Fila por doutorado na Universidade de Coimbra irrita alunos brasileiros
Tradicional destino de estudo para advogados e juristas brasileiros, a Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, em Portugal, tem levado até três anos para realizar as bancas de conclusão do doutorado.
A demora contraria o regulamento do próprio curso, que estabelece em 220 dias (pouco mais de sete meses) o prazo máximo entre a entrega da tese e sua avaliação.
A demora na obtenção do título acontece com alunos de todas as nacionalidades, mas atinge particularmente os brasileiros, que representam 68,4% dos matriculados no doutorado da instituição.
Do total de 339 alunos inscritos atualmente neste curso, 232 são brasileiros.
Entre os problemas apontados, estão a impossibilidade de participar em concursos públicos que exigem o grau de doutor e até processos de improbidade na prestação de contas para bolsas de estudo.
Um dos estudantes brasileiros, que, assim como os demais que conversaram com a reportagem, pediu para não ter seu nome publicado por temer represálias, conta que o resultado do seu trabalho será inútil, pois a demora tornou o tema juridicamente obsoleto.
Ele espera há mais de 18 meses para agendar a banca.
Outro estudante, que aguarda há mais de um ano para saber se sua tese precisa ou não de alguma modificação —o prazo do regulamento é de 60 dias após o recebimento composição da banca— diz ter entrado em depressão.
Segundo ele, o tema estava “na crista da onda no Brasil” e havia pouca coisa escrita sobre o assunto. No mais de um ano de espera, ele conta que foram publicados pelo menos dois livros de pesquisadores sobre o assunto.
Outro problema, ele relata, é que a faculdade não permite que ele divulgue resultados parciais do estudo, porque não seria mais inédito e a banca pode não aprová-lo.
Professor licenciado de uma universidade pública no Brasil, outro advogado teme as consequências financeiras de não conseguir terminar o doutorado nos cinco anos descritos pela instituição.
“Pareço incompetente. Fico refém de um doutorado que eu não sei quando vai terminar. Honestamente, já penso em fazer um outro no Brasil.”