Férias coletivas param ‘um Maracanã’
A Copa começa nesta quinta-feira (12) com o equivalente a pouco mais de um Maracanã superlotado de trabalhadores em férias coletivas pelo país.
São ao menos 85 mil pessoas nessas condições, espalhadas por oito Estados, segundo levantamento da Folha com sindicatos, empresas e entidades patronais.
Parte delas já está em férias coletivas. Outras entram a partir de hoje e ficam assim nas próximas semanas.
Os setores mais afetados são o de produtos eletrônicos e o automotivo, em especial o último, com ao menos dez montadoras sob esse regime.
Na Ford, por exemplo, são cerca de 10 mil em férias.
Um deles é Victor Teles, 24, há dois anos e meio na fábrica da Ford em Taubaté (a 140 km de SP) e desde a última segunda-feira (9) em férias coletivas. “Vou aproveitar para ver os jogos [da Copa]. Combinamos um churrasco, no fim de semana, na chácara com amigos.”
Guilherme Henrique, 18, que trabalha na linha de produção e também está de férias coletivas, diz que foi pego de última hora com o aviso da empresa e não teve tempo para se programar.
“Pretendo ver os jogos com os amigos em um bar. Se o Brasil for para as finais, aí vamos fazer um churrasco.”
Editoria de Arte/Folhapress | ||
Apesar da Copa, o clima é de apreensão entre os funcionários. Alguns temem receber cartas de demissão durante esse período de férias.
Na Ford, há férias coletivas nas unidades de São Bernardo do Campo (SP), Camaçari (BA) e Taubaté (SP), onde há em curso um programa de demissão voluntária. A montadora fala em ajuste no “nível de produção à demanda do mercado” e no estoque.
De acordo com o último balanço da Anfavea (Associação Nacional de Fabricantes de Veículos Automotores), a produção de veículos nos cinco primeiros meses do ano recuou 13,3% em relação a 2013.
No setor eletroeletrônico, a Whirlpool, das marcas Brastemp, Consul e KitchenAid, é uma das empresas a optar pelas férias coletivas. Serão 14 dias (de 12 a 25 de junho) para 5.000 funcionários da área administrativa de todas as unidades no Brasil.
“Foi uma solução para que os funcionários possam ver os jogos e a empresa não tenha perdas”, diz, em nota.
Para o pesquisador José Dari Krein, do Cesit (Centro de Estudos Sindicais e Economia do Trabalho), da Unicamp, há margem das indústrias para essas férias coletivas, diante da economia fraca e dos altos estoques. “Isso acontece em todos os anos de Copa. As empresas criam um mecanismo de compensação e ajustam a sua produção.”
Para os trabalhadores, no entanto, a parada obrigatória não é bem-vinda. “Ficamos inseguros. Muitas empresas falam que as férias coletivas são a primeira medida. Depois podem demitir”, afirma Miguel Torres, presidente nacional da Força Sindical.
Segundo ele, outro fator negativo é o desconto desses dias parados nas férias regulares dos trabalhadores.
O conjunto das pessoas que acreditam em aumento do desemprego nos próximos meses, por exemplo, atingiu 48% em pesquisa Datafolha da semana passada –um recorde no governo Dilma.
SEM COMEMORAÇÃO
“Não vai ter comemoração. As pessoas estão bastante apreensivas com a possibilidade de perder o emprego. Para a Copa, não planejei nada”, diz Anderson Aparecido dos Anjos, 37, há 17 anos na Eaton, em Valinhos (SP).
Pai de três filhos, afirma que não aproveitará a Copa nem as férias coletivas iniciadas na terça-feira (10).
“A gente fica tenso com o que pode acontecer”, completa o funcionário da multinacional que produz peças para o setor automotivo.
Para José Nunes Filho, representante do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo), a indústria não quer demitir, mas contratar, investir e crescer. No entanto, há um esgotamento no estímulo ao consumo e o endividamento da população.
“Você não pode atuar na economia só em uma ponta. Tem de aumentar a produtividade, a infraestrutura.”
Diretor do Sindicato dos Metalúrgicos de Campinas, região que concentra indústrias automobilísticas, Sidalino Orsi Júnior afirma que o sinal amarelo está aceso, mas culpa as indústrias.
“São crises instaladas para ver se arrancam mais do governo. E, infelizmente, o prejudicado é o trabalhador.”
Fonte: Folha de São Paulo