Trouxemos a comida de volta para o avião, diz CEO da Avianca
osé Efromovich está feliz. No comando da Avianca, ele vai fechar 2013 com taxas de ocupação de mais de 80% e, muito provavelmente, o primeiro ebitda da história da empresa. Entre os planos para 2014, está a troca de parte da frota e o executivo aposta nas recentes concessões de aeroportos e no crescimento do setor nos próximos anos – embora a Copa possa atrapalhar um pouquinho.
Para Efromovich, as eleições não trarão a alta do dólar, o programa de fidelidade da empresa está bom do jeito que é e se diferenciar é o grande segredo da Avianca para se sair melhor que a concorrência.
Em entrevista à EXAME.com, Efromovich falou até da interminável novela envolvendo a compra da TAP. Mas não adianta. Nada consegue tirá-lo do sério.
EXAME.com – Por que a Avianca tem 80% de ocupação em seus voos e como isso tem se refletido nos resultados da empresa?
José Efromovich – Somos a única empresa que tem toda a frota classificada com o selo A da Anac.Nós trouxemos a comida de volta pro avião. O passageiro brasileiro já tinha esquecido o que era isso. Tudo isso, mais a atenção e a pontualidade, faz com que o passageiro volte e queira voar com a gente. Assim, pela primeira vez na história da Avianca, nós vamos ter um ebitda (lucro antes de impostos, taxas, depreciações e amortizações) positivo em 2013. Pequenininho, mas positivo.
EXAME.com – A empresa planeja investir em novas aeronaves para compensar os poucos slots (reservas de horário em aeroportos)?
José Efromovich – Nós temos 14 Foker MK-28, que no próximo ano pretendemos substituir por airbuses. Mas nossa estratégia não tem nada a ver com slots. Nós definimos que o espaçamento entre as poltronas iria ter o espaço que tem pois permite que o passageiro possa abrir um laptop, ficar à vontade – sem o joelho encostando nas costas de quem está à frente. Esse é o motivo de nós oferecermos um pouquinho mais de espaço. Um pouquinho não, um pouco mais de espaço. Ou, simplesmente, mais espaço.
EXAME.com – E a privatização de aeroportos, muda alguma coisa para vocês?
José Efromovich – Muda para indústria, muda pro passageiro, muda pra todo mundo. A velocidade de execução da iniciativa privada é muito maior do que a do governo. Então, em junho, nós vamos estar aproveitando isso tudo. E Galeão e Confins vão pela mesma rota. Por outro lado, o governo está com um projeto de implementação e recuperação de 270 aeroportos. Já tem verba destinada que ultrapassa 7 bilhões de reais. Isso vai mudar a vida de quem anda de avião no Brasil.
EXAME.com – Então, vocês esperam que o mercado cresça?
José Efromovich – O mercado brasileiro é enorme e mesmo com um crescimento não muito forte da economia, ainda se espera um crescimento na indústria da aviação. Nada comparado com aquilo que aconteceu na última década – quando passamos de aproximadamente 30 milhões de passageiros para quase 100 milhões. Mas acredito que um incremento na indústria da aviação vai existir.
EXAME.com – Mas será que a Copa do Mundo pode fazer o brasileiro viajar menos em 2014?
José Efromovich – Durante jogo do Brasil, brasileiro não sai de casa. Então, nós vamos ter uma queda importante. Antes de um jogo em Salvador, por exemplo, só vai ter avião indo para lá. Então, você sai com avião vazio. Você acha que nesse dia tem alguém indo de Brasília pra Porto Velho? Ou ele já está em Porto Velho ou vai ficar em Brasília. Você pode dar um avião de graça para o cara que tem uma entrada que ele não vai. No dia do jogo, ele vai pôr o bumbum em algum lugar e não vai levantar. Concorda comigo?
EXAME.com – Existe um planejamento para uma possível alta do dólar em função das eleições?
José Efromovich – Quando preparamos o nosso plano de negócios para o ano seguinte, a gente leva em conta o contexto como um todo, define aquilo que a gente acha que pode acontecer (e é puro achismo) com a moeda e estabelece as premissas para o nosso plano de negócios. E vamos trabalhar com elas. Se houver variações pequenas, a gente mantém as premissas. Se houver variações muito grandes, a gente ajusta. Mas não existe um foco específico.
EXAME.com – Em relação ao Amigo (programa de fidelidade da Avianca), a intenção é mantê-lo como está ou torná-lo algo parecido com Multiplus e Smiles?
José Efromovich – Hoje nós não temos nenhum planejamento de “independizar” o Amigo. O nosso programa de fidelidade está totalmente linkado à nossa operação da aviação. E, nesse momento, não existe nenhum planejamento ou discussão de fazer qualquer coisa diferente do que o que a gente vem fazendo. Queremos trazer mais membros pro nosso programa de fidelização. Basicamente, porque queremos mais gente voando com a gente.
EXAME.com – Pergunta chata, mas necessária: a Avianca planeja abrir capital nos próximos anos?
José Efromovich – Não é “próximos anos”. Podemos chegar a conclusão em janeiro e decidir trabalhar no IPO. Mas só que, hoje, eu estou preocupado com as minhas férias em janeiro, entendeu? Não estou preocupado com IPO da Avianca Brasil. A hora em que a gente começar a decidir, nós vamos chamar uma coletiva e informar. Todo ano, a gente faz duas coletivas, né? Até para não encher muito a paciência de vocês… A gente dialoga legal com a mídia. Essa pergunta não foi chata. Vamos tentar uma chata agora.
EXAME.com – Que tal essa: quando a Avianca irá crescer e disputar mercado com Gol e TAM?
José Efromovich – Nós só vamos crescer se tiver a demanda para o nosso produto, que é diferenciado. Não estamos no mercado procurando market share. Queremos e estamos conseguindo ser, modéstia à parte, uma das empresas mais queridas do Brasil e é isso que a gente busca. Como concorrer com duas empresas que detêm mais de 90% do mercado? Isso é muito grande. Então, tivemos que nos diferenciar. Não podíamos entrar fazendo a mesma coisa que os outros. Foi a única opção que ficou pra gente. Qual é a pergunta chata?
EXAME.com – Ok, vou tentar uma última cartada: em que pé estão as negociações para a compra da TAP?
José Efromovich – Por que que você acha que é chata? Eu respondo isso todo dia. Se fosse chata, eu seria uma pessoa triste, andando aí pelos cantos, de tanto que me perguntam. E a resposta é simples. Teve um processo de vendas. Não deu certo. Se tiver outro, vamos olhar. Se interessar, a gente entra. No ano passado, a TAP interessava. Hoje, não interessa. Primeiro que não tem o que olhar: cancelaram a concorrência. Estamos atentos às oportunidades do mercado. Temos que voar muito alto com os pés no chão.