Sob o signo da mudança – Merval Pereira
A vantagem que a presidente Dilma mostra consistentemente nas pesquisas de opinião, reafirmada ontem pelo Ibope, demonstra que os candidatos de oposição mais conhecidos, como o senador Aécio Neves ou o governador Eduardo Campos, não conseguiram até agora cativar o eleitorado que reafirma, também consistentemente, pesquisa após pesquisa, que quer mudanças e, de preferência, sem Dilma na Presidência.
Mas, se não aparecer ninguém com credibilidade suficiente para transformar o anseio do eleitorado em realidade, isto é, capaz de convencer de que tem uma proposta de governo melhor para colocar em prática, Dilma vai vencer a eleição por falta de opção melhor. É isso o que as pesquisas apontam.
Uma maioria que chega a 64% do eleitorado quer que o próximo presidente “mude totalmente” ou “muita coisa” na próxima gestão. Entre eles, apenas 27% consideram que a própria Dilma poderá fazer as mudanças necessárias. Os demais querem outra pessoa em seu lugar, mas por enquanto não encontraram entre os candidatos apresentados o perfil que buscam para a mudança.
Aécio e Campos têm a seu favor um relativo desconhecimento do eleitorado. Quando se avalia o potencial de votos, enquanto apenas 7% dizem não conhecer a presidente Dilma (serão de Marte?), nada menos que 35% não conhecem Eduardo Campos e 27% não conhecem Aécio Neves.
A presidente Dilma tem nesse quesito uma potencialidade muito maior que seus adversários, até o momento. Nada menos que 36% do eleitorado diz que votará nela com certeza, e outros 19% admitem votar, o que dá a ela um potencial de votos de 55%.
Já Aécio Neves tem um potencial total de votos de 33% e Eduardo Campos, de apenas 27%. A questão é saber se, quando forem conhecidos do eleitorado brasileiro, os candidatos do PSDB e do PSB o convencerão de que têm a capacidade de fazer as mudanças por que ele anseia, ampliando assim a potencialidade de votos.
Por enquanto, a presidente Dilma tem um percentual de votos um pouco acima dos que afirmam que votarão nela com certeza, mas está estagnada na casa dos 40% desde o ano passado. O começo da campanha eleitoral pelo rádio e televisão pode mudar esse quadro.
Na eleição de 2010, Dilma a essa altura ainda perdia para o candidato do PSDB José Serra, mas o clima entre o eleitorado era de continuidade. Hoje, a eleição está se desenrolando num ambiente que exige mudanças.
‘Sincericídio’
O voluntarismo da presidente Dilma colocou-a em uma situação embaraçosa na questão polêmica da compra da refinaria em Pasadena, nos Estados Unidos, que deu um prejuízo bilionário em dólares para a empresa.
Se a presidente admite que desde 2008, quando soube das cláusulas que considera inapropriadas, ela e outros conselheiros passaram a questionar o negócio dentro do Conselho da Petrobras, por que nenhuma providência concreta foi tomada àquela altura contra quem apresentou o negócio ao conselho com “informações incompletas” em um parecer “técnica e juridicamente falho”?
Ao contrário, o então diretor da área Internacional da Petrobras Nestor Cerveró continua na empresa, agora como diretor financeiro da BR Distribuidora. Também o então presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, continua com prestígio nas hostes petistas. Secretário de governo da Bahia, foi considerado para suceder o governador Jacques Wagner que, aliás, fazia parte do Conselho da Petrobras em 2006 quando a compra foi realizada.
O “sincericídio” da presidente Dilma tem a vantagem de ser uma atitude correta rejeitar a versão oficial da Petrobras que defende a compra alegando que parecia ser um bom negócio na ocasião.
Mas tem a desvantagem política de expô-la às críticas sem qualquer capacidade de se defender.
Merval Pereira é jornalista