As centrais sindicais e os palanques eleitorais – Bruno Lima Rocha

Classe social, em qualquer escola de interpretação, implica ao menos em identidade coletiva, modo de vida assemelhado e a noção de antagonismo. No Brasil, classe tornou-se sinônimo de divisão sócio-econômica por ingresso e renda, reproduzindo noções de tipo economicistas.

A coqueluche do pleito de outubro é a disputa pelos que ingressaram no mundo do consumo, crédito e melhoria nas condições de vida, a chamada de nova classe C”. Esta nova parcela da sociedade carece de identificação ideológica com a tradição das esquerdas e será a definidora das eleições que se aproximam.

A caça por estes votos tornou-se explícita nos comícios de 1º de maio, onde a identidade coletiva da classe social do mundo do trabalho foi arduamente disputada pelas duas maiores centrais sindicais do Brasil, nas atividades realizadas em São Paulo capital.

No comício do Vale do Anhangabaú, convocado pela Central Única dos Trabalhadores (CUT), em conjunto com a Central dos Trabalhadores do Brasil (CTB) e a Central dos Sindicatos Brasileiros (CSB) houve a presença do secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho, um elemento de continuidade dos governos Lula e Dilma e muito orgânico no PT. Além dele, políticos petistas de carreira tentaram manter a aliança entre o partido e os sindicatos. Vã tentativa, pois o que fora um elemento chave na formação do PT, após dez anos da tal da governabilidade, transformou-se numa ilusão política.

Já no ato da Força Sindical, seu líder e dublê de político profissional, o deputado federal Paulo Pereira da Silva (“Paulinho da Força”, PROS-SP), fez um palanque das oposições (circunstanciais ou não), com destaques para a fala do ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos (PSB), do senador Aécio Neves (PSDB-MG) e do líder do “blocão”, o poderoso deputado fluminense Eduardo Cunha (PMDB).

Tanto CUT/CTB/CSB como a Força, tentam ao seu modo conciliar interesses conflitantes para serem sócias minoritárias no capitalismo brasileiro. Assim a representação sindical hegemônica materializa o conceito de sindicalismo pelego ou amarelo. A máxima de Luiz Antônio de Medeiros na busca do “sindicalismo de resultados” equivale ao pragmatismo político na esfera partidária. Isto aponta para outro conceito.

Diziam os militantes dos antigos sindicatos de resistência no início do século XX que, quando dirigentes sindicais optam pela política profissional, cedo ou tarde a escolha resulta numa “fábrica de traidores de classe”. Eis o retrato dos atos de 1º de maio de 2014.

 

Bruno Lima Rocha é professor de ciência política e de relações internacionais.
(www.estrategiaeanalise.com.br / blimarocha@gmail.com)

 

Fonte: Blog do Noblat

Maurílio Fontes

Proprietário, jornalista, diretor e responsável pelo Portal Alagoinhas Hoje

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