Entidade ligada a Luiz Argôlo captou R$ 2 milhões para festas juninas

RANCHO ALEGRE 1

Uma entidade ligada ao ex-deputado federal Luiz Argôlo (SD-BA), investigado na Operação Lava Jato e preso desde o dia 10, captou R$ 2,1 milhões de estatais e empresas privadas via Lei Rouanet para promover festas juninas no interior da Bahia.

Batizado de Transbaião, o projeto aprovado no Ministério da Cultura em 2012 e 2013 envolvia viagens num trem “cultural” para 54 convidados do ex-deputado embalado por bandas de forró.

Também promoveu shows com distribuição de gratuita de ingressos, cirurgias e consultas médicas nas cidades onde o veículo passou –a maioria delas redutos eleitorais do ex-deputado, incluindo sua terra natal.

O patrocínio dá direito às empresas parceiras a abater até 100% do valor doado no Imposto de Renda.

Em 2012, o projeto teve prestação de contas rejeitada pelo Ministério da Cultura. As contas do Transbaião de 2013 ainda estão sob análise.

A responsável pelo projeto é a Associação dos Criadores da Região de Entre Rios, cuja sede fica na fazenda Rancho Alegre, da família de Argôlo. A entidade foi declarada de utilidade pública em projeto do ex-deputado baiano.

PATROCINADORES

Entre as patrocinadoras do Transbaião está a Arbor Assessoria Contábil –empresa de propriedade de Meire Poza, contadora do doleiro Alberto Youssef que desde o ano passado colabora com as investigações da Lava Jato.

Procurada pela Folha, a contadora nega ter patrocinado o projeto via Ministério da Cultura e acusa Youssef de ter usado indevidamente os dados de sua empresa (leia texto ao lado).

Também patrocinaram o Transbaião via Lei Rouanet as estatais Chesf, Caixa Econômica Federal e as empresas privadas Vale, M. Dias Branco e Grupo Petrópolis.

Petrobras, Banco do Brasil, Banco do Nordeste e governo da Bahia injetaram dinheiro diretamente no projeto, sem as contrapartidas fiscais via Lei Rouanet.

Em entrevistas à imprensa e vídeos institucionais, o ex-deputado Argôlo apresentava-se como idealizador e coordenador do Transbaião.

Quando o projeto foi registrado no Ministério da Cultura, a entidade era dirigida por Juelisia Santana de Souza, que até 2011 foi secretária parlamentar do ex-deputado.

CONTAS REJEITADAS

A execução do Transbaião em 2012 e 2013 movimentou 13 cidades do interior baiano. Em 2012, o projeto bancou shows de artistas populares como Zezé di Camargo e Luciano, Banda Calypso e Chiclete com Banana.

Em 2013, um ano antes da eleição, a programação de shows foi trocada por chamadas “ações de cidadania”.

Um vídeo institucional do Transbaião estima a realização de 20 mil atendimentos médicos e 2.000 cirurgias pelo Transbaião.

Mas a execução do projeto teve a prestação de contas rejeitada pelo Ministério da Cultura em 2012, que alega que houve “má execução do projeto pelo proponente” por não ter atendido o quesito “democratização do acesso”.

Segundo o ministério, a entidade havia apresentado o projeto como “totalmente gratuito para a população de baixa renda”.

Contudo, em ofício enviado após o evento, os responsáveis pelo Transbaião informaram que o evento seria “somente para convidados”, o que contraria as regras da lei federal de incentivo.

A rejeição de contas poderá resultar na exigência de devolução de recursos, segundo o ministério.

OUTRO LADO

Contadora do doleiro Alberto Youssef entre 2012 e 2013, Meire Poza afirmou estar “boquiaberta” e “indignada” por saber que sua empresa consta como doadora de recursos do Transbaião.

Poza alega que sua empresa é de pequeno porte e não tem recursos para apoiar projetos culturais.

Questionado sobre o patrocínio ao projeto, o Ministério da Cultura apresentou um documento assinado por Marcos Oliveira de Carvalho, então presidente da entidade, que aponta a empresa Arbor como doadora.

Também apresentou comprovante de depósito de R$ 60 mil na conta do Transbaião. Não foram exigidos documentos assinados por Meire Poza.

O advogado de Alberto Youssef, Antônio Figueredo Basto, afirma que desconhece qualquer atuação de seu cliente no projeto Transbaião e destacou que somente a proprietária da Abor Consultoria, Meire Poza, pode responder sobre a empresa dela.

Omar Geha, advogado de Luiz Argôlo, afirmou que não comentaria o caso, argumentando que nenhuma negociação do deputado com Youssef envolveu recursos públicos.

Por quatro dias seguidos, a Folha tentou falar com o atual presidente da Associação de Criadores de Entre Rios, Otávio Oliveira de Carvalho, mas não obteve sucesso.

Por telefone, funcionários confirmaram que a entidade funciona na fazenda Rancho Alegre, de propriedade da família do ex-deputado.

Fonte: Folha de São Paulo 

Foto:Alagoinhas Hoje – Sede da Fazenda Rancho Alegre (Entre Rios)  

Maurílio Fontes

Proprietário, jornalista, diretor e responsável pelo Portal Alagoinhas Hoje

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