A que ponto chegou a unidade das oposições baianas – Raul Monteiro
Há, desde o ano passado, um esforço entre os principais partidos da oposição baiana para que o interesse pela unidade sobressaia aos solavancos comuns ao processo de sua construção e resulte no lançamento de uma chapa única à sucessão do governador Jaques Wagner (PT). Ele é perceptível em todas as conversas de que tomam parte deputados, prefeitos, vereadores e lideranças abrigadas em legendas como DEM, PSDB e PMDB, não importa o contexto – de aniversários a casamentos, passando por encontros exclusivamente partidários e até os chamados batizados de bonecas, se é que realmente ocorrem.
A preocupação em torno da montagem da estratégia para que os partidos marchem unidos na campanha leva em conta uma avaliação primordial: a de que, juntos, com uma chapa que contemple as principais forças partidárias oposicionistas, eles somam forças, reúnem razoável tempo de TV e aumentam exponencialmente as chances de levar o governo e a vaga ao Senado pertencente ao Estado da Bahia que será renovada nestas eleições, também em poder da situação. O esforço mais ou menos acompanhava o calendário montado para as definições oposicionistas até que um fato novo eclodiu há pouco mais de uma semana.
Foi quando o ex-ministro Geddel Vieira Lima, presidente do PMDB baiano, fez chegar ao comando do DEM e do PSDB que sairia candidato ao governo por supostamente ter se cansado da demora na definição da candidatura do aliado Paulo Souto, ex-governador democrata e líder nas pesquisas de intenção de voto que se realizam até aqui. O aviso de Geddel fora transmitido ao prefeito ACM Neto (DEM) no dia 31 de janeiro, mesma data em que Souto, momentos antes, revelara ao mesmo prefeito, oficialmente, que topava o desafio de se candidatar, atendendo a apelos políticos locais e nacionais, especialmente de seu partido.
Ocorre que o dia 31 de janeiro fora escolhido para que Souto revelasse suas intenções com relação às eleições estaduais como uma espécie de concessão ao próprio Geddel. Desde o ano passado, o peemedebista pressionava os companheiros de campo oposicionista pela antecipação da definição da candidatura, com o que seus aliados do DEM e do PSDB nem o prefeito, pessoalmente, concordavam. Ele teria aumentado a carga pela antecipação da escolha do candidato principalmente depois que o PT anunciou que lançaria o chefe da Casa Civil do governo, Rui Costa, à sucessão de Wagner.
Então, alegava que precisava de uma definição, mas antecipava que, caso Souto decidisse ser candidato, abriria mão de se candidatar. Para evitarem um atrito com Geddel, ao final de muitas negociações, DEM e PSDB aceitaram então estabelecer o dia 31 como prazo para que Souto decidisse o que fazer, com a condição, entretanto, de só anunciar a candidatura depois do Carnaval. Por um desses motivos que só o destino explica, quatro dias antes do combinado para a decisão de Souto, uma segunda-feira, o prefeito teria estado com o ex-governador e ouvido dele que não seria candidato.
A partir daí, se comenta na oposição, teria transmitido a Geddel “a impressão” de que parecia iminente a negativa de Souto e que, por este motivo, o peemedebista poderia ter que trabalhar a própria candidatura. Estava enganado. Veio o dia 31 e Souto disse a Neto com todas as letras: – Serei candidato. ACM Neto deixou Souto para se reunir em seguida com Geddel, a quem informou a posição do ex-governador para, segundo se comenta, ouvir de volta que o peemedebista lamentava, mas sairia candidato também porque havia recebido a sinalização dele próprio, naquela semana, de que o ex-governador não concorreria. Está neste pé hoje a unidade oposicionista.
* Artigo publicado originalmente na edição de hoje (10) da Tribuna da Bahia.