Eliana no PSB, temporal na Bahia (e no País) – Vitor Hugo Soares

Durante seis horas de chuvas, na quinta-feira, 28, Salvador e inúmeras cidades do interior do estado viraram um caos e um alvoroço só. A Cidade da Bahia (como o poeta satírico Gregório de Mattos e o escritor Jorge Amado preferiam chamar a capital) foi revirada de pernas para o ar. Uma jornada infernal para não esquecer.

Mal comparando, algo semelhante ao que acontece na política estadual nos últimos dias, mais precisamente, desde que a ministra Eliana Calmon ingressou com pedido de aposentadoria antecipada, confirmou que vai ingressar no PSB, e o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, presidente nacional do partido e candidato ao cargo de Dilma Rousseff, ano que vem, pediu tapete vermelho para a festa de recepção, em suas hostes políticas, da ex-corregedora geral do Conselho Nacional de Justiça.

Fato (programado em princípio para 19 de dezembro em Salvador) tão surpreendente e estrondoso, na vida partidária e na história política da Bahia, quanto outro acontecimento relativamente recente: o anúncio do ingresso, no bloco socialista, da ex-senadora e ex-ministra Marina Silva, em seguida ao golpe cartorial que a líder ambientalista sofreu, no Superior Tribunal de Eleitoral, ao ver rejeitado o pedido de registro da Rede Sustentabilidade, partido pelo qual Marina (bem nas pesquisas) pensava enfrentar a tentativa de reeleição da atual ocupante do Palácio do Planalto.

Provavelmente em razão do impacto, e pelos motivos apontados na abertura deste artigo semanal de opinião, as chuvas arrasadoras desta semana, na capital e no interior da Bahia, foram denominadas, em círculos descontentes do PT local, de “Temporal Eliana”.

Segundo “Raio Laser”, há décadas uma das mais lidas, bem informadas e influentes colunas políticas do jornalismo impresso local, publicada na Tribuna da Bahia, a maledicência foi disseminada por petistas ligados ao senador Walter Pinheiro e ao secretário José Sérgio Gabrielli (Planejamento estadual).

Este, ex-presidente da Petrobras, e nome do gosto do ex-presidente Lula para candidato do PT na sucessão ao “galego” Jaques Wagner (a expressão é do ex-presidente), amigo do ocupante atual do Palácio de Ondina.

Na quarta-feira, véspera do “dilúvio baiano”, antevéspera da reunião para a escolha, pela militância partidária, de um dos três nomes em acirrada disputa (Pinheiro, Gabrielli e Rui Costa, secretário chefe da Casa Civil do governo), veio o golpe praticamente demolidor das pretensões dos dois competidores descontentes.

Entrevistado no programa do radialista Mário Kertész (ex-prefeito de Salvador) na Rádio Metrópole, de enorme audiência na capital e no interior, o governador escancarou sua preferência e apoio pessoal a Rui Costa.

Um petardo na retaguarda, já se vê. Espalha estilhaços perigosos por todos os lados. Não só internamente, a exemplo dos protestos abertos dos dois influentes petistas descartados esta semana, mas também no meio das chamadas forças auxiliares do governo Wagner. Os reflexos que tendem a atingir, negativamente, a campanha de reeleição de Dilma na Bahia, no Nordeste e no resto do país.

Mas não pára aí o temporal político destes dias na terra de Gregório de Mattos.

Jaques Wagner aproveitou a entrevista na Metrópole para disparar, também, contra o PSB. Ironizou o impacto político e eleitoral provável da entrada de Eliana Calmon no partido comandado por seu colega Eduardo Campos. Ele garantiu presença na festa, do tapete vermelho, da recepção à ex-corregedora do CNJ, que chega praticamente com a garantia de que será ela a candidata do partido à vaga baiana ao Senado em 2014.

Um fato, segundo experientes cabeças da política local e nacional, com eventual poder de fogo capaz de alterar correlação de forças na Bahia no ano que vem. Tanto na eleição para o governo estadual, quanto na campanha petista para reeleger Dilma. O governador, no entanto, não parece se abalar.

“Eleitoralmente, sinceramente, não sei avaliar se isso (a filiação da ministra Eliana Calmon ao PSB, para disputar ano que vem a vaga da Bahia ao Senado) vai ter um impacto muito grande, porque os critérios pelos quais o povo escolhe seus representantes passam por muitas coisas, além da própria qualificação da pessoa“, atirou Wagner.

O tempo, senhor da razão, vai mostrar quem tem farinha para vender na feira. O fato é que há abalos evidentes no PT baiano e nos partidos aliados, diante da opção declarada de Wagner por Rui Costa, o que praticamente encerra a pendenga da escolha partidária do nome à sua sucessão.

Amigos pessoais desde as lides sindicais em Camaçari, tocador de obras de seu governo, Wagner parece ver em Rui Costa o único em quem pode confiar para preservar a liderança pessoal que fundou e pretende manter no estado. Costa, no entanto, para um bocado de gente (mesmo petistas de tradição) é um candidato frágil política e eleitoralmente, carisma quase zero do ponto de vista de apelo pessoal.

Mais fácil de bater em 2014, creem os oposicionistas, que Nelson Pelegrino, o deputado petista derrotado por ACM Neto (DEM) nas eleições passadas para prefeito de Salvador, mesmo com apoio das máquinas estadual e federal. Sem falar nas participações incisivas (às vezes até agressiva) no palanque petista, de Wagner, Dilma e Lula.

Ontem, os oposicionistas Paulo Souto (DEM), Geddel Vieira Lima (PMDB) e Lídice da Mata (PSB), três nomes mais fortes nas pesquisas de opinião sobre a sucessão até aqui (Rui Costa se arrasta na lanterna) já coçavam as mãos, de contentes, e afiavam o verbo. A exemplo do pleito municipal passado em Salvador, a Bahia promete estar na vitrine nacional nas eleições estadual e presidencial do ano que está chegando. A conferir.

Vitor Hugo Soares é jornalista, editor do site blog Bahia em Pauta.

Fonte: Blog do Noblat

 

Maurílio Fontes

Proprietário, jornalista, diretor e responsável pelo Portal Alagoinhas Hoje

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