Cervejaria Petrópolis, dona da Itaipava, pede recuperação judicial, com dívida de R$ 4,2 bilhões


O Grupo Petrópolis, dono das marcas de cerveja Itaipava, Crystal e Petra, entre outras, entrou com pedido de recuperação judicial, na segunda-feira, 27, na Justiça do Rio de Janeiro. As dívidas da companhia somam R$ 4,2 bilhões, segundo sua defesa. Desse total, 48% são financeiras e 52% com fornecedores e terceiros.

Nesta terça, a juíza Elisabete Franco Longobardi, da 5ª Vara Empresarial da cidade do Rio, concedeu ao grupo uma tutela cautelar de urgência que determinou a liberação dos recursos da companhia por Banco Santander, Fundo Siena, Daycoval, BMG e Sofisa. A juíza também nomeou como administradores judiciais o escritório de advocacia Zveiter e a empresa Preserva-Ação, do advogado Bruno Rezende.

O Grupo Petrópolis, que detém uma participação de 13% no mercado de cervejas do País, afirmava que as medidas eram urgentes para evitar “iminente estrangulamento do fluxo de caixa”. A urgência também se justificava pelo fato de que, ontem, vencia uma parcela de R$ 105 milhões de uma dívida financeira.

De acordo com a petição em que pediu recuperação, o grupo enfrenta uma crise de liquidez há 18 meses decorrente da redução de receita. No ano passado, a empresa vendeu 24,1 milhões de hectolitros de bebidas, o que representa uma queda de 23% na comparação com 2020. Essa redução significou um recuo de 17% na receita bruta do período.

No documento, a companhia acusa os concorrentes da adotarem um “planejamento tributário abusivo”, condenado pelo fisco, para conseguir não repassar o aumento de custos dos últimos dois anos ao consumidor final. O Grupo Petrópolis, de acordo com sua defesa, não adotou a mesma prática e precisou reduzir as margens para continuar competitiva, o que também a teria prejudicado.

Ainda segundo a petição, agravou a situação do grupo o aumento da taxa básica de juros, a Selic, que pressionou o nível de endividamento. Essa elevação no juro tem gerado um impacto de R$ 395 milhões por ano no fluxo de caixa da companhia.

Na petição, o grupo, representado pelos escritórios Salomão Sociedade de Advogados e Galdino & Coelho, afirma que, até o fim de março, haverá uma necessidade de capital de giro acumulada R$ 360 milhões superior ao projetado para o período e que, até 10 de abril, será de R$ 580 milhões superior.

“A combinação desses fatores, exógenos e alheios ao controle das requerentes, gerou uma crise de liquidez sem precedentes no Grupo Petrópolis, que comprometeu seu fluxo de caixa a ponto de obrigá-lo a buscar a proteção legal com o ajuizamento deste pedido de recuperação judicial”, diz o documento.

Para o analista Gustavo Troyano, do Itaú BBA, a recuperação do Petrópolis “pode sustentar uma velha tese de que pode surgir um comprador para os ativos” do grupo. Nesse caso, uma fabricante estrangeira de cerveja, a Heineken ou a Coca-Cola estariam entre os compradores mais prováveis.

Em relatório, Troyano afirmou também que a recuperação judicial pode ser interpretada como um sinal de que o mercado de cervejas brasileiro está operando com rentabilidade abaixo da ideal. Segundo ele, as margens brutas da Ambev estão em queda desde 2012, pressionando toda a indústria. “Com margens comprimidas, empresas com menor participação de mercado, menor diluição de custos e eficiência de escala reduzida tendem a sofrer mais”, diz o analista.

Procurado, o Grupo Petrópolis não se manifestou.

Fonte: O Estado de São Paulo

Maurílio Fontes

Proprietário, jornalista, diretor e responsável pelo Portal Alagoinhas Hoje

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