Escassez de água pode minar planos de Geraldo Alckmin para 2018

O governador Geraldo Alckmin é o primeiro político a depender das imponderáveis forças da natureza para tentar se desviar da avalanche que ameaça deslizar ladeira abaixo sua fama de bom gestor e político vitorioso. “A estiagem vai destroçar a imagem de Alckmin, secando sua pretensão de se tornar o candidato do PSDB à Presidência da República em 2018”, prevê o cientista político Gaudêncio Torquato.

Pesquisa do instituto Datafolha divulgada no sábado (7) mostra que, três meses e meio depois das eleições, a crise hídrica desidratou Alckmin. A aprovação de seu governo caiu dez pontos no quesito ótimo/bom (dos 48% em outubro, agora ele tem 38%) num momento em que a falta d’água, conforme especialistas, está apenas no começo.

A crise já antecipa, segundo ele, uma novidade na agenda política: será a água – e não mais a economia – o tema que prenderá a atenção do eleitor nos próximos anos no Sudeste e, em especial, na região metropolitana de São Paulo.

Depois de se eleger no primeiro turno e garantir ao ex-candidato presidencial Aécio Neves a mais expressiva votação do País, Alckmin reforçou as críticas ao governo federal e a seu partido, numa clara mudança de discurso para se colocar como alternativa tucana para as eleições de 2018.

Um eventual fracasso do governador no gerenciamento da crise não só minaria suas pretensões para 2018 como reabriria uma velha disputa interna no PSDB entre Aécio e o ex-governador José Serra. Agora com oito anos de mandato no Senado, Serra pode voltar a sonhar como o Palácio do Planalto. Antes de se recolocar no páreo, o governador paulista terá de fazer um acerto de contas com a população.

“Os problemas da água não apareceram no ano passado por incompetência da oposição e pelo forte marketing do governo estadual, que escondeu a crise”, diz o ex-deputado, advogado e analista político Airton Soares.

Em um seminário sobre a reforma política na semana passada em São Paulo, Soares disse que a propaganda em horário gratuito, como está sendo feita, engana a população e tem fraudado as eleições. No caso de São Paulo, segundo ele, a propaganda simplesmente escondeu os riscos de um colapso que já era evidente antes do pleito.

Gaudêncio Torquato completa: “Quando o povo da Vila Sônia e de Sapopemba (regiões da periferia de São Paulo) descobrir que a torneira secou e faltarem os reais necessários para comprar água mineral, haverá revolta e Alckmin vai ser execrado por não ter adotado as medidas preventivas.”. Segundo ele, não haverá, então, estratégia de marketing capaz de evitar o desgaste.

É consenso entre os climatologistas que as águas de fevereiro e março, se vierem, serão insuficientes para evitar um racionamento mais drástico. E com ele emergirá uma demanda que foi reprimida justamente para evitar que o medo hoje estampado na fisionomia da população ameaçasse o favoritismo do tucano.

Segurança pública

Em regiões da periferia de Guarulhos e da zona sul da capital, a presença de viaturas da PM escoltando carros-pipa já é sintoma dos prováveis problemas de segurança que a crise hídrica poderá ocasionar e do desgaste político que ameaça a figura do governador.

Em artigo publicado no “Le Monde Diplomatique”, quatro especialistas brasileiros – o geólogo Delmar Mattes, o arquiteto e urbanista Renato Tagnin, o engenheiro José Prata e Claudomiro dos Santos – antecipam três cenários possíveis: no melhor, chuvas intensas e volumosas retardariam a crise; no segundo cenário, com chuvas abaixo da média anual, haveria total desabastecimento a partir de abril; no mais complicado, o prolongamento da estiagem resultaria em uma catástrofe.

Os especialistas alertam que diante da ausência de um plano emergencial ou de contingência, as alternativas individuais de suprimento vão se proliferar, com perspectiva de desorganização dos sistemas de distribuição, aumento de violência e convulsão social. Segundo eles, já há sinais de que a água está sendo buscada onde é possível, a qualquer preço e por meios legais ou não.

“Enquanto isso, o governo paulista vem se preparando para possíveis manifestações e mesmo graves levantes sociais em razão da falta de água: a alta cúpula da Segurança Pública da Polícia Militar do Estado de São Paulo esteve recentemente nos Estados Unidos, onde manteve contato com a direção da Swat para se preparar e montar esquemas de segurança, passando, portanto, a considerar a falta de água não como um problema social, mas de segurança pública”, afirmam os autores do artigo.

A perspectiva é ruim para Alckmin. O mote da oposição será o confronto entre o então candidato – que exibia números positivos sobre os recursos hídricos – e o governador reeleito que, na entrevista coletiva depois da audiência com a presidente Dilma Rousseff, na semana passada, falava em esforço “para diminuir ao máximo o sofrimento da população” e em distribuir caixas d’água de graça para a população de baixa renda.

O curioso é que as críticas à gestão tucana sobre a crise hídrica partiram mais de Dilma do que do PT paulista durante a campanha. Passada a eleição, a presidente reafirmou que apoiará os governos com dificuldades no abastecimento de água – Minas Gerais, Rio de Janeiro e Espírito Santo também podem enfrentar escassez –, mas fez questão de frisar que os problemas são dos Estados, conforme reza a Constituição.

Fonte: iG

Maurílio Fontes

Proprietário, jornalista, diretor e responsável pelo Portal Alagoinhas Hoje

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