleições de 2016?

Naquela eleição a decisão do TRE só saiu 10 dias antes da eleição. Então, eu não podia ter as condições operacionais de uma candidatura. Não podia ter conta em banco, não podia fazer nada, mas podia pedir voto. Criaram um mito na cidade de que eu estava inelegível. Aí minha família me aconselhou a sair candidato só para eu provar que não era ficha suja. Eu acatei e disse: vou sair candidato só para pirraçar esse pessoal e mostrar que eu não sou inelegível. A coligação também não me deu o espaço que havia me prometido no horário nobre. Se tivessem me dado o que me prometeram, talvez eu tivesse sido eleito e puxado mais um vereador comigo. Se eles tivessem pensando com abundância, o universo mandaria em abundância, mas pensaram com escassez, o universo mandou escassez.

Pontos fracos e fortes de Rui Costa

Não gosto muito de olhar o lado sombra das pessoas, prefiro olhar o lado luz. Pedindo uma permissão ao universo para fazer essa avaliação negativa, porque tudo no universo é vibração, se você pensa positivo, atrai positivo, se vibra negativo, atrai negativo. O que pode prejudicar a chapa do governador é o fechamento do ciclo de vida do PT. O ciclo de vida do PT está no seu fechamento. Claro que pode renascer de novo. Não vou atacar ninguém, não quero atacar. Prefiro ver o lado luz das pessoas.

“Ajuda” a ACM Neto

Eu ajudei muito mais do que ele a mim. Porque na reeleição dele nós mergulhamos de cabeça, mas eu me recolhi, no que eu pude ajudar nos bastidores, em off, com reuniões, com secretários, vereadores. Eu ajudei muito.

Foto: Luiz Felipe Fernandez/bahia.ba

Agradecimento aos irmãos Vieira Lima

Eu fui muito ajudado por eles!  Uma crueldade que fizeram comigo, eu tento perdoar, mas fizeram uma crueldade. Fizeram uma pesquisa em julho de 2012), eu estava em quinto lugar. E um grande jornal dessa cidade (eu preciso meditar muito, exercitar isso para perdoar) colocou na capa que eu era quinto. Aí os irmãos Vieira Lima me deram a mão e disseram que eu não ia morrer afogado. Aí em quatro meses a gente reverteu essa situação. Aí, faltando quatro dias para a eleição, no último dia do horário eleitoral gratuito, olhe que crueldade… No dia seguinte, para a gente não poder mais rebater, esse grande jornal pegou essa mesma pesquisa de julho, que eu estava em quinto e botou na capa de novo. A gente já tinha pesquisas internas que me mostravam em primeiro, qualitativa e quantitativa. Não era interessante para a gente divulgar isso. Os meios de comunicação se interessam uma vez por mês. Esse grande jornal colocou a mesma pesquisa na capa e eu não podia mais responder. Naquela época esse jornal ainda era grande, hoje ele está fraco, caído. Com essa crueldade eu devo ter perdido uns 300 mil votos.

‘Perseguição da mídia’. Semelhanças com Lula

Em 2014, eles quiseram assassinar minha reputação, me colocaram tão para baixo, me deixaram com tão baixa auto estima, que nem fui ao TRE saber se estava inelegível. Vejo muitas semelhanças entre Lula e eu. Querem tirar Lula do jogo. É capaz de quando passar as eleições, soltarem o Lula. Outra semelhança entre eu e o Lula é a opção pelos mais pobres. Lula é uma inspiração para mim. Tudo que fizeram comigo estão fazendo com o Lula.

Auto avaliação: nota 10

Eu como só vejo o lado luz das pessoas, tenho que me dar nota máxima! Todo ser humano tem qualidade e defeitos, toda gestão erra e acerta em algumas coisas. Quando você tem um aparelhamento forte da mídia contra mim, eles pintaram com tintas mais fortes o lado ruim. Eu não caí de para quedas na prefeitura.

Aposentadoria fora dos planos

De jeito nenhum, nem pensar! Isso é missão de vida. Aí entra meu lado espiritual. Eu tenho um talento especial que Deus me deu ao nascer, uma missão e até na família onde você nasce. Tudo tem um motivo. Eu não seria honesto comigo mesmo e com os que eu me comprometi.

 

Fonte: bahia.ba

Maurílio Fontes

Proprietário, jornalista, diretor e responsável pelo Portal Alagoinhas Hoje

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