Romero Jucá diz que ideia de eleições antecipadas é golpe

Recém nomeado presidente do PMDB, o senador Romero Jucá (RR) classificou como um golpe a ideia de se realizar novas eleições gerais ainda neste ano. Em seu primeiro discurso à frente do partido, o senador afirmou que assume a legenda “em um momento em que a classe política é chamada às suas responsabilidades” e voltou a defender o impeachment da presidente Dilma Rousseff.

“A saída está na regra, está na Constituição. Qualquer outra saída mirabolante, desculpem-me, aí sim é golpe. Eleições gerais para todo mundo está na Constituição? Não. Renúncia está na Constituição? Não. Traduzindo para a população, a regra tem que ser cumprida”, afirmou.

Jucá ainda ironizou a tese. “Para saber se a regra é cumprida não precisa ir no Supremo [Tribunal Federal] não. Pergunta ao Arnaldo Cezar Coelho [comentarista de arbitragem de futebol] Arnaldo, isso pode? Ele vai dizer: pode não. Porque se pudesse mudar a regra, quando o Brasil estivesse perdendo de 7 a 1 da Alemanha, pararíamos o jogo e diríamos que estava cancelado e que amanhã nós começaríamos de novo com 0 a 0”, disse.

A ideia de se antecipar as eleições presidenciais começou a ganhar força recentemente. Um bloco de nove senadores do PSB, PPS e Rede já iniciou uma articulação para levar a tese adiante.

Nesta segunda, o senador Valdir Raupp (PMDB-RO) também defendeu a questão em um pronunciamento no plenário do Senado e o próprio presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), afirmou nesta terça-feira (5) “ver com bons olhos” a ideia como forma de resolver a crise política do país.

Em seu discurso, Jucá afirmou ainda que, para voltar a ter legitimidade, o governo terá que conseguir mais de 342 votos para barrar o impeachment na Câmara dos Deputados. Para ele, trabalhar para ter apenas os 172 votos a favor de Dilma, e que são suficientes para derrubar o processo, não garantem que ela terá condições de continuar seu governo.

“O problema estará agravado. O resto da credibilidade do país irá ao chão e nós não teremos condições de levar este país adiante”, disse.

Jucá assumiu o comando do partido nesta terça (5) em substituição ao vice-presidente da República e presidente nacional da sigla, Michel Temer, que se licenciou do cargo. A mudança é uma estratégia da sigla para poupar o vice dos ataques feitos pelo governo e por defensores da presidente Dilma Rousseff no Congresso.

Desde que o partido decidiu pelo desembarque da administração petista, na semana passada, o governo definiu como estratégia subir o tom das críticas feitas a Temer e associá-lo à ideia de que está em curso no país um golpe contra a presidente, sob o argumento de que não existe base legal para o impeachment. Temer seria, neste cenário, um dos articuladores do golpe.

“Nós não vamos também aceitar ataques de descredenciamento. O PMDB não está pregando o golpe”, disse. Segundo Jucá, Temer foi vítima, nos últimos dias, de “uma série de ataques, de uma série de manipulações, sofismas, armações e agressões”.

“E ficava em uma situação difícil porque, ao mesmo tempo em que é vice-presidente da República, com todo o poder institucional que tem, é também presidente do PMDB, e, em tese, teria que descer ao debate, teria que expor posições, e, mais do que isso, teria que fazer enfrentamentos”, afirmou.

Jucá disse ainda que, apesar de o partido ter sido o maior aliado da administração petista no governo da presidente Dilma Rousseff, a sigla não é responsável pela crise econômica que afeta o país.

“O PMDB aprovou aqui nesta Congresso, junto com a oposição, muitas propostas do Mantega, do Joaquim Levy e do Nelson Barbosa. Não venham cobrar do PMDB a crise econômica porque o PMDB não pilotou esse avião econômico. Aliás, o PMDB não pilotou esse avião do governo. O Michel não era copiloto, o Michel esta fora da cabine. Nós éramos comissários de bordo. A gente segurava as pessoas, mandava apertar o cinto e dava um saquinho para vomitar”, disse.

Fonte: Folha de São Paulo