Reajuste nos benefícios dos trabalhadores supera o do salário

Com as negociações salariais mais pressionadas por inflação em alta e desaceleração da atividade econômica, trabalhadores e patrões negociam acordos com reajustes maiores nos benefícios do que nos salários.

As correções aplicadas a tíquetes alimentação, vale compras, cesta básica, abonos ou em benefícios sociais (auxílio creche, auxílio educação ou programas para a compra de medicamentos oferecidos por algumas empresas) chegam a até 42% em algumas categorias profissionais, segundo levantamento da Folha a partir de informações do Dieese.

Para as empresas, essa é uma forma de evitar aumento no custo fixo da produção, uma vez que, além de corrigir os salários, o percentual concedido é incorporado a encargos como contribuição previdenciária, FGTS e 13º.

Para os trabalhadores, ter um benefício adicional é uma forma de recuperar poder de compra, mesmo que o ganho não vá para o holerite.

A tendência de negociar reajustes maiores nos benefícios (já verificada principalmente em categorias do setor de serviços, com data-base de janeiro a junho) pode se estender àquelas que estão em campanha neste semestre.

No caso dos comerciários de São Paulo (data-base em novembro), as grandes varejistas de alimentos, eletroeletrônicos e vestuário querem criar um teto para este ano e conter o impacto da correção salarial em seus resultados.

“A retração do consumo preocupa e traz reflexos na hora de negociar”, diz Ivo Dall’Acqua Jr., presidente do Conselho de Assuntos Sindicais da FecomercioSP.

Os 500 mil comerciários pedem aumento real de 2% a 3%; a contraproposta é de 1%. “Muitas empresas já oferecem participação nos lucros maior do que o reajuste no salário”, diz Ricardo Patah, da UGT, que chefia as negociações dos comerciários.

Os operários da construção civil de São Paulo negociaram neste ano correções para o vale supermercado de 33,3% a 42,8%, dependendo da cidade. Os tíquetes alimentação subiram cerca de 20%, ante 8,99% nos salários.

Como a negociação ocorreu em abril e maio, quando a inflação de alimentos preocupava, “houve uma preocupação em preservar o poder de compra dos trabalhadores”, diz Haruo Ishikawa, vice-presidente de relações de capital e trabalho do Sinduscon-SP (reúne indústria da construção civil).

Para o economista José Silvestre de Oliveira, do Dieese, “como a intensidade dos ganhos reais é menor, os sindicatos tentam complementar a renda dessa forma.”

Farmacêuticos de São Paulo também negociaram neste ano ganho real no salário menor do que em 2012 (1,33% ante 2,41%), mas reajustes mais polpudos no auxílio-alimentação (20% a 26%). O abono, que complementa o reajuste de salário, subiu 40%.

Outras categorias Reajuste concedido ao salário (em %) Reajuste na alimentação (vale ou tíquete) (em %) Inflação medida pelo INPC acumulado em 12 meses* (em %)
Comerciários de Belo Horizonte (MG) 7,5 7,78 6,77
Operários da construção civil de DF 8,04 10,53 7,16
Empregados da Companhia Catarinense de Água e Saneamento (SC) 7,16 15,38 7,16
Têxteis de Curitiba (PR) 9 10 7,16
Operários da construção civil de Candeias (BA) 5,59 6,56 6,2
Funcionários de telemarketing de SP 6,2 6,23 6,2
Gráficos do PR 7,5 14,29 6,2
Operários da construção civil do RJ 9 21,21 6,77
Funcionários da Sabesp 8 13,64 6,2

Fonte: Folha de São Paulo

Maurílio Fontes

Proprietário, jornalista, diretor e responsável pelo Portal Alagoinhas Hoje

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