PT decide que não fará defesa pública de José Dirceu

O PT não vai fazer uma defesa pública do ex-ministro José Dirceu, preso nesta segunda-feira (3) na 17ª fase da Operação Lava Jato.

Em nota divulgada após reunião da Executiva Nacional do partido, que se reuniu nesta terça-feira (4), em Brasília, a sigla disse “reafirmar a orientação de combate implacável à corrupção”, mas não fez nenhuma referência direta ao petista, um quadro tradicional do partido.

“O PT é favorável à apuração de quaisquer crimes envolvendo apropriação privada de recursos públicos e eventuais malfeitos em governos, empresas públicas ou privadas, bem como a punição de corruptos e corruptores”, destaca o partido na parte final da nota.

O presidente da legenda, Rui Falcão, evitou mencionar o nome do ex-ministro na entrevista coletiva que concedeu esta tarde, mas acabou se referindo ao companheiro de partido quando questionado se acreditava em sua inocência.

“Para mim, qualquer pessoa, não só o José Dirceu, qualquer pessoa acusada é inocente até que provem o contrário”, encerrou.

Perguntado diversas vezes se a ausência de uma manifestação formal do PT sobre a prisão de Dirceu não significava, como disseram alguns membros da oposição, que o partido estaria abandonando o ex-ministro, Falcão negou.

“Não estamos abandonando nenhum companheiro nosso. Independente de abandonar ou não, não se deve presumir a culpa antes que a culpa seja provada”, destacou o líder petista. Ele reiterou inúmeras vezes a necessidade de não se acusar sem provas, conforme descrito na nota.

SEM SOLIDARIEDADE

Nos bastidores, a cúpula petista avalia que não é o melhor momento político para fazer o sinal de solidariedade ao petista, quadro histórico da sigla.

Na segunda, quando Dirceu foi preso, o presidente da legenda, Rui Falcão, disse que precisava tomar conhecimento das acusações contra o companheiro de partido antes de qualquer manifestação.

Ainda na tarde de segunda, o PT divulgou uma nota na qual apenas rebateu as acusações de que teria recebido dinheiro ilegal. O empresário Milton Pacowitch, preso na 13ª fase da Lava Jato, disse que repassou R$ 10,5 milhões em espécie ao PT, na sede do partido em São Paulo.

Falcão foi um dos que defendeu que não fosse publicado apoio formal a Dirceu, conforme apurou a Folha. A tendência é que, se houver nos próximos dias alguma manifestação neste sentido, a sigla mantenha a linha mais branda da nota de ontem e não faça uma defesa direta do ex-ministro.

Em 2013, quando Dirceu, José Genuíno e Delúbio Soares foram presos pela condenação no processo do mensalão, o PT fez um ato desagravo durante o 5º Congresso da sigla, cujo tema era “Solidariedade aos companheiros injustiçados”.

PROPAGANDA

De forma breve, os petistas também trataram da propaganda do partido em rede nacional que vai ao ar na quinta-feira (6). Eles decidiram manter o formato original pensado para a propaganda, que está sendo editada e deve ser distribuída às emissoras já na tarde de quarta (5).

Como a Folha revelou, o programa será a primeira vez em que a presidente deve aparecer em rede nacional após o panelaço do dia 8 de março, durante discurso do Dia Internacional da Mulher. A ideia era tentar resgatar, novamente, a imagem da legenda, mas integrantes avaliam que a nova prisão de Dirceu contribui para um desgaste ainda maior da imagem petista.

A reunião da Executiva Nacional começou por volta de 10h40 desta terça, quando 13 dos 21 dirigentes da Executiva já estavam presentes. Entre eles, além do presidente da sigla, Rui Falcão, participam o líder petista no Senado, Humberto Costa, José Américo, secretário Nacional de Comunicação, e Florisvaldo Souza, secretário Nacional de Organização.

Falcão abriu sua fala com o destaque da nota elaborada durante a reunião, que chama a atenção para o atentado contra o Instituto Lula na última sexta-feira (31). “Fato mais grave na atual ofensiva foi o covarde atentado contra o escritório de trabalho do ex-presidente Lula”, disse.

O presidente do PT ressaltou o trecho do texto que faz uma crítica direta à imprensa sobre o tratamento dado ao caso. “A avaliação de que era pequeno artefato que não feriu ninguém dá uma dupla interpretação: primeiro, que se desejava que alguém se ferisse e, segundo, que se trata do local de trabalho do ex-presidente da República”.

Na nota, o partido reitera o discurso de que o atentado foi um ato político. “O clima de intolerância e ódio que vem sendo acirrado pelas forças conservadoras derrotadas pelas últimas eleições afronta a tradição do povo brasileiro e agrava os problemas que o país vem superando”.

NELSON BARBOSA

O ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, apareceu na reunião de hoje atendendo a um convite do próprio PT. Ele não é filiado ao partido, mas é muito próximo do ex-presidente Lula. Ele fez uma explanação da situação econômica vivida pelo país e explicou ainda detalhes do projeto de redução do superavit.

O compromisso não estava na agenda oficial do ministro até o fim da manhã, mas foi incluído após a aparição de Barbosa, que surpreendeu até mesmo os petistas com a presença surpresa.

A pauta econômica também é objeto da nota do PT. “No contexto atual, foram positivas as iniciativas recentes do governo, como o plano de proteção ao emprego e a redução da meta do superávit primário”. A nota traz ainda sugestões da cúpula petista à condução econômica, que defende um encontro da presidente Dilma Rousseff com os movimentos sociais.

Encerra a nota um chamado à militância petista a “lutar pela democracia, pelos direitos dos trabalhadores, pelos direitos humanos, em defesa da Petrobras e do povo brasileiro”. Falcão mencionou que dia 14 de agosto ocorrerá, em Brasília, um ato com o ex-presidente Lula. Também frisou a Marcha das Margaridas, dias 11 e 12 de agosto.

Maurílio Fontes

Proprietário, jornalista, diretor e responsável pelo Portal Alagoinhas Hoje

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