Samarco utilizou modelo mais barato e inseguro de barragem

SAMARCO 6

O modelo de construção usado pela Samarco na barragem que ruiu no interior de MG é considerado o mais inseguro de todos, segundo levantamento obtido pela Folha com base em dados de desastres internacionais.

Das 68 ocorrências graves com barragens que ocorreram entre 1910 e 2010, pelo menos 40% delas foram exatamente em barragens erguidas como a que ruiu um mês atrás em Mariana.

A tragédia mineira é considerada a mais grave da história em termos de quantidade de lama despejada no ambiente. E uma das piores do mundo em termos de vítimas.

Foram injetados na bacia do rio Doce mais de 40 bilhões de litros de lama, num acidente de causas ainda desconhecidas e com saldo até aqui de 15 mortos e quatro desaparecidos, além de uma matança de peixes e espécies aquáticas e terrestres. Os dejetos atravessaram mais de 500 km, pelo rio, até o mar.

A Samarco, controlada pela Vale e anglo-australiana BHP Billiton, é presidida por Ricardo Vescovi.

Para construir uma barragem que armazena os rejeitos que não viram produtos na mineração, as empresas podem erguer suas estruturas de quatro maneiras. 

O tipo mais comum, e também o mais barato, é o chamado pelos engenheiros de “a montante”. Ou seja, os vários “degraus” da barragem, que são erguidos à medida que a quantidade de rejeitos aumenta, são feitos contra o barranco ou a parede que dá toda sustentação à estrutura.

O mais seguro, e mais caro, é o tipo de construção “a jusante”, quando os “degraus” da barragem vão se apoiando sobre eles mesmos, o que sustenta melhor toda massa de rejeito armazenada.

O terceiro tipo é uma espécie de mistura desses dois exemplos anteriores.

O quarto modelo, considerado o mais moderno, é a construção das chamadas barragens secas, nas quais o rejeito é colocado em uma estrutura única construída previamente, como se fosse uma imensa piscina (veja quadro nesta página).

No caso da Samarco, a barragem que ruiu, segundo técnicos ouvidos pela Folha, é do mais tipo mais inseguro.

A explicação para o modelo escolhido no Brasil, que também é registrado em muitas outras empresas de mineração espalhadas pelo mundo, é principalmente econômica, segundo David Chambers, geólogo que estuda o impacto da indústria da mineração no mundo.

Para ele, se é verdade por um lado que as empresas de mineração investiram muito para aumentar suas produções de minério, o que melhorou o processo de extração, por outro elas fizeram isso de forma insustentável, tanto do ponto de vista ambiental quanto social e econômico.

“Do total de falhas e incidentes registrados desde 1990, 63% desse total está entre falhas sérias e muitos sérias”, afirma Chambers.

Para ele, o aumento do número de grandes rupturas de barragens na última década atesta que as empresas optaram por correr mais riscos. O que acabou não valendo a pena, afirma o pesquisador.

Entre as sete grandes tragédias recentes, o prejuízo total para as responsáveis pelas barragens foi de US$ 3,8 bilhões. Uma média de US$ 543 milhões por falha.

Ele considera como grandes tragédias aquelas que mataram mais de 20 pessoas e lançaram no ambiente mais de 1 bilhão de litros de rejeitos. As apenas “sérias” mataram pessoas e lançaram mais de 100 milhões de litros de lama tóxica no ambiente.

“Nós projetamos, pelo ritmo dos dados que nós analisamos, 11 falhas muito sérias entre 2010 e 2020. Que custarão por volta de US$ 6 bilhões”. O exemplo da Samarco reforça essa projeção.

Fonte: Folha de São Paulo

Maurílio Fontes

Proprietário, jornalista, diretor e responsável pelo Portal Alagoinhas Hoje

Menu de Topo