Brasileiros amam ligar e mandar áudios, diz fundador do WhatsApp

O WhatsApp hoje tem 1,2 bilhão de usuários mundialmente, sendo que mais de 100 milhões deles são do Brasil. O cofundador do WhatsApp, Brian Acton, revela uma peculiaridade dos brasileiros em entrevista a EXAME.com: “Vocês usam muito a voz, fazem muitas ligações. Gostam de falar, creio eu”.

Acton conta que o uso do app no Brasil é muito grande e que encontramos maneiras criativas de conversar com empresas e pessoas.

Uma pesquisa nacional conduzida pelo Datafolha indica que sete entre cada dez usuários do WhatsApp no Brasil (71%) usam o app para enviar mensagens pessoais e corporativas, trocando até mesmo dados confidenciais. O instituto entrevistou 2.363 pessoas de 130 cidades.

Um dos motivos da confiança no aplicativo é o fato de que tudo ficar armazenado somente no smartphones. A empresa diz não guardar históricos, o que já lhe rendeu problemas com a Justiça brasileira, mas também evitou vazamentos de dados.

Acton vê como injustos os três bloqueios ao app nos últimos dois anos e conta sobre o futuro do aplicativo. Confira os melhores trechos da entrevista de EXAME.com com Brian Acton.

EXAME.com: A pesquisa sobre o uso do WhatsApp no Brasil indica que as pessoas confiam no aplicativo para falar com seus amigos e com empresas. Como vocês construíram essa confiança?

Brian Acton: Confiança é consistência ao longo do tempo. Pensamos nisso como resultado do que construímos durante muito tempo. Adicionamos recursos de segurança e recursos multimídia e mantivemos um forte foco em performance e confiabilidade. Com isso, conseguimos uma grande massa crítica de usuários do nosso aplicativo.

Quanto o mercado brasileiro é importante na estratégia do WhatsApp hoje?

O WhatsApp é o nosso maior mercado na América Latina. O Brasil tem uma população que usa muito ativamente o app e nos dá feedbacks. Valorizamos muito esse retorno dos usuários brasileiros. Eles nos contam sobre diferentes casos de uso com amigos e com empresas.

A pesquisa também indica que as pessoas confiam no aplicativo para compartilhar dados financeiros, e isso é muito bom. Quando vocês irão levar isso ao próximo nível e realmente entrar no mercado corporativo?

No ano passado, começamos o processo de iniciar a troca de mensagens com empresas. Em 2016, atualizamos nossos termos de serviços e de privacidade, algo que não fazíamos há anos, e isso preparou o caminho para o uso do WhatsApp por empresas. Além disso, estudamos casos de uso comercial. Em 2017, vamos ampliar nossos esforços nesse campo. A ideia é aumentar nosso alcance nessa área.

A maioria dos usuários brasileiros é contra o bloqueio judicial que aplicativo já sofreu por três vezes no Brasil. O que você pensa sobre o assunto?

O difícil é que muitas vezes o bloqueio tem a ver com produção de informações, dados de usuários. Para sermos honestos, não podemos fazer isso. Por isso, achamos que o bloqueio foi injusto. Só guardamos um pequeno número de dados de mensagens enquanto estamos entregando aos destinatários. Tudo que você tem fica no seu smartphone.

Nos últimos anos, o WhatsApp lançou recursos, como ligações e chamadas em vídeo. As mensagens ainda são o principal foco da empresa?

O texto segue como o coração do nosso negócio. Estamos sempre tentando melhorar a capacidade das mensagens que entregamos. Começamos como uma empresa de mensagens de texto e viramos uma companhia de comunicação em tempo real. Os recursos de voz e vídeo representam uma evolução natural, mas o texto não tem menor importância para a gente hoje. Na última semana, compartilhamos que nossos usuários enviam 50 bilhões de mensagens por dia no app.

Quantos funcionários trabalham na empresa atualmente?

É um pouco difícil dizer, são cerca de 200, sendo 80 engenheiros. Temos orgulho do que construímos com esse time.

Dado o grande número de usuário no Brasil, vocês já consideraram abrir uma sucursal por aqui?

Vamos avaliar isso conforme crescermos. Mas agora é mais fácil e prático gerenciar tudo aqui da Califórnia.

Há benefícios de ter presença local. Podemos aprender cultura e costumes do país e você estabelece relacionamentos. Mas ainda não estamos nesse estágio. A resposta não é um “não”, mas é um “ainda não”.

Como vocês pretendem manter o crescimento, agora que estão com 100 milhões de usuários no Brasil e 1,2 bilhão no mundo?

Ainda temos oportunidades de crescimento em diferentes partes do mundo. Pessoalmente, acho que a revolução dos smartphones que permite fazer muitas coisas, ser parte do mundo com ele. Há regiões em que as pessoas não podem ter isso ainda. Por isso, vai levar um tempo para que todos tenham acesso aos aplicativos e o Brasil não é diferente nesse aspecto. O crescimento será natural.

Muitos dos novos usuários que chegarão ao WhatsApp não sabem ler ou escrever. Você acredita que as ligações e as videochamadas via internet sejam cruciais para o aplicativo continuar a crescer no futuro?

Esses recursos são cruciais para continuarmos a engajar nossa comunidade do WhatsApp. Ele é o ponto da comunicação completa. Voz e vídeo também ajudam a criar essas simbiose de recursos. Você pode começar uma conversa por mensagem, depois, evoluí-la para voz ou vídeo.

O que os brasileiros no WhatsApp fazem algo de diferente dos usuários ao redor do mundo?

O brasileiro usa muito a voz, fazem muitas ligações. Vocês gostam de falar, creio eu. É uma característica cultural. Fiquei gratamente surpreso ao descobrir isso. Depois do lançamento das chamadas de voz, percebemos o quanto as pessoas gostam do recurso.

Para encerrar, alguma mensagem para os usuários brasileiros do WhatsApp?

Quero enfatizar que o Brasil é importante para nós e que e valorizamos como vocês nos ajudam a criar a rede do WhatsApp diariamente. Por favor, continuem com os feedbacks. E quanto à pesquisa do Datafolha, estamos aqui para criptografar mensagens e melhorar sistema de comunicação em tempo real.

Fonte: Exame

Maurílio Fontes

Proprietário, jornalista, diretor e responsável pelo Portal Alagoinhas Hoje

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