PSDB, o partido da Avenida Paulista, a caminho da quarta derrota nacional? – Maurílio Lopes Fontes
Em política, prever o futuro é sempre perigoso porque muitas variáveis impactam no processo eleitoral. Entretanto, a realidade dos fatos fornece aos analistas políticos parte dos elementos para avaliar o presente e, de certa forma, projetar os tempos que por estão por vir.
A eleição presidencial que acontecerá em Outubro de 2014, por sua importância para o Brasil, merece algumas considerações, registradas neste artigo com a análise das ações do PSDB.
O PSDB, partido nascido de uma banda do PMDB, em função do embate entre FHC, Mário Covas e outros políticos de São Paulo com Orestes Quércia, ex-governador de São Paulo, que eleito senador em 1974, aos 36 anos, construíra desde a vereança em Campinas, no início da década 60, uma grande identidade com as causas municipalistas.
Durante muitos anos, mesmo com a força do velho timoneiro Ulysses Guimarães na política nacional, Quércia foi o verdadeiro mandachuva do PMDB paulista. Em 1982 compõe a chapa vitoriosa ao governo estadual como vice de André Franco Montoro. Quatro anos depois, vence a eleição para comandar o Executivo do mais rico estado brasileiro.
Em 1990, elege Luiz Antônio Fleury Filho, que nunca exercera mandato eletivo. Muitas vitórias que não deixaram margem de manobra para FHC, Covas e outros políticos que sonhavam com o Palácio dos Bandeirantes e o Planalto.
No PMDB, suas ambições seriam massacradas por Quércia.
A Constituinte que começa seus trabalhos no início de 1987 é o ápice da crise entre Quércia e aqueles que queriam espaço maior na política paulista. Em 1988, surge o PSDB após o esgarçamento total da convivência partidária da seção paulista do sucessor do velho MDB de tantas glórias.
Seis anos depois de sua criação, o PSDB chega à presidência da República com Fernando Henrique Cardoso, que um ano antes da eleição presidencial não era um nome seriamente considerado para o mais alto posto político da Nação.
FHC havia disputado a Prefeitura de São Paulo e perdera o embate para o histriônico Jânio Quadros na década de 80, após sentar-se na cadeira de prefeito antes do pleito, como se já fosse o escolhido pelos eleitores paulistanos.
Ademais, FHC possuía uma trajetória intelectual mais respeitada do que sua recente carreira política. Seu primeiro ingresso no Senado acontece graças à eleição de Franco Montoro ao governo paulista em 1982. FHC era o primeiro suplente.
O poder federal vitaminou o PSDB, como é natural na política brasileira. Cargos em estatais, verbas bilionárias, controle de ministérios poderosos, vitórias em eleições estaduais, aliança com o velho PFL e uma base aliada no Congresso Nacional que não deixava margens para a oposição, capitaneada pelo PT.
A força do PSDB era tão grande, que por meios confessáveis ou não, conseguiu inserir na Constituição o instituto da reeleição para que FHC pudesse ser candidato na eleição seguinte de 1998.
Na história das constituições brasileiras, mesmo na República Velha, caracterizada pelos casuísmos dos mineiros e paulistas, a reeleição não esteve consagrada.
O feitiço virou contra o feiticeiro. O PSDB, de fato, garantiu mais um mandato e completou oito anos à frente da gestão federal. Mas seu adversário figadal, o PT, completará três períodos no comando da política nacional. Com chances de atingir o quarto, dentro das condições normais de temperatura e pressão.
O PSDB, oriundo de certa elite intelectual paulista, não conseguiu em dez anos fazer oposição e transformar suas críticas, muitas das quais bastante pertinentes, em elementos de valor para a sociedade brasileira.
O partido está distante do povo, não mantém vinculação orgânica com segmentos sociais que são importantes no processo eleitoral – sindicatos, igrejas – e mais do que isso, não consegue uma unidade interna que lhe assegure capital político para construir as estratégias visando derrotar o PT em 2014.
A briga entre mineiros e paulistas é histórica. A briga entre paulistas e paulistas é constante e o PSDB não apresenta um projeto para o Brasil.
O PSDB precisa, em primeiro lugar, apresentar um projeto para si mesmo, diminuir a conflagração interna, aparar as vaidades, construir uma união real, e não apenas discursiva, e tentar conquistar parte do eleitorado que poderá garantir-lhe a vitória.
Dilma Rousseff ganhou o segundo turno da eleição presidencial com 12 milhões de votos frente à José Serra, o representante do PSDB e de outros partidos oposicionistas. Não é muito.
Os estudos retrospectivos demonstram que o partido tem um eleitorado cativo, que oscilou no primeiro turno das eleições presidenciais entre 25% e 40%. Índices importantes, mas que não garantem a vitória na disputa subsequente, o fantasma do segundo turno, que determinou as três derrotas do PSDB frente ao PT.
Construir a unidade interna, discutir o Brasil, apresentar propostas que interessem à maioria da população e aprofundar a vinculação com segmentos formadores de opinião em todos os estados da Federação são tarefas imediatas do PSDB, que se quiser ganhar a eleição presidencial, terá que deixar de ser o partido da Avenida Paulista, exemplo máximo de algumas mazelas do capitalismo brasileiro.
Sem isso, o PSDB caminhará para sua quarta derrota nacional, que enfraquecerá a legenda e abrirá espaços para outros líderes políticos de siglas que gravitam no entorno do PT e buscarão em 2014 (?) e nas eleições seguintes a cadeira presidencial.
A margem de manobra do PSDB está ficando cada vez menor. Na política, como na vida, a fila anda. E muito rapidamente.