Como foi o debate entre Dilma e Aécio na Globo
Último evento da campanha presidencial, o debate da TV Globo, na noite desta sexta-feira, dividiu analistas ouvidos pela BBC Brasil quanto a um potencial impacto sobre os cruciais votos indecisos, cobiçados tanto por Dilma Rousseff (PT) quanto por Aécio Neves (PSDB).
Nas pesquisas divulgadas na quinta-feira, Dilma aparece com vantagem sobre Aécio. De acordo com o Datafolha, a candidata do PT tem 53% das intenções de voto, contra 47% do adversário, do PSDB. Já segundo o Ibope, a petista tem 54%, contra 46% do tucano. As duas sondagens têm margem de erro de dois pontos percentuais.
Ao término do último embate entre os dois candidatos, no entanto, a grande pergunta é: a dois dias do segundo turno de uma das eleições mais acirradas desde a redemocratização do país, o desempenho dos oponentes pode trazer vantagens ou desvantagens nas urnas?
Para Carlos Manhanelli, presidente da Associação Brasileira de Consultores Políticos, não deve haver grande impacto.
“O eleitor indeciso sai desse debate da mesma forma como entrou. Não acho que haverá um reflexo muito intenso, pois não foi gerado um fato novo, uma grande novidade. A lógica de comparação foi a mesma, as trocas de acusações também. Não vejo grande diferença”, avalia.
Já o cientista político Carlos Pereira, da FGV-Rio, acredita que pode, sim, haver um reflexo.
Ele atenta para os níveis de audiência do embate televisivo, que teria batido de 30 a 40 pontos em diversas capitais brasileiras, segundo dados preliminares. “É difícil avaliar agora, mas a percepção que tive é de que o desempenho dos candidatos pode refletir em alterações das intenções de voto nos próximos dois dias, sim”, diz.
48 horas
Mais enfático, o cientista político Ricardo Ismael, professor da PUC-Rio, acredita que o debate deverá influenciar os eleitores, sobretudo os indecisos.
“Esse debate vai ter um grande impacto na votação, sim, e nem seria necessário um fato novo durante os embates. O debate por si só é o fato novo. Houve grande audiência, aparentemente o Brasil parou para assistir. Resta saber como refletirá nas intenções de voto”, avalia.
“Haverá repercussão nas próximas 48 horas. Eu acho que amanhã de manhã a primeira pesquisa não captará inteiramente esse reflexo. As pessoas vão discutir, trocar opiniões, e até a votação o efeito poderá se cristalizar nas intenções de voto”, acrescenta.
Ismael atenta ainda para três grupos que estariam na mira dos candidatos nesta reta final da campanha: os eleitores que votaram em Marina Silva (PSB) no primeiro turno e sinalizam a intenção de anular o voto na segunda rodada; os indecisos e os eleitores que têm preferência por um candidato, mas ainda não descartaram alterar o voto na última hora.
Desempenho
Para os analistas, os candidatos tiveram desempenhos semelhante aos debates anteriores, com pequenas alterações dignas de nota.
Esperava-se que o candidato Aécio Neves explorasse mais as denúncias apresentadas pela revista Veja contra a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
“Ele abriu o debate com uma questão sobre a Veja, mas depois não retomou o assunto. Creio que a estratégia foi pontuar a questão, mas não saturar o eleitor, para evitar que o tema se tornasse um tiro pela culatra”, diz Carlos Pereira, da FGV-Rio.
Para Ricardo Ismael, da PUC-Rio, Aécio saiu-se bem ao optar por uma estratégia mais ousada. “Ele partiu para as perguntas mais difíceis. Denúncia da Veja, porto em Cuba, apostou em questões contundentes. Já Dilma optou por suas zonas de conforto: Pronatec, Minha Casa, Minha Vida, níveis de emprego”, avalia.
Já Carlos Manhanelli, da Associação Brasileira de Consultores Políticos, diz que embora Aécio tenha se saído muito bem, Dilma mostrou-se mais treinada, mais tranquila e com expressões mais suaves do que em debates anteriores. “É visível que o media training dela surtiu efeito. Ela gaguejou muito menos, mostrou-se mais segura”, avalia.
Bastidores
Do lado de fora da arena onde ocorria o confronto, dezenas de jornalistas, fotógrafos e cinegrafistas não convidados assistiam resignados ao último encontro entre os candidatos antes das eleições por televisores espalhados na sala de imprensa.
Logo no início, uma coordenadora de produção murmurou à assistente, preocupada com o buffet montado para atender a imprensa.
“Manda o pessoal trazer a comida que sobrou lá dos candidatos para servir aqui para os jornalistas. Senão vai estragar nos camarins.”
Pouco tempo depois, na medida em que o tom mais agressivo crescia entre os candidatos, o banheiro masculino localizado na sala de imprensa, o único da área, rapidamente se tornou uma espécie de “zona de paz”, um ponto de encontro entre correligionários de Dilma Rousseff e Aécio Neves.
Por ali passaram empresários e parlamentares de todas as matizes políticas, como o empresário João Dória Jr, o governador da Bahia Jacques Wagner (PT), o ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab (PSD) e o senador eleito José Serra (PSDB).
Bem humorado, Wagner contou que conversou com Serra no local. O conteúdo da conversa ele não revela.
Já o faxineiro responsável pela limpeza do banheiro (“Estou cansado. Quero que isso acabe logo para ir para casa”), diz não querer saber de política.
“Vou votar nulo”, rebateu sucintamente quando questionado pela reportagem se votaria em Dilma ou em Aécio.
Entrevistas
Ao fim do debate, a petista e o tucano deram entrevistas coletivas a jornalistas. A primeira a responder à imprensa foi Dilma, que roubou a cena.
Questionada por um jornalista sobre o que faria se descobrisse “eventualmente” que o esquema de corrupção da Petrobras teria abastecido um suposto caixa dois de sua campanha, como publicado pela revista Veja, a presidente respondeu categoricamente: “não existe esse ‘se’ na minha campanha. Próxima (pergunta)”.
A pergunta seguinte seria de um jornalista angolano e, logo depois, de um repórter japonês que, com um português claudicante, mas compreensível, questionou Dilma sobre a segurança dos investimentos na Olimpíada do Rio 2016.
“Olha, se eu bem entendi a sua pergunta”, disse a petista, e abriu um sorriso antes de responder.
Dilma finalizou lembrando um trocadilho do último debate, quando foi interrompida por uma assessora da TV Globo por ter ultrapassado o tempo. Interrompida mais de duas vezes, ela concluiu a frase e soltou: “já falei que vocês estão ficando com mania de tempo”.
Após a petista, foi a vez de Aécio subir ao púlpito e conversar com jornalistas.
O tucano criticou o que disse ser um “aparelhamento” da Petrobras pelo PT e afirmou que, se eleito, “vai demitir imediatamente” a diretoria da estatal. Ele falou que vai “priorizar profissionais de carreira” em detrimento de indicações políticas.
Aécio afirmou também que quer trazer a inflação “para baixo do centro da meta”.
Ele criticou ainda “os vândalos criminosos que atacaram a sede de um importante veículo de comunicação”, em alusão aos atos de vandalismo na sede da editora Abril, que aconteceram na noite dessa sexta-feira.
Fonte: MSN