‘Há uma disposição das Forças Armadas de tutelar’, diz Heloisa Starling

Em seu novo livro, “A máquina do golpe — 1964: Como foi desmontada a democracia no Brasil”, a historiadora resgata minuciosamente o período que antecedeu o golpe. Ao comparar 64 com o 8/1, Heloisa ressalta o papel da sociedade na defesa da democracia, fala em destruição das Forças Armadas pelo ex-presidente Jair Bolsonaro e alerta para a decisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de não relembrar o passado.

Países da América do Sul têm tratamentos tão diferentes em relação à memória e a golpes. Como a senhora analisa essa questão no Brasil?

Por que conhecer a história do golpe de 64 é importante? Porque ela fornece repertório para a gente pensar o presente. Como aconteceu? Como esse golpe foi organizado? Como podemos garantir a democracia? O passado é que fornece esse repertório para que a gente possa avançar e reparar os erros. Não é por acaso que a fatia reacionária da sociedade brasileira, que é o bolsonarismo, tenta apagar o passado. Exatamente porque querem controlar a História e o presente.

O que acha de o governo não promover eventos sobre os 60 anos do golpe?

É um erro do presidente Lula, muito pelo que falamos anteriormente. Quando entendermos o que falamos sobre 64, entenderemos o que acontece hoje. O compromisso do presidente com a democracia é real, não há o que discutir. Pode ser que o contexto, aí estou rigorosamente especulando, dentro daquilo que ele viveu no período da ditadura, tenha feito ele avaliar dessa maneira.

Em 64 o golpe se consolidou, com apoio dos EUA e de governadores. Por que isso não se repetiu em 8/1?

O 8 de Janeiro foi a segunda etapa da tentativa de golpe, antes houve o planejamento. Foi a execução, quando cria-se uma ação política de desestabilização das instituições para que se possa agir e tomar o poder, que é a terceira etapa. Mas o momento era diferente de 64, da situação de desestabilização. A posição internacional, também. Em 64, os Estados Unidos eram a favor do golpe e hoje são completamente contrários, com manifestações inclusive de outros países, que não dariam apoio a essa ação. A imprensa no 8/1 defendeu a democracia, o que não aconteceu em 64, quando o editorial de um dos jornais mais importantes do Brasil, o “Correio da Manhã”, saiu com um “Fora, Jango!”. O terceiro elemento foi a grande parte da sociedade brasileira que no 8 de janeiro saiu em defesa da democracia, que se manifestou a favor do voto. Em 64, ocorreram reações diferentes, como a Marcha da Família. No 8 de janeiro, as forças a favor da democracia e da legalidade se uniram.

Fonte: O Globo

Maurílio Fontes

Proprietário, jornalista, diretor e responsável pelo Portal Alagoinhas Hoje

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