Irlanda deve ser primeiro país a deixar de investir em combustíveis fósseis

Embora a Noruega, a maior produtora de petróleo da Europa, ainda não tenha decidido se acatará a recomendação de desinvestimento, a sugestão mesma é um sinal de que a confiança no futuro do negócio do petróleo está em baixa mesmo em um dos principais produtores da commodity.

Na última quinta (12), a Irlanda votou em favor da retirada de seus investimentos públicos em combustíveis fósseis, desdobramento que representa o mais significativo avanço até hoje na campanha mundial dos ambientalistas pelo desinvestimento.

A câmara baixa do Legislativo aprovou um projeto de lei que requer que o fundo nacional de investimento irlandês, que administra € 8,9 bilhões (R$ 40 bilhões) em capital público para investimento, retire seu investimento do segmento de combustíveis fósseis “o mais cedo possível”.

Um assessor de Thomas Pringle, parlamentar que propôs a medida, disse que o projeto tem o apoio do primeiro-ministro Leo Varadkar e que deve se tornar lei. Quando o fizer, a Irlanda se tornará o primeiro país a assumir formalmente o compromisso de retirar seus investimentos no setor de combustíveis fósseis.

A votação do Parlamento irlandês surge depois de uma recomendação do banco central norueguês, no final de 2017, para que o fundo nacional de investimento do país, que detém US$ 1 trilhão (R$ 3,85 trilhões) em capital, abandonasse seus investimentos em companhias petroleiras.

Embora a Noruega, a maior produtora de petróleo da Europa, ainda não tenha decidido se acatará a recomendação de desinvestimento, a sugestão é um sinal de que a confiança no futuro do negócio do petróleo está em baixa mesmo em um dos principais produtores da commodity.

Neste mês, a Igreja Anglicana votou pela venda de seus ativos em companhias petroleiras que não tenham alinhado seus planos de negócios ao Acordo de Paris para reduzir o aquecimento global. 

E poucos dias antes disso, o Papa convocou os líderes de algumas das maiores companhias de petróleo do planeta e instou que ajam com urgência para atenuar a mudança do clima.

O projeto de lei original pedia que o desinvestimento fosse concluído em cinco anos, mas uma emenda posterior introduziu mais flexibilidade quanto ao prazo.

O texto agora será encaminhado ao Senado da Irlanda, que pode postergar sua implementação, mas não tem poderes para reverter a decisão da câmara baixa.

O movimento mundial pelo desinvestimento insta universidades, fundos de pensão e fundos nacionais de investimento a tirar seu dinheiro de empresas que lidem com carvão, petróleo e outros combustíveis que contribuem para a emissão dos gases responsáveis pelo efeito estufa, causador do aquecimento global. 

A ideia é semelhante a uma campanha conduzida por universitários nos anos 80 para convencer os fundos mantenedores das universidades a retirar seus investimentos da África do Sul, que na época vivia sob o apartheid.

Uma pesquisa recente da rede de ONGs Climate Action Network constatou que só a Polônia estava abaixo da Irlanda na lista de países europeus que menos fizeram para combater o aquecimento global.

Varadkar, que assumiu em junho, disse que deseja fazer da Irlanda “uma líder nas ações quanto ao clima”.

Fontes: The New York Times/Folha de São Paulo 
 

Maurílio Fontes

Proprietário, jornalista, diretor e responsável pelo Portal Alagoinhas Hoje

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