Hotéis caem na real com Copa e baixam preços de diárias

O torcedor que, em janeiro, planejou sua viagem para o Rio de Janeiro para assistir à final da Copa do Mundo 2014 muito provavelmente se assustou com a média de preços para a hospedagem em hotéis da cidade: R$ 1.441.

Ainda otimista com os frutos que o evento esportivo poderia render, o setor hoteleiro seguiu a lógica do mercado: elevou os preços com a expectativa de que a demanda fosse ser estrondosa, compatível ao discurso do governo de que essa seria a “Copa das Copas”.

No entanto, agora no mês de abril, com o megaevento já batendo à porta, o setor parece ter tomado um banho de água fria e já começa a reavaliar sua estratégia com promoções e diminuição significante dos preços.

A média de valor para hospedagem para a mesma partida citada acima, por exemplo, caiu 43%, para R$ 816, segundo levantamento feito pelo Trivago, site que compara preços de hotéis no mundo inteiro.

A queda não é exclusividade da capital carioca.

Os preços de hospedagem para a abertura do Mundial, que acontecerá no dia 12 de junho em São Paulo, variaram de R$ 775 em janeiro para R$ 621 em abril.

“Houve um claro erro de cálculo. Em São Paulo, é certeza que os hotéis terão uma ocupação baixa, aquém das expectativas”, afirma José Ernesto Marino Neto, presidente da BSH International, empresa de consultoria do setor hoteleiro.

Quartos vazios

Com pouco mais de quarenta dias para o início da Copa, 40% dos quartos dos hotéis do país ainda estão disponíveis durante o período do evento, que vai de 12 de junho a 13 de julho.

O levantamento é do Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil (FOHB), que utiliza dados de sua rede credenciada, que corresponde a 71% dos quartos das grandes redes nacionais e internacionais que operam no país. (Veja a pesquisa completa no final da matéria)

Em relação especificamente a cada cidade-sede, o valor mais discrepante é o de São Paulo, que ainda tem 64% dos quartos desocupados. Apenas 24% das vagas já foram vendidas e 12% fazem parte da cota bloqueada pela Fifa.

Segundo a assessoria da FOHB, o fenômeno pode ser explicado, em parte, porque a cidade possui o maior parque hoteleiro do país, com cerca de 43 mil quartos.

Esse total seria suficiente para abrigar mais de um grande evento ao mesmo tempo, sem que a lotação máxima seja atingida.

Além disso, para a entidade, já era esperado que o turismo de lazer motivado pela Copa não seria capaz de compensar o turismo de negócios, parcialmente suspenso ou adiado pelas empresas.

De quem é a culpa?

É fato que a grande maioria do público que comparecerá às partidas é formada pelos próprios brasileiros, o que diminui a necessidade de hospedagem, uma vez que viagens de ida e volta podem ser realizadas no mesmo dia.

Apesar desses argumentos, o presidente da BSH discorda completamente que o “fracasso” de ocupação fosse esperado pelo setor hoteleiro. De acordo com ele, a taxa normal de ocupação (sem Copa) em São Paulo nos meses de junho e julho supera os 70%.

“Superestimou-se muito a demanda. O governo cometeu um erro grave e fez com que todo mundo no Brasil acreditasse Copa ia lotar o país inteiro, de ponta a ponta”, afirma Marino Neto.

Na avaliação dele, a Embratur não cumpriu com o papel de divulgação da imagem do país no exterior.

“Os maiores mercados do mundo estão a mais de 10 horas de voo distantes do Brasil. O evento por si só não é capaz de motivar os turistas a enfrentarem essa distância”.

“Ao contrário da África do Sul, não fizermos o dever de casa. Não vamos alcançar todo o potencial que a Copa poderia trazer, pois o Brasil não foi apresentado da maneira como deveria ter sido, com todas as suas atrações para os turistas”, disse.

Marino Neto acredita ainda que a onda de manifestações e a preocupação com a segurança pública pode ter contribuído para afastar os estrangeiros, que tiveram intensificada a visão do Brasil como um país violento, devido aos recentes confrontos entre polícia e população.

Quem sai ganhando

No entanto, o cenário pessimista não chega a atingir todas as cidades que sediarão os jogos.

Para Marino Neto, apesar de ser quase certeza que Rio e São Paulo sairão perdendo, ainda há esperança para cidades com menor potencial turístico e parque hoteleiro que as duas grandes capitais.

No bolão do especialista, Natal sairá ganhando com o preço médio de hospedagem de R$ 487. Já Curitiba empata, com a média de preço de R$ 496.

Fonte: Exame

Maurílio Fontes

Proprietário, jornalista, diretor e responsável pelo Portal Alagoinhas Hoje

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