Bolsonaro corrompeu 7 de Setembro, mas quem leva tanta gente para a rua? – Vinicius Torres Freire

O olhômetro é precário, mas a avenida Paulista do 7 de Setembro bolsonarista de 2022 parecia ter pelo menos tanta gente quanto o comício golpista de 2021. Era gente do povo, com cara de metrô lotado às seis da tarde, um tanto diferente daquela que pedia a cabeça de Dilma Rousseff em 2016.

Jair Bolsonaro corrompeu a coisa pública a fim de se apropriar da data nacional, levar multidões às ruas, ocupar quase sozinho o tempo de cobertura jornalística e fazer vídeos de campanha. Teve sucesso.

Bolsonaro poderia, pois, ser objeto de vários processos de crime eleitoral, se houvesse Procuradoria-Geral. Provavelmente não dariam em nada, como tem sido o caso nestes últimos quatro anos, dos pedidos de impeachment que apodrecem no Congresso aos inquéritos que mofam no Supremo. A delinquência de Bolsonaro faz parte da paisagem política. Um sucesso.

O candidato do PL, o partido nacional-mensalista, começou o dia dizendo que 1964 pode se repetir. Fez campanha por meio da TV estatal, aquela que prometera fechar em 2018.

Em mais um ato de apropriação indébita, sequestrou a parada do 7 de Setembro em Brasília para fazer comício sobre um trio elétrico (quem pagou?), cumprindo a mera formalidade de não usar o palanque oficial ao lado.

Na parada de Brasília e nas piruetas aeronavais do Rio, militares eram coniventes com a corrupção institucional. No desfile brasiliense, houve ainda desfiles de escolas militares e até uma ala de “homeschooling”.

Como o estado de depravação social e política tornou-se natural, as classes falantes e políticos oficiais diziam que os discursos foram moderados. Foram o parlapatório iletrado e cafajeste de costume, com ameaças golpistas nas entrelinhas.

Na história dos discursos políticos do país, haverá a falação de um castrado mental a se jactar de ser “imbrochável” e a pedir que o eleitor compare as “primeira-damas” (essa ideia tola e antirrepublicana), dando preferência a uma “princesa” “de Deus”.

Como em uma alegoria medieval, personificações da política das trevas acompanhavam Bolsonaro nos comícios: o empresário ultradireitista, o líder do partido pentecostal brucutu, o militar de catadura medonha, o agro ogro de chapéu.

Isto posto, Bolsonaro ora tem 32% dos votos no primeiro turno e 42% dos votos válidos em um segundo turno contra Lula da Silva (PT). É o único político e o único programa que levam multidão para as ruas.

Fonte: Folha de São Paulo

Maurílio Fontes

Proprietário, jornalista, diretor e responsável pelo Portal Alagoinhas Hoje

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