O risco da propaganda destrutiva – Murillo de Aragão

A propaganda do PT na televisão insinuando, por meio de um vídeo, que o voto nos adversários da presidente Dilma Rousseff nas próximas eleições significará retrocesso e poderá trazer de volta “fantasmas do passado” causou forte impacto. O assunto, abordado por toda a mídia e pelas redes sociais, foi um dos mais discutidos nos últimos dias.

A Folha de S.Paulo observou que a mensagem é uma alusão às propostas feitas por candidatos da oposição, como Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB). Aécio tem dito que será preciso tomar “medidas impopulares” na economia, e Campos promete uma taxa de inflação anual de 3% em 2019.

Os críticos lembraram que o comercial é cópia da fórmula usada pelo PSDB em 2002 quando a atriz Regina Duarte apareceu na TV dizendo que temia a perda dos ganhos do Plano Real se Lula, candidato do PT, se elegesse.

Outro argumento utilizado foi associar a novelinha política ao suposto sentimento de desespero do partido com a constante perda de popularidade da presidente.

Ao comentar a propaganda, Campos condenou a tentativa de incutir medo no eleitor: “Apelam com o terror contra a mudança de governo. O jogo será muito duro, mas estou preparado para enfrentá-lo”. Aécio partiu para o contra-ataque: “Esse comercial é o retrato daquilo em que se transformou o PT e o espelho do fracasso”.

O estardalhaço que a mídia está fazendo procede em parte, já que na política é lícito alardear as próprias qualidades e tentar desqualificar o adversário, desde que não ocorram ataques pessoais, parâmetros respeitados pelo vídeo. Além de não apelar para ataques abusivos, a peça de propaganda é tecnicamente impecável.

Nos Estados Unidos, o nível de beligerância das propagandas eleitorais é muito maior. Não são meras insinuações, e sim ataques diretos a candidatos e partidos. Tal cultura é fruto da histórica polarização eleitoral, principalmente ideológica, entre democratas e republicanos.

Os anúncios negativos, como são chamados, têm como objetivo, primeiro, convencer – e amedrontar – eleitores que em situações normais não compareceriam às urnas, já que o voto não é obrigatório no país. Mas também aliciar eleitores em dúvida, os cobiçados “swing voters”.

O comercial em questão utiliza uma fórmula antiga, cujo resultado é duvidoso. Embora a maioria do eleitorado não gaste muito tempo com leituras nem com reflexões profundas sobre política, tem consciência de que retrocessos em políticas públicas são difíceis de acontecer impunemente.

Da mesma forma que entenderam que o Plano Real não seria destruído por Lula, boa parte dos favorecidos pelos ganhos sociais da era Lula sabe que tais benefícios não serão revogados nem por Aécio nem por Campos.

A mensagem foi um movimento de risco, e suas repercussões tendem a ser positivas entre o eleitorado menos esclarecido. O que preocupa não é o uso da fórmula do medo, mas sim a clara mensagem de que esta eleição poderá ser um campo de disputa de classe, em lugar da busca de um entendimento em favor do fortalecimento de todos os ganhos – econômicos, fiscais e sociais – dos últimos 20 anos.

Não é surpresa o fato de, mais uma vez, a campanha presidencial no Brasil focar o passado e pessoas, ao invés de propostas e ideias.

Murillo de Aragão é cientista político

 

Fonte: Blog do Noblat

 

Maurílio Fontes

Proprietário, jornalista, diretor e responsável pelo Portal Alagoinhas Hoje

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