Ano foi marcado pelo pior desempenho das maiores empresas

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Em tempos de uma das mais severas recessões econômicas vividas pelo Brasil, empresários e executivos estão ávidos por qualquer sinal de que a crise começa a se dissipar — ou, pelo menos, parou de se aprofundar. A festa anual de premiação das empresas destacadas por MELHORES E MAIORES costuma ser um termômetro do ânimo da economia do país. E neste ano não foi diferente.

A 43ª edição do anuário de Exame refletiu, sem dúvida, a gravidade da situação no país. Em 2015, a receita das 500 maiores empresas caiu, em termos reais, 4,6%, as dívidas subiram 12% e 178 000 empregos desapareceram nessas companhias. O lucro de 18 bilhões de dólares em 2014 virou prejuízo de 19 bilhões no ano passado.

O cenário, portanto, ilustrava perfeitamente o encolhimento de 3,8% do produto interno bruto. Mas, mesmo diante de números tão ruins, os cerca de 850 empresários e executivos que se reuniram no dia 29 de junho no Teatro Santander, em São Paulo, deram mostra de que a confiança começa a voltar no setor produtivo.

O sinal positivo que muitos buscavam veio do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, que discursou na abertura do evento. Para ele, a deterioração da fé no país é resultado de uma evidência: o crescimento da despesa e da dívida do setor público estava numa trajetória insustentável. Mas ressaltou também que os mercados já apontam para uma reversão de ânimo.

“Quando a confiança começa a voltar, o cidadão, que está em casa com medo de perder o emprego e não está consumindo, e o empresário, que está receoso e parou de investir, passam a se movimentar. A roda da economia volta a girar”, disse Meirelles.

Apesar do otimismo contido que permeou a festa, o consenso é que a retomada será lenta. Os mais recentes indicadores que medem a atividade econômica confirmam isso. Dados de maio indicam que o faturamento das empresas encolheu 3,8% em relação a abril. As montadoras encerraram o primeiro semestre com o menor nível de produção para o período desde 2004.

As vendas do comércio na cidade de São Paulo encolheram 11% nos primeiros seis meses do ano. De acordo com o boletim Focus, do Banco Central, os analistas de mercado projetam uma recessão de 3,3%. É ruim, mas a expectativa apurada quatro semanas antes era de -3,7%.

“Esta é uma fase de nossa vida corporativa que parece feita sob encomenda para empresas e pessoas fortes, com enorme capacidade de adaptação e resiliência, com coragem para investir e resistir ao impulso natural de se retrair e esperar”, disse o presidente executivo do Grupo Abril, Walter Longo, em sua saudação ao público na premiação.

O evento de Exame também foi um momento de aproximação entre a iniciativa privada e o novo governo — além de Meirelles, estavam presentes o ministro-chefe da Secretaria de Governo, Geddel Vieira de Lima, o ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, Gilberto Kassab, e o senador e presidente do PMDB, Romero Jucá. O presidente da Abril aproveitou para transmitir um recado aos políticos.

“Apostem na economia de mercado, na meritocracia e na liberdade de empreender, eliminando drasticamente a burocracia e a centralização exagerada de poder”, disse Longo. “A história tem nos dado provas de que só um país que estimula a livre-iniciativa tem condições de almejar melhores tempos.”

Produtividade

A trajetória em 2015 das empresas destacadas por Exame mostra que é possível alcançar a excelência mesmo em épocas tão adversas. Uma das principais lições vem da Telefônica, ganhadora do título de Empresa do Ano, entre as 20 companhias que se destacaram nos segmentos da indústria, do comércio e dos serviços.

No Brasil desde 1996, a companhia espanhola chegou numa época em que o desafio era reduzir o custo da telefonia fixa e instalar telefones públicos a cada 600 metros em qualquer cidade que tivesse mais de 300 habitantes. Hoje, a empresa tem 100 milhões de clientes que usam o celular para quase tudo, menos para fazer ligações.

“O mundo é cada vez mais digital, e as pessoas precisam de conectividade”, disse Amos Genish, presidente da Telefônica, dona da marca Vivo. “O ano foi extraordinário para a Vivo porque consolidamos a empresa como líder do setor e avançamos na transformação digital com projetos que geram eficiência e simplificação em produtos, serviços e atendimento.”

Os bons exemplos não vieram apenas de companhias que atuam na indústria e nos serviços. No agronegócio, raro segmento que não deixou de dar notícias positivas mesmo no auge da crise, a grande vencedora é o Laticínios Bela Vista, dono da marca Piracanjuba. A empresa de Goiás, que processa 4,3 milhões de litros de leite por dia, tem investido no aumento da produtividade para ampliar as margens.

Assim como o Bela Vista, muitas empresas viram na crise a oportunidade para fazer uma revisão de seus processos e produtos e aumentar a eficiência. Ninguém gosta de crise, mas elevar a produtividade em meio a uma recessão como esta é um dos traços que distinguem as melhores empresas.

Fonte: Exame

Maurílio Fontes

Proprietário, jornalista, diretor e responsável pelo Portal Alagoinhas Hoje

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