Abstenção cai pela primeira vez no 2º turno da eleição

A taxa de abstenção no segundo turno da eleição deste ano foi menor do que no primeiro turno. É a primeira vez desde 2002 que o comparecimento cresce em relação à primeira rodada de votação do mesmo ano.

De acordo com dados do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) de todas as urnas apuradas, não compareceram para votar 20,58% dos eleitores. No primeiro turno, a taxa foi de 20,95%.

O percentual de votos em branco e nulos somados (4,59%) também foi o menor dos últimos 20 anos, repetindo marca já registrada no primeiro turno. O número caiu à metade em relação à eleição passada.

O maior interesse pelas urnas coincide com a estreia do passe livre nos ônibus para facilitar a votação, adotado em todas as capitais do país e em outros 167 municípios, segundo levantamento do Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor).

Atrair os eleitores para as seções eleitorais também foi uma preocupação das campanhas do presidente eleito Lula (PT) e do atual presidente Jair Bolsonaro (PL).

A equipe do petista temia o não comparecimento de eleitores mais pobres, grupo no qual as pesquisas indicavam seu favoritismo. O estafe do atual presidente, por sua vez, preocupava-se com a ausência dos mais velhos.

Ao longo do dia de votação, a campanha de Lula acendeu um alerta em razão do aumento das operações da PRF (Polícia Rodoviária Federal) envolvendo transporte de eleitores, principalmente no Nordeste.

Temia-se que as ações afetassem a presença na região, principal enclave petista no país. A coligação do presidente eleito chegou a pedir a prisão do diretor-geral da corporação, Silvinei Vasques, que no início do dia fez postagem a favor de Bolsonaro.

Os dados do TSE mostram, porém, que as abstenções na região caíram, seguindo a tendência nacional. Neste domingo, 19,3% dos nordestinos não foram votar, o menor patamar desde 2002 em segundos turnos. Na eleição passada, a marca foi de 19,9%.

Em Alagoas, estado com mais ações (79) da PRF, a abstenção neste segundo turno (23,3%) também foi mais baixa do que a média de 2002 a 2018 no estado (24,6%). Lula venceu no estado, com 58,8% dos votos válidos.

O Mato Grosso do Sul, que contabilizou 65 operações, também teve queda de 22,5% para 22,4% no período. O mesmo ocorreu no Maranhão, terceiro estado com mais ações policiais do tipo (58), que teve diminuição de 27,7% para 23,5% nos faltosos.

Como mostrou a Folha, a PRF descumpriu ordem judicial do presidente do TSE, Alexandre de Moraes, de não realizar operações que envolvessem o transporte público de passageiros.

Segundo o magistrado, o diretor-geral da PRF argumentou que elas se baseavam no código de trânsito e visaram ônibus com irregularidades. Moraes disse que nenhum eleitor foi impedido de votar em razão das ações.

Os dados do tribunal mostram que o Sul foi a única região onde houve alta nas abstenções. O percentual de eleitores que não compareceram às urnas ali cresceu de 17,8%, há quatro anos, para 18,6% neste ano —maior taxa desde 2002 na região.

Não é possível analisar como o passe livre afetou a votação em cada cidade, mas, apesar da gratuidade, 16 das 27 capitais tiveram alta na abstenções considerando a comparação com a média dos segundos turnos de 2002 a 2018, na contramão do país em geral.

É o caso, por exemplo, de Macapá (aumento de 34%), Porto Alegre (19%), Rio Branco (15%) e São Paulo (13%). Na capital paulista, a abstenção foi de 20,9%, contra 18,6% registrada nos outros anos.

Por outro lado, as maiores quedas nas abstenções ocorreram em Cuiabá (-17%), Palmas (-12%), Salvador (11%) e São Luís (10%).

Maurílio Fontes

Proprietário, jornalista, diretor e responsável pelo Portal Alagoinhas Hoje

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