Arrependimento não muda o passado, mas pode modificar o futuro – Maurílio Fontes


Votei em Joaquim Neto nas eleições de 2016 e 2020.

Em 2016, meu candidato era Radiovaldo Costa, à época na Rede Sustentabilidade. Faltando uma semana para a eleição, em conversa telefônica com Radiovaldo disse-lhe que para mim o mais importante era derrotar Sônia Fontes e que ele, àquela altura, não tinha se viabilizado como o principal adversário da então candidata situacionista. O espaço havia sido ocupado pelo médico Joaquim Neto (DEM).

Na conversa com Radiovaldo, pronunciei uma frase até hoje lembrada pelo ex-vereador: “Qualquer desgraça, menos Sônia Fontes”.

Vitorioso, Joaquim me convidou várias vezes para ser secretário de Comunicação. Não aceitei. O deputado federal Paulo Azi, então aliado do prefeito eleito em 2016, também fez vários convites (seis) para que eu assumisse a pasta. Somados, foram 11 convites.

Seguramente, não há casos na política da Bahia de tantos convites para profissional assumir pasta em um governo municipal. Nada disso me envaideceu.

Àquela altura acreditava que poderia colaborar mais com a sociedade alagoinhense mantendo meu trabalho no site Alagoinhas Hoje. Foi o que fiz. Sem arrependimentos.

A eleição de 2020 mereceria um grande capítulo à parte visando esclarecer a opinião pública acerca dos desdobramentos que culminaram no meu ingresso na campanha do prefeito que buscava a reeleição em condições completamente adversas. Entrei no núcleo de marketing e comunicação da campanha faltando menos de três semanas para o dia 15 de novembro.

Muitos reconhecem meu papel no trabalho em equipe que deu a vitória ao prefeito. Não sou eu a voz mais autorizada para tratar deste tema. A história, quase sempre sábia, reconhecerá o papel de cada um na improvável vitória do prefeito Joaquim Neto.

A campanha vitoriosa se tornou um case de marketing e por muito tempo foi discutida nas rodas da política baiana.

Corri risco de vida, fui ameaçado nas redes sociais, precisei de segurança armado me acompanhando, textos atribuindo à minha lavra foram publicados na tentativa de me colocar contra alguns segmentos sociais da cidade.

Não retrocedi um passo sequer e segui em frente acreditando que a reeleição do prefeito era o melhor para Alagoinhas.

Na madrugada do dia 16 de novembro, em ligação telefônica, o prefeito reeleito me convidou para assumir a Secretaria de Comunicação. Desta vez, aceitei de pronto. Talvez tenha sido um erro estratégico em minha longa carreira profissional, que não estava claro naquele momento, mas que ficou cristalino nos meses seguintes.

A Secretaria de Comunicação em minha gestão foi submetida a um cerco da Secretaria de Planejamento, sob a gestão de Virgínia Porto, sem nenhuma sensibilidade política, e muito poder para podar o trabalho dos secretários.

Se não fosse a boa vontade e a competência técnica da secretária Roseane Conceição, gestora da pasta da Fazenda, o quadro teria sido muito pior.

Antes de prosseguir, é importante fazer alguns registros. No primeiro mandato do prefeito Joaquim Neto critiquei secretários municipais que não moravam em Alagoinhas. Ao assumir a gestão da SECOM tomei a decisão de voltar a morar na cidade. No dia 3 de março completaram-se dois anos que retornei a ter moradia fixa em Alagoinhas.

Optei por não ter secretária e defini que o cargo seria ocupado por profissional que atuaria na atividade fim da pasta. Utilizei meu carro nas atividades externas da SECOM e nunca usei uma gota de combustível pago pela Prefeitura de Alagoinhas.

No início do segundo semestre de 2021 comecei a perceber que meu lugar não era na Secretaria de Comunicação.

Nas reuniões de secretários sempre fui o primeiro a criticar o governo, que na minha avaliação carecia de planejamento, de definição de prioridades e de mais rapidez na consecução dos objetivos. E mais: que não havia sinergia organizacional e algumas secretarias atuavam como se fossem prefeituras, com marcas próprias e atuação completamente fora dos manuais da comunicação pública.

Secretárias e secretários concordavam com meus posicionamentos, mas não demonstravam energia suficiente para contraditar o prefeito em suas viagens administrativas.

Em setembro de 2021 comuniquei ao prefeito meu desejo de sair. Ele fez pouco caso dos argumentos que apresentei e não acreditou na veracidade deles. Todas as vezes (e foram muitas) em que eu discorria sobre a lentidão do governo, o prefeito usava um bordão costumeiro: “Calma, meu filho”.

No último trimestre de 2021 a saída já estava definida, mas a mudança seria traumática no final do ano. Optei por continuar, mas sem nenhuma crença de que poderia implementar o trabalho que desejava pela falta de condições e o cerco da secretária de Planejamento, com quem, aliás, tive ao longo de 2021 vários embates sobre sua forma administrar o orçamento.

Para mim, a realidade era cristalina: Joaquim ganhara a eleição e a secretária de Planejamento governava o município por meio do controle do orçamento.

Aparentemente, após 14 meses de minha saída a situação continua a mesma.

Outra situação ficara clara: o modelo importado de Sátiro Dias não poderia (e não estava dando) certo em Alagoinhas.

A opção de deixar a administração municipal em final de janeiro de 2022 foi a mais acertada e teve como objetivo preservar minha saúde.

A indicação do atual secretário de Comunicação partiu de mim, embora ele negue isso e atribua a outras pessoas a lembrança de seu nome. Melhor que assim seja, visto o nível de sua gestão.

Pesquisas de opinião indicam que o governo municipal tem baixa adesão, sendo o transporte público e a saúde os campeões de reprovação.

O governo comunica a construção do Hospital Materno-Infantil como um grande feito (o que é inegável, a despeito de sua péssima localização geográfica), mas secundariza aspectos importantes da atenção básica, que em alguns casos pode ser caracterizada como caótica.

O mundo das redes sociais é charmoso e colorido, mas a realidade é completamente diferente, borrada e sem nenhum glamour dos stories do Instagram.

Na conversa na manhã de 31 de janeiro de 2021 com o prefeito, quando lhe comuniquei sobre a decisão de solicitar exoneração, fui curto e grosso. “Nosso governo é medíocre”, disse-lhe. Mais uma vez, com a fleuma corriqueira, o prefeito sacou o velho bordão do “calma, meu filho”. E emendou: “O governo não é ruim como você está falando”.

Minha avaliação não mudou e continuo acreditando que o governo está muito, mas muito aquém do que poderia (e deveria) em termos de realizações no sétimo ano de administração do prefeito Joaquim Neto.

A dinâmica governamental não permite que projetemos grandes realizações até 31 de dezembro de 2024, data limite para o mandato do prefeito Joaquim Neto.

Certamente, as escolhas administrativas, não aprovadas pela população alagoinhense, serão tomadas a partir do mesmo modelo mental do chefe do Executivo (e daqueles que ele ouve) e os cenários não nos autorizam a prever mudança na avaliação positiva do governo municipal para além dos tímidos índices registrados em pesquisas recentes.

O arrependimento de ter votado em Joaquim Neto nas eleições de 2016 e 2020 não muda o passado, mas certamente poderá modificar o futuro.

Maurílio Fontes

Proprietário, jornalista, diretor e responsável pelo Portal Alagoinhas Hoje

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